APLICATIVO

Usuários relatam problemas com o Zona Azul Digital

Valor mínimo exigido e falha para inserir créditos são as principais críticas

Luis Eduardo de Sousa/ [email protected]
06/07/2023 às 08:28.
Atualizado em 06/07/2023 às 08:28
Penalidade financeira por estacionamento irregular ocupa o quarto lugar na Emdec, atrás apenas de excesso de velocidade, avançar sinal vermelho e uso do celular ao volante (Alessandro Torres)

Penalidade financeira por estacionamento irregular ocupa o quarto lugar na Emdec, atrás apenas de excesso de velocidade, avançar sinal vermelho e uso do celular ao volante (Alessandro Torres)

Moradores e comerciantes de Campinas reclamam de dificuldades com a Zona Azul Digital um ano e quatro meses depois de sua implementação. Lojistas e potenciais consumidores de comércios na área central da cidade relataram que se veem em uma trincheira entre o preço praticado pelos estacionamentos particulares e a Zona Azul, que cobra menor valor pela parada, mas deixa o motorista desconfiado – com medo de ser multado por não ter conseguido a ativação.

O principal problema no aplicativo é atribuído à inserção de créditos para desfrutar do direito de estacionar. Enquanto a hora em uma vaga da zona azul custa R$ 4,00, o aplicativo exige valor mínimo de R$ 20,00 para cartões de crédito e débito e R$ 30,00 para transferência via Pix. Se o usuário tenta inserir menor valor, o aplicativo trava de vez, eliminando até a possibilidade de inserir valores maiores do que o fixado. Usuários relataram que o aplicativo volta a funcionar apenas se o celular for reiniciado, o que, dependendo do modelo, confere tempo suficiente para aplicação de uma multa.

De acordo com a Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), foram feitas 5,1 mil autuações na região central por estacionamento irregular. A penalidade para quem para no local sem ativar o rotativo é de R$ 195,23. As penalidades realizadas por estacionamento irregular ocupam quarto lugar no volume de multas aplicadas pela Emdec. Ficando atrás apenas de excesso de velocidade, avanço ao sinal vermelho e uso do celular ao volante. A multa para quem para no local sem ativar o rotativo é de R$ 195,23. Comerciantes da Rua Barão de Jaguara relataram à reportagem que é comum, quase diário, ver agentes removendo veículos no trecho entre a General Osório e a Conceição.

Em nota, a Emdec disse que reconhece o erro, mas que ele somente acontece se os valores estiverem em desacordo com o mínimo exigido. No entanto, usuários reclamam das dificuldades de creditar o aplicativo mesmo acima dos valores estabelecidos

Victor Arnold, de 21 anos, trabalha em uma cafeteria na Rua Lusitana. Ele está acostumado a ajudar pessoas que têm dúvidas sobre o aplicativo e considera que a dificuldade com o estacionamento rotativo atrapalha a clientela.

“Sempre vem gente aqui perguntar como faz para usar o aplicativo, ou se tem algum ponto para comprar sem ser pelo celular. Como as pessoas não conseguem parar aqui, acabam indo mais para o Cambuí e, por já saber da situação, não voltam.”

Em frente à cafeteria em que Arnold trabalha, o advogado João Carlos Santos, de 57 anos, estava saindo com o seu veículo e disse que aprova o sistema de Zona Azul por aplicativo, mas chamou a atenção para os ajustes necessários.

“Acho que o modelo atende, mas já tive problemas na hora de colocar o crédito. O aplicativo trava, tem que reiniciar o celular e isso leva um tempo.”

Os problemas, segundo Santos, acontecem mesmo quando ele coloca o valor acima dos R$ 20,00 estabelecido via cartão.

A Zona Azul Digital está em funcionamento desde março de 2022, quando foi inserida no aplicativo da Emdec a opção para notificar a responsável pelo trânsito sobre o estacionamento.

Na prática, a ideia era facilitar, mas os problemas envolvendo o aplicativo viraram “dor de cabeça”. Com o modelo digital, o motorista não precisa colocar o cartão no painel do veículo, como era feito desde o início do estacionamento rotativo, em 1990.

Mesmo com a digitalização, a Emdec mantém pontos de venda credenciados pela região central. Atualmente, 22 estabelecimentos realizam a inserção do estacionamento no sistema, sem precisar que o motorista volte até o veículo. Basta informar a placa e realizar o pagamento.

José Aparecido Agostinho, de 76 anos, é dono de banca de jornais há 42 anos, e vendeu talões de Zona Azul por R$ 30,00 - até que o modelo foi extinto. Ele considera que o novo modelo é importante, mas avalia que, apesar da tecnologia, o sistema precisa ser eficaz. Na banca dele, localizada na Rua Barão de Jaguara, é constante a presença de pessoas perguntando se ele vende a licença para estacionar, já que muitas pessoas não conseguem fazer pelo aplicativo. Outras sequer têm o aplicativo – principalmente idosos, de acordo com o relato, entre risos saudosistas, de Agostinho.

“Vem muita gente de fora que sequer sabe como fazer o processo. Mesmo os que sabem, sentem dificuldade. Eu preferia o modelo antigo.”

Na Google Play, loja de aplicativos para quem usa smartphone com Android, às críticas ao aplicativo dominam o campo de comentários. A avaliação é de 2,7, em uma escala de 1 a 5. A maior parte das críticas são voltadas para a função de Zona Azul. Os usuários reclamam do valor fixado, que consideram elevados, e da dificuldade de inserir o crédito.

“Coloquei créditos e mesmo assim fui multada por um agente chamado Clóvis. Perguntei se não poderia remover a multa, porque havia ativado e tratava-se de erro do aplicativo. Uma moça que estava com ele disse que não. Mais pessoas tiveram o mesmo problema”, relata uma internauta.

O empresário Dorian Lacerda, de 58 anos, usa pouco a Zona Azul. Ele acha que o estacionamento rotativo é importante e melhora o uso do solo público, e acredita que o devido aperfeiçoamento deve acontecer com o tempo. “No meu escritório – na Rua Dr. Thomas Alves – a gente não tem tanto problema porque temos estacionamento. Mas é verdade que precisa aperfeiçoar o sistema para que não haja esses ruídos, de uma pessoa parar o carro e tomar multa enquanto tenta ativar a Zona Azul. Em São Paulo melhorou bastante e acredito que em Campinas é questão de tempo para seguir o mesmo trajeto.” 

OUTRO LADO

Em nota, a Emdec disse que os problemas de erros no aplicativo somente acontecem se o usuário tentar inserir um valor abaixo do estabelecido. Disse ainda que tem implementado placas com QR Code que mostram os pontos de venda credenciados para os motoristas que não quiserem usar pelo aplicativo.

Por fim, a empresa responsável pelo trânsito informou que “a Zona Azul Digital facilita o uso pelo motorista e democratiza ainda mais o espaço público, estando na palma da mão de quem precisa”. 

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por