Alunos na sala de aula da rede municipal com as máscaras: Saúde alega que ida à escola é obrigatória, diferentemente de outros locais, como festas, que dependem da decisão dos responsáveis (Kamá Ribeiro)
A Secretaria de Saúde de Campinas emitiu uma nota técnica ontem em que define a manutenção da utilização das máscaras em locais fechados dos ambientes escolares. Com a decisão, o Projeto de Lei aprovado pela Câmara Municipal na segunda-feira, que previa a proibição da exigência do equipamento de proteção para as crianças já vacinadas com as duas doses, deverá ser vetado pelo prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos).
Nesta quinta-feira, na abertura do seminário "Todos contra o Feminicídio", Dário sinalizou que seguiria o que fosse definido pelo Comitê Municipal de Enfrentamento da Pandemia de Infecção Humana pelo Novo Coronavírus (covid-19) para decidir sobre o veto ou não do projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal, que retira a obrigatoriedade de uso da máscara. "Campinas é a cidade da ciência, da tecnologia. A decisão tem que ser técnica e não política", afirmou.
O PL original pedia a proibição da exigência para todas as crianças, não apenas as com esquema de vacinação completo. Porém, na segunda votação houve uma emenda anexada com a nova definição.
A nota técnica divulgada ontem lista diversos argumentos para justificar a decisão, como a baixa cobertura vacinal em crianças contra a covid-19 (41,3% da faixa etária entre 5 e 11 anos com duas doses) e Influenza. Outro apontamento relevante foi que, no caso das escolas, a presença é obrigatória, ao contrário de outros locais, como festas e shoppings, em que cabe à família a decisão sobre a ida das crianças.
Em relação à alta ocupação nos leitos pediátricos e neonatais, a nota mencionou a dificuldade de ampliação neste momento. Ontem eram 91 crianças internadas nas UTIs de Campinas, ocupação de 91,9%, e 26 esperando por vaga em um dos 59 leitos de enfermaria do SUS Municipal, todos já com pacientes. A alta taxa de ocupação começou a acontecer mesmo antes do período de sazonalidade, em que há um crescimento na quantidade de doenças respiratórias.
O Comitê lembrou que,nos dois últimos anos, desde o início da pandemia de covid-19, houve baixa exposição das crianças aos vírus respiratórios, o que reflete agora em um número acumulado de suscetíveis aos vírus. Como a máscara não protege apenas contra a covid-19, mas também contra as demais doenças causadas por vírus respiratórios, a proteção dos mais vulneráveis foi mais um argumento a favor da manutenção dessa medida.
Considerando todas as justificativas anteriores, a decisão do Comitê neste momento foi a favor da continuidade da medida adotada anteriormente, com o adendo de que o tema é reavaliado diariamente e que há a possibilidade de alteração "no momento oportuno, com base no controle da situação epidemiológica".
Atualmente, a cada três crianças internadas em UTIs, duas possuem algum tipo de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Das 60 crianças internadas em decorrência de problemas respiratórios, mais da metade, 32, estão com suspeita de covid-19. O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é o responsável por outras 14 hospitalizações. A ocupação nas UTIs do SUS Municipal atingiu 100% nos 34 leitos em funcionamento, enquanto está em 90% no SUS Estadual, com 18 pacientes internados e dois leitos vagos. A maior parte dos oito leitos livres está nas UTIs particulares, com 39 pacientes nas 45 estruturas, ocupação de 86,6%.
Diante dessa situação, profissionais da área de saúde já criticavam o PL aprovado na Câmara no início da semana. Na ocasião, a médica infectologista da Unicamp e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Raquel Stucchi, afirmou que o projeto se tornava um pouco menos perigoso com a adição da emenda que definiu que as crianças não vacinadas deveriam continuar com o uso de máscaras, uma vez que isso poderia ser um incentivo à procura pela vacinação pelos pais, mães e responsáveis. Entretanto, a opinião da especialista era a de que Dário deveria vetar o projeto, o que deve acontecer nos próximos dias.