PESQUISA

Unicamp mapeia etanol a partir da laranja

Estudo na Universidade Estadual de Campinas tenta viabilizar geração do combustível pelo bagaço

Adriana Leite
31/05/2013 às 05:17.
Atualizado em 25/04/2022 às 13:56

O Brasil é um dos maiores produtores de laranja do mundo e da fruta tudo pode ser aproveitado. Além do suco, os óleos essenciais da casca são utilizados pela indústria de cosméticos e o resíduo do processo industrial se transforma em ração. Mas o bagaço da laranja também é fonte de extração do etanol de segunda geração, que poderá, no futuro, abastecer os tanques dos veículos e ser usado na fabricação de licores.

Pesquisa do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) gerou o produto por meio do melhoramento do processo de hidrólise. As pesquisadoras responsáveis pelo estudo estão solicitando a patente do método.

A expectativa é que em dois anos seja possível começar a produzir em escala industrial o bioetanol. A orientadora do estudo elaborado por três pesquisadoras da Unicamp, Ljubica Tasic, afirma que uma das maiores indústrias de concentrado de suco do País está interessada em fabricar o produto. As pesquisadoras buscam recursos de uma linha de financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para a criação de uma planta-piloto do etanol de segunda geração de bagaço de laranja.

"O bagaço de cana é usado hoje essencialmente para a composição da ração animal e adubo. Mas ele é um material importante que pode ser utilizado para geração de outros produtos nobres como o bioetanol", comenta. Ela afirma que o etanol de bagaço de laranja resultante do processo elaborado por meio da tese apresentada pela paquistanesa Almas Taj Awan e dos estudos iniciados por Diana Martiniak Firbida e Junko Tsukamoto é mais limpo do que o obtido em outros métodos.

Ljubica diz que o bioetanol pode ser utilizado para o abastecimento de veículos. Mas que a qualidade do produto credencia o material para usos mais específicos como etanol técnico e na formulação de bebidas. "O bioetanol pode ser usado até na elaboração de licores", diz a professora. A docente do instituto afirma que as cascas e bagaços de diversas frutas têm demanda a fabricação de produtos em diversos segmentos econômicos.

Pesquisa

A orientadora da tese "Bagaço de laranja como biomassa de segunda geração" afirma que o método utilizado na pesquisa revelou que o uso do micro-organismo Xanthomonas axonopodis pathovar citri (Xac) potencializa a geração do bioetanol gerado por meio do bagaço de laranja.

"O objetivo foi aprimorar o processo realizado por meio da hidrólise analisando o método clássico, a aplicação de enzimas comerciais e o Xanthomonas axonopodis pathovar citri (Xac)", comenta. O trabalho versou sobre a obtenção do bioetanol do bagaço de laranja utilizando a hidrólise ácida e a enzimática.

No estudo, a escolha do micro-organismo Xanthomonas axonopodis pathovar citri (Xac), que é o fitopatógeno causador do cancro em cítricos, aconteceu porque ele possui várias enzimas hidrolases e o custo é mais baixo do que outras enzimas industriais. As pesquisadoras verificaram que o processo gerou uma mistura de açúcares que era passível de fermentação pelas enzimas da Xac. Por meio de leveduras (duas isoladas do bagaço e uma convencional), o produto foi transformado em bioetanol. "O Brasil tem um grande potencial para produção do etanol de bagaço de laranja" , pontua.

Ela comenta que metade da fruta acaba sendo descartada no processo de fabricação do suco de laranja e que a indústria dá uma destinação, como a produção de rações para animais ou adubo para plantação. "Em outras partes do mundo, há estudos sobre o etanol obtido do bagaço da laranja por outros métodos diferentes do que desenvolvemos com a Xac. O processo é uma inovação que barateia o custo da fabricação do bioetanol. O objetivo também é gerar um produto mais limpo e verde" , diz.

Potencial

No estudo, as pesquisadoras afirmam que no ano de 2011 foram produzidas 19 milhões de toneladas da fruta no País. O Estado de São Paulo foi responsável por 15 milhões de toneladas. De acordo com a tese, os resíduos do processo de fabricação do suco correspondem por 50% da laranja. O resíduo lignocelulósico tem grande potencial econômico. Segundo a análise, o volume de bagaço há dois anos chegou a 9,5 milhões de toneladas. Com a técnica empregada pelas pesquisadoras, o rendimento foi de 60% e a quantidade chegaria a 1,14 milhão de toneladas de etanol.

Momento ruim

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), divulgou pesquisa nesta semana mostrando que o cenário da citricultura não é nada animador. De acordo com o estudo, nos últimos dois anos, 2.225 propriedades deixaram de cultivar citros no Estado de São Paulo. A redução foi de 12%, segundo informações da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA).  

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