EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

Unicamp é laboratório vivo de tecnologia pró-sustentabilidade

Campus de Barão Geraldo pratica 10 ações direcionadas à preservação ambiental

Edimarcio A. Monteiro
27/05/2022 às 20:12.
Atualizado em 28/05/2022 às 09:57
Campus Sustentável contempla sistemas de painéis solares fotovoltaicos para a geração de energia elétrica, já instalados em vários prédios (Divulgação Unicamp)

Campus Sustentável contempla sistemas de painéis solares fotovoltaicos para a geração de energia elétrica, já instalados em vários prédios (Divulgação Unicamp)

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma das mais importantes do País, tem dez ações para preservação do meio ambiente, em diferentes estágios de desenvolvimento. Elas integram o projeto Campus Sustentável, que transformou o campus de Barão Geraldo em um laboratório vivo de tecnologia em busca de eficiência energética e uso de energia limpa e renovável.

Essas ações levaram a Unicamp a ficar entre as 200 universidades do mundo mais comprometidas com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU). O ranking Impacts foi elaborado pela consultoria britânica Times Higher Education (THE), que avaliou 1.406 instituições de ensino superior de 106 países.

No Brasil, a Unicamp está em segundo lugar, superada apenas pela Universidade de São Paulo (USP). A liderança mundial ficou com a universidade australiana Western Sydney. 
Iniciado em agosto de 2017, o Campus Sustentável é desenvolvido em conjunto com 30 parceiros, entre eles empresas, órgãos públicos e instituições nacionais e internacionais.

As ações em andamento em vários pontos do campus estão em constante evolução e têm uma meta arrojada e audaciosa. “Nosso objetivo é ser a universidade mais sustentável da América Latina. Com certeza, queremos estar em primeiro lugar e isso significa ações internas e o desejo que se expressam no ranking, no reconhecimento internacional”, afirma o reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles.

Ações

O maior projeto em andamento do Campus Sustentável contempla sistemas de painéis solares fotovoltaicos para a geração de energia elétrica, que já estão instalados nos prédios do ginásio multidisciplinar, da Faculdade de Engenharia Elétrica, no Centro de Estudos de Petróleo, Museu Exploratório de Ciências, Faculdade de Engenharia Civil e da Escola de Extensão (Extecamp). A Unicamp produz hoje 534 kWp (quilowatt-pico, padrão de medida de geração fotovoltaica), eletricidade suficiente para abastecer um bairro de até 450 casas durante 12 meses.

Desenvolvido em parceria com a CPFL e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o projeto recebeu investimentos de R$ 11 milhões e reduziu em 5% o consumo de energia elétrica da universidade. O percentual pode parecer pequeno, mas representa uma economia de R$ 5 milhões por ano na conta de luz. Além disso, envolve pesquisas com o uso de diferentes módulos fotovoltaicos, avaliação de desempenho, medição de radiação solar, entre outras áreas.

O projeto mais recente foi apresentado no final de abril, em parceria da Unicamp com a Comgás para o fornecimento de gás natural encanado em substituição ao gás liquefeito de petróleo (GLP) e óleo diesel em seis unidades de Campinas, o que resultará em uma economia de R$ 200 mil por ano. A empresa investiu R$ 2 milhões na instalação de 4,2 quilômetros de rede distribuição.

O coordenador geral do Campus Sustentável, professor Luiz Carlos Pereira da Silva, ressalta que as ações desenvolvidas cumprem as metas do desenvolvimento sustentável, que são economia de recursos, uso de energia renovável e limpa e redução dos impactos ambientais. No caso do uso do gás natural, a redução é de 10,1% nas emissões de gases causadores do efeito estufa pela universidade em um ano. 

Outros dois projetos são mais visíveis para a comunidade universitária. Um deles é o uso de um ônibus elétrico para transportar gratuitamente estudantes, funcionários, professores e outras pessoas que circulam diariamente pelo campus de Barão Geraldo. A meta é que os cinco veículos a diesel que também realizam esse serviço sejam substituídos, em oito anos, por modelos elétricos.

Além de reduzir a poluição atmosférica e sonora, o ônibus já em uso é equipado com vários sensores que coletam informações como origem e destino dos passageiros, qualidade do ar e nível de vibração e ruído. O projeto conta com um eletroposto sustentável, contendo geração fotovoltaica própria e sistema de armazenamento de energia.

Com o apoio de um consórcio de empresa, a Unicamp instalou recentemente um quiosque fotovoltaico em que os estudantes podem ser reunir e, ao mesmo tempo, recarregar seus equipamentos, como celulares, notebooks e tablets, com eletricidade gerada pela luz solar. As estudantes de midialogia Georgia Tribist de Oliveira e Laura de Almeida usaram o espaço pela primeira vez e aprovaram. “Ficou muito legal”, diz Georgia.

Agente multiplicador

O Campus Sustentável conta com uma equipe multidisciplinar, que vai de engenheiros e arquitetos a geógrafos e outros especialistas para elaboração e acompanhamento dos projetos. Assim, além de atuar na preservação do meio ambiente, a Unicamp cumpre seu papel como universidade, que é ensino, pesquisa, inovação e extensão.

A proposta é que as experiências mostrem a sua viabilidade, a partir da eficiência comprovada, e ecoem para fora de seus limites, com a implantação dos projetos também por outras instituições, municípios e empresas. Mais do que isso, envolver os estudantes, formar profissionais, líderes políticos e empresariais comprometidos com o desenvolvimento sustentável. “O contato com as novas tecnologias pode gerar uma mudança de comportamento que envolva o uso de energias renováveis e outras novas soluções”, afirma o coordenador do Campus Sustentável.

Luiz Carlos Silva explica que os próximos passos para 2023 envolvem o uso de recursos da própria Unicamp em ações de eficiência energética e preservação ambiental. Entre elas, a substituição de todas as lâmpadas por outras de LED, além da substituição dos aparelhos de ar-condicionado, alguns em uso há 40 anos, por equipamentos novos e mais eficientes. A estimativa é que essas ações gerem uma economia de R$10 milhões por ano.

A universidade também iniciará a recuperação ecológica da Fazenda Argentina, que faz parte do campus, com recuperação das nascentes e dos corredores ecológicos, que são importantes para o tráfego de animais, como lobo-guará e onça-parda. 

Os projetos serão implantados nas outras unidades da Unicamp: os campi de Limeira, Piracicaba, Colégio Técnico da Unicamp (Cotuca), Colégio Técnico de Limeira (Cotil) e o Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA), em Paulínia.

Para o reitor, o futuro da Unicamp passa pelo Campus Sustentável. “A importância disso é falar para o mundo, pois os grandes países estão antenados com a agenda 2030 da ONU. Vamos dizer que é um objetivo meio egoísta, mas a Unicamp depende disso para ser cada vez mais reconhecida e ela tem todo potencial para isso”, afirma Meirelles.

AÇÕES DO CAMPUS SUSTENTÁVEL

Geração fotovoltaica de energia

Visa reduzir a compra de energia da universidade, incentivar e divulgar a área de geração fotovoltaica no País e estabelecer um laboratório vivo para pesquisa, treinamento e formação de técnicos e especialistas em geração de energia fotovoltaica.

Minicentro de operações

É uma unidade inteligente que monitora o consumo real e diário de cada unidade da universidade.

Mobilidade elétrica

Envolve o uso do ônibus elétrico, que conta com um eletroposto sustentável. Eles contam com um amplo sistema de monitoramento em tempo real, o que permitirá a análise e a proposição de soluções para a mitigação de problemas socioambientais, técnicos e econômicos devido à utilização dessa tecnologia em ambientes urbanos.

Eficiência energética

Envolve a troca dos aparelhos de ar-condicionado por equipamentos mais eficientes e das lâmpadas comuns por LED. Os condicionadores representam o maior percentual de consumo na conta de energia elétrica em edificações, entre 35% e 60%, dependendo da tecnologia, porte, atributos do local instalado e do regime de uso.

Uso de gás natural

Uso de gás natural encanado, em substituição ao gás liquefeito de petróleo e diesel, usado em seis prédios para cozinhar alimentos, aquecimento e em caldeiras.

Gestão de Iot (internet das coisas)

Desenvolvimento de uma ferramenta para gestão de energia na Unicamp, integrando oferta e demanda com o conceito de Smart Efficiency (Eficiência Continuada).

Etiquetagem de edifícios

Controle da eficiência energética de cada unidade seguindo método recomendado pelo PBE-Edifica (Programa Brasileiro de Etiquetagem para Edificações).

Contratação de energia

A Unicamp é a única universidade brasileira que se encontra no Mercado Livre de Energia como Consumidora Livre, desde 2002. O subprojeto gera informações, dados, metodologias e boas práticas para auxiliar na contratação de energia de acordo com a demanda, sazonalidade e previsão futura de carga para redução dos gastos.

Capacitação

Busca aprimorar e capacitar os profissionais do futuro, por meio da divulgação do conhecimento técnico-acadêmico obtido com os projetos desenvolvidos.

Microrredes

Uma microrrede pode ser definida como uma rede local de distribuição e consumo de energia elétrica que pode operar autônoma e isoladamente do sistema de distribuição da concessionária.

Procel

Busca de recursos do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) para o desenvolvimento de projetos de eficiência energética.

Câmara técnica

Grupo de trabalho reunindo docentes e colaboradores com expertise nos temas específicos de energia e planejamento para elaborar um Programa de Gestão de Energia nos campi da Unicamp, com o objetivo de reduzir o consumo de energia.

Fonte: Campus Sustentável

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