Para que disciplina seja contada como crédito, os estudantes devem se inscrever na Diretoria Acadêmica; curso estará disponível em março (Kamá Ribeiro)
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) passa a oferecer, a partir de março deste ano, uma nova disciplina com o objetivo de capacitar os estudantes de todas as áreas a entender e promover a inclusão de pessoas com deficiência (PcD). Chamada de “Disciplina Paulista de Acessibilidade e Inclusão", ela é inédita no país, de acordo com o governo do Estado, e também poderá ser cursada por alunos da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). A Unicamp também é a primeira das instituições estaduais públicas do Estado a adotar o sistema de cotas PcD.
Serão 2 mil vagas para cada universidade por semestre, com duração de dois meses e 80 horas de aula, e poderá ser acessado na plataforma digital da Univesp, oferecendo flexibilidade e acessibilidade aos estudantes. A plataforma permitirá que os alunos acessem o curso de qualquer lugar, promovendo uma experiência de aprendizado inclusiva e alinhada aos princípios de equidade e universalidade. Na Unicamp, as inscrições devem ser feitas na Diretoria Acadêmica (DAC) para que seja contado como crédito. O aluno que optar pela nova disciplina também poderá tirar dúvidas com professores e monitores. Ele fará uma avaliação sobre o conteúdo e prova ao final do curso.
A nova disciplina foi articulada pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SEDPcD) em parceria com as quatro universidades estaduais, vinculadas à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SCTI). Em resposta ao Correio Popular, a SEDPcD explicou que a "Disciplina Paulista de Acessibilidade e Inclusão", além do objetivo principal de sensibilizar e preparar futuros profissionais a compreenderem e enfrentarem os desafios relacionados à inclusão e à acessibilidade, também visa promover a eliminação de barreiras e garantir os direitos das pessoas com deficiência, além de fomentar uma cultura de valorização da diversidade humana. “Trata-se de um preparo que vai além do técnico, capacitando os profissionais para lidar com diferentes situações, como as necessidades específicas de uma criança com autismo, com empatia e competência, visando sempre a equidade no acesso a serviços e oportunidades”, enfatizou a pasta.
O programa da "Disciplina Paulista de Acessibilidade e Inclusão" aborda uma ampla gama de temas fundamentais. Entre eles, destacam-se a reflexão sobre acessibilidade e inclusão no contexto das relações sociais, a análise de barreiras físicas, atitudinais, tecnológicas e pedagógicas, e o estudo aprofundado dos direitos das pessoas com deficiência, com base na Constituição Federal de 1988 e na Lei Brasileira de Inclusão. Além disso, a disciplina abrange fundamentos históricos, legais e conceituais da inclusão, definições técnicas sobre deficiências, tecnologias assistivas e o conceito de desenho universal para a aprendizagem. Práticas pedagógicas voltadas à diversidade e discussões filosóficas e éticas sobre a inclusão também fazem parte do conteúdo, com o objetivo de formar profissionais capazes de promover uma cultura inclusiva em diferentes áreas da sociedade.
“Por meio de uma abordagem ampla e interdisciplinar, a disciplina busca sensibilizar futuros profissionais para a importância de eliminar barreiras, garantir os direitos das pessoas com deficiência e fomentar uma cultura que valorize a diversidade humana. Além disso, visa preparar os alunos para aplicar conceitos de acessibilidade, tecnologia assistiva e desenho universal em suas áreas de atuação, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva”, mencionou o Estado em nota divulgada.
“Essa disciplina é mais uma parceria da SEDPcD com as universidades paulistas, reafirmando nosso compromisso com a inclusão e a acessibilidade. No ano passado, avançamos com a assinatura de editais de pesquisa de tecnologia assistiva, com 52 projetos, e o lançamento de três Centros de Ciência para o Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva. Agora, damos mais um passo importante ao integrar esses temas na formação de nossos futuros profissionais, promovendo uma sociedade mais acessível e equitativa”, destacou o secretário dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Marcos da Costa.
“A acessibilidade e a inclusão não são privilégios. São direitos e, com a Disciplina Paulista de Acessibilidade e Inclusão, damos um importante passo para garantir que esses direitos sejam plenamente respeitados e incorporados em todos os setores da nossa sociedade”, enfatizou Marcos da Costa.
A ação surge como parte de iniciativas da Pasta estadual em parceria com as universidades que buscam incentivar a formação de profissionais preparados para atender as pessoas com deficiência. Somente no Estado de SP mais de 3,3 milhões de pessoas, segundo dados do Observatório dos Direitos da Pessoa com Deficiência.
A novidade foi elogiada pela secretaria municipal de Desenvolvimento e Assistência Social, Vandecleya Elvira do Carmo Silva Moro. Para ela, tudo que dê visibilidade sobre o tema é de extrema importância, tanto para o poder público como para os futuros profissionais que saem das universidades para o mercado de trabalho. “É importante conhecer os direitos e as dificuldades pelas quais as pessoas que tenham algum tipo de deficiência passam. Isso é fundamental para que se apresentem propostas em diversas áreas, saúde, trabalho e educação. Temos de ter uma visão plena sobre o assunto. Não é possível falarmos em uma sociedade justa sem a inclusão”, disse Vandecleya.
COTAS
No ano passado, em uma decisão histórica, o Conselho Universitário (Consu) aprovou por unanimidade a adoção de um sistema de cotas para estudantes com deficiência para ingresso nos cursos de graduação da Unicamp. Pela decisão, ficou estabelecido a reserva de vagas para pessoas com deficiência em cada curso de graduação, sendo uma ou duas vagas por curso, ou até 5% do total de vagas, em caso de vagas adicionais.
As vagas foram disponibilizadas no Edital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), sendo aberta a possibilidade de participação tanto para candidatos de escolas públicas quanto privadas. A nova regra passou a valer para o ingresso deste ano.
Pela proposta aprovada, candidato deve informar o tipo de deficiência e anexar documentos médicos que venham a ser solicitados na inscrição. A partir daí, caberá à Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest) organizar uma junta de especialistas para fazer uma avaliação biopsicossocial do candidato e validar os documentos médicos apresentados. Essa junta será composta por profissionais especializados de áreas diversas.
A adesão das unidades ao programa terá um cronograma a ser seguido. Em até dois anos, devem aderir as unidades que não demandam adaptações significativas, como a construção de laboratórios e a aquisição de equipamentos mais complexos. Em um prazo máximo de até três anos, devem aderir as que exigem algum tipo de adaptação. Por fim, em até cinco anos aquelas que terão de promover adequações complexas, como a construção de laboratórios.
De acordo com dados da Diretoria Executiva de Permanência Estudantil (Deape), a Unicamp contava até o ano passado com 123 alunos que pediram atendimento especializado para os órgãos de apoio da Universidade. Desses, 90 pertenciam ao chamado espectro autista.
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