Universidade recebe recursos financeiros da OMS para ampliar pesquisa em maternidades
A professora Maria Laura, uma das coordenadoras do estudo sobre o impacto da covid sobre as gestantes (Kamá Ribeiro/ Correio Popular)
A convite da Organização Mundial da Saúde (OMS), um grupo de professores e pesquisadores de Campinas vai coordenar um estudo sobre os impactos da covid-19 na gestação. A pesquisa será feita em quase 30 maternidades do Brasil ligadas a universidades. Além do Brasil, o estudo também será realizado na Argentina, Chile, Índia, Bangladesh, Irã e Quênia. Os pesquisadores campineiros são ligados à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Eles lideram a partir do Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), também da Unicamp, uma rede brasileira de estudos em Saúde Reprodutiva e Perinatal.
Desde o início da pandemia, a Rede Brasileira em Estudos da Covid-19 em Obstetrícia (Rebraco) coleta amostras e dados para entender como o Sars-CoV-2 pode afetar gestantes e recém-nascidos. "A gente já tinha uma estrutura montada de parceria entre várias maternidades e isso possibilitou inúmeros estudos em morbidade materna, prematuridade, entre outros. Então diante da pandemia esse grupo de pesquisadores se reuniu com a coordenação do grupo da Unicamp para iniciar uma pesquisa de covid e gestação", conta a professora do Departamento de Obstetrícia da FCM da Unicamp e uma das coordenadoras do estudo, Maria Laura Costa do Nascimento.
A primeira etapa do trabalho contou com recursos do Fundo de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Faepex), da Pró-Reitoria de Pesquisa da Unicamp, e de outros editais e agências de fomento, permitindo o acompanhamento de gestantes e coleta de dados em 16 maternidades da rede ao longo de 2020, porém para alcançar outras futuras mães, o estudo precisa de mais apoio.
É nesse ponto que entra o incentivo da OMS. A partir de agora, os pesquisadores vão contar com investimento inicial de 220 mil dólares vindos da entidade. Quantia que será utilizada principalmente para preparar as 10 maternidades e equipes selecionadas para participar da segunda fase do estudo, com foco na aplicação de um protocolo genérico elaborado pela OMS, que será adaptado à realidade de cada centro. A expectativa é receber ao menos mais 800 mil dólares da entidade ao longo dos próximos dois anos, para poder acompanhar gestantes e bebês durante o pré-natal, parto e puerpério, que é o período de até seis semanas após o parto.
Entre os dados coletados na primeira fase do estudo, chama atenção que apenas 50% das gestantes com sintomas de infecção pelo novo coronavírus estão sendo testadas nas maternidades participantes. Segundo Maria Laura, o ideal seria, conforme recomendado pelo Ministério da Saúde, realizar a testagem universal, ou seja, testar todas as mulheres que internam para parto, independente da presença de sintomas.
"Grande parte das maternidades não têm estrutura para realização de testes relacionados à covid-19 e apenas conseguem realizar os testes em casos de internação. Esse problema acaba sendo um limitante para que possamos entender a prevalência da doença em um grupo de risco como é o das gestantes", lamenta.
Até setembro de 2020, entre as maternidades da Rebraco, apenas o Caism teve condições de realizar a testagem universal. "Todas as mulheres internadas para o parto, independentemente de terem sintomas relacionados à covid ou não, são testadas", relata Maria Laura.
Boa parte dos recursos da OMS na pesquisa serão usados para ampliar a testagem nas maternidades participantes. Para isso, serão realizados testes sorológicos, que indicam se a gestante já teve contato com o coronavírus, e testes de PCR, que revelam a infecção ativa.