CIÊNCIA A SERVIÇO DO CAMPO

Unidades da Embrapa na região de Campinas impulsionam o agro nacional

Empresa, que completou 50 anos de notáveis serviços prestados à agropecuária brasileira, mantém dois centros em Campinas e um em Jaguariúna

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
27/04/2023 às 09:30.
Atualizado em 27/04/2023 às 09:30
Graças às pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, inclusive nas unidades da região, o Brasil deixou de ser importador para se transformar em exportador mundial de alimentos (Divulgação)

Graças às pesquisas desenvolvidas pela Embrapa, inclusive nas unidades da região, o Brasil deixou de ser importador para se transformar em exportador mundial de alimentos (Divulgação)

A microrregião de Campinas tem um papel fundamental no desafio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que na quarta-feira (26) completou 50 anos. O desafio em curso é tornar a agroindústria do século 21 mais moderna, tecnificada, digital, sustentável e eficiente, voltada para o desenvolvimento de novos biocombustíveis. Das 43 unidades no país, duas estão em Campinas (Territorial e Agricultura Digital) e uma em Jaguariúna (Meio Ambiente). Juntas, elas superam a presença da Embrapa em 23 Estados. Apenas Brasília, com cinco, e Rio Grande do Sul, com quatro, abrigam mais unidades que a região, que empata ainda com o Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.

Com base no trabalho realizado pela Embrapa, a Meio Ambiente e a Agricultura Digital têm previsão de lançar em outubro o AgNest, um hub de inovação e de empreendedorismo com foco na geração de soluções digitais e sustentáveis para a agricultura. Elaborado em parceria com empresas do agronegócio, o projeto tem por objetivo promover a transferência de novas tecnologias e soluções formuladas por startups para o campo. "O AgNest será o ambiente onde a agricultura digital e sustentável vão se materializar", explica a chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Ana Paula Contador Packer.

A finalidade do hub, que começou a ser desenvolvido há dois anos, é promover o aumento da produtividade e da rentabilidade em associação com as boas práticas no âmbito da agropecuária. O público-alvo da iniciativa são os pequenos, médios e grandes produtores rurais, com base na preservação ambiental e ação social do agro, exigências do mercado mundial. "Quem não for sustentável, não vai vender", adverte Ana Paula, diante da cobrança cada vez mais rígida dos países em relação à adoção da agricultura verde, que envolve a conservação da floresta nativa e uso da tecnologia, como bioinsumos e bioinseticidas, em substituição aos fertilizantes, pesti

Ações

O AgNest sintetiza a filosofia da Embrapa, que é ação integrada e multidisciplinar de seus centros de pesquisa em busca da modernização da agropecuária. Os pesquisadores de suas unidades podem desenvolver desde projetos voltados para as regiões onde estão instaladas, como os destinados para a agricultura familiar em Valinhos e educação ambiental de estudantes da região de Campinas, ou se envolverem em trabalhos de impacto nacional.

Um exemplo é o projeto de Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) feito pela Embrapa Agricultura Digital, que tem a participação de 400 colaboradores de 34 unidades do órgão. Ele envolve a indicação da data ideal de plantio de 48 cultivares agrícolas para todos os municípios brasileiros, com dados meteorológicos e com análise dos parâmetros agrícolas. O zoneamento, que é atualizado anualmente, reduziu a sinistralidade em cerca R$ 9 bilhões em 2021, estima a Embrapa.

"Com isso, os produtores minimizam os riscos na produção, aumentando a produtividade e a rentabilidade", explica o chefe-geral da unidade de Agricultura Digital, Stanley de Oliveira. O projeto foi encomendado pelo Ministério da Agricultura e teve financiamento do Banco Central, que em 2020 fez um aporte de R$ 8,1 milhões.

"A agricultura, movida à ciência, é capaz de trazer soluções importantes e aumentar a produtividade em várias regiões", diz Oliveira. O mais recente projeto dessa unidade foi o lançamento, no último dia 11, do Centro de Ciência para o Desenvolvimento em Agricultura (CCD-AD), formulado em conjunto com outras instituições de pesquisa, para promover a transição para a agricultura digital de pequenos e médios produtores rurais.

O SemeAr, como foi batizado, receberá investimentos de R$ 25 milhões ao longo dos próximos cinco anos, para a promoção de soluções de conectividade em áreas rurais e inserção de tecnologias digitais em processos de produção agropecuária. A Secretária Estadual de Agricultura e Abastecimento de São Paulo estima que a iniciativa resultará em uma redução de 15% a 20% nos custos de produção nos próximos anos.

Dados são informações

Já a Embrapa Territorial usa a geoinformação e geotecnologias para subsidiar a formulação de políticas públicas para obter o máximo da capacidade produtiva de cada atividade agrícola de maneira sustentável. "Nós pegamos os dados e transformamos em informações para apoiar a tomada de decisões, seja do agente público ou privado", explica o chefe-geral do centro de pesquisa, Gustavo Spadotti.

A unidade, que completará 34 anos no próximo mês, montou um banco de dados riquíssimo sobre todo o País, que pode indicar novas fronteiras agrícolas a serem exploradas, ajudar a definir o plano estratégico de logística para escoamento de safras, ajudar no planejamento de investimentos de empresas e dar suporte para decisões do Exército nas áreas de assistência social e ações estratégicas militares de segurança nacional. "A sociedade está cada vez mais exigente na busca de maior produtividade com uma pegada de sustentabilidade na produção agropecuária", afirma Spadotti.

História

A Embrapa foi fundada em 26 de abril de 1973, época em que o Brasil era importador de alimentos. Meio século depois, com a participação da empresa, se tornou o maior produtor mundial de álcool, café, cana-de-açúcar e laranja, o que fez do país um ator fundamental no mercado mundial de alimentos, fibras e energia. A agricultura é hoje um dos setores que mais contribui para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O segmento é responsável por 21% da soma de todas as riquezas produzidas no País, um quinto de todos os empregos e representou 47,6% de todas as exportações brasileiras em 2022.

Foi um dos poucos segmentos da economia brasileira que apresentou crescimento positivo numa época de crise econômica. A Embrapa é a responsável pelo lançamento de novas variedades de milho, feijão,arroz, algodão, cenoura, uva e técnicas de pecuária, suinocultura e aquicultura, além de outros produtos. Os seus pesquisadores desenvolveram novas técnicas de manejo e variedades de soja adaptadas ao Cerrado brasileiro.

O resultado é que essa região, que era responsável por 20% da produção nacional da oleaginosa na década de 1980, hoje responde por 50%. O resultado desse trabalho tem contribuído para o aumento da oferta de alimentos e declínio do preço da cesta básica do brasileiro. As inovações tornaram a Embrapa uma referência mundial em agricultura tropical. Entre as suas ações estratégicas está desenvolvimento da agroenergia, que é a produção de biocombustíveis para substituir os combustíveis fósseis, que não são renováveis e agridem o meio ambiente.

Nessa área, trabalhou com o etanol de segunda geração, produzido a partir do bagaço e da palha da cana. Também atuou com o óleo de dendê, de macaúba e de pinhão manso, buscando aumentar a renda no campo e reduzir a emissão de gases de efeito estufa e os efeitos das mudanças climáticas. "Produção agrícola e preservação do meio ambiente não são excludentes. Pelo contrário, é possível aumentar a produtividade com baixo impacto ambiental. Isso traz um valor agregado, um input que beneficia o setor", diz a chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente.

Em comemoração aos seus 50 anos, o órgão federal apresentará na próxima semana, na Agrishow, uma das maiores feiras agrícolas do mundo, 16 tecnologias, produtos e serviços destinadas ao produtor rural de diferentes cadeias produtivas. Entre os projetos estão novas tecnologias para a criação e uso sustentável de abelhas-semferrão, novos cultivares de amendoim e um sistema inédito para incrementar a produção da soja e de milho safrinha. A Agrishow será realizada de 1º a 5 de maio, em Ribeirão Preto.

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