RESGATE

Unicamp cria comissão da verdade para apurar abusos

Grupo vai investigar ocorrências contra professores, funcionários e estudantes na ditadura militar

Bruna Mozer
15/10/2013 às 11:13.
Atualizado em 25/04/2022 às 00:28
Resultado da apuração será submetido às instâncias estadual e nacional ( Cedoc/RAC)

Resultado da apuração será submetido às instâncias estadual e nacional ( Cedoc/RAC)

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) criou um grupo para investigar fatos que tenham resultado em violações de direitos humanos praticados contra docentes, alunos e funcionários durante a ditadura militar. Os trabalhos serão conduzidos pela Comissão da Verdade e Memória Octavio Ianni, recentemente instituída por portaria assinada pelo reitor José Tadeu Jorge.O início dos trabalhos está marcado para a próxima quinta-feira, a partir das 9h30, no auditório do Instituto de Economia (IE). Segundo o coordenador-geral da Unicamp, professor Alvaro Crósta, a comissão foi criada por causa de indícios de que houve violações contra direitos humanos dentro da universidade. “Temos reportagem veiculada no jornal da Unicamp em 2004 que revelam alguns nomes de vítimas da repressão. Queremos resgatar essas informações”, disse o professor.Ele afirmou que a Unicamp reconhece a necessidade de investigar eventuais atos de arbitrariedade cometidos durante o regime militar contra docentes, alunos e funcionários da instituição. Como a Comissão Nacional da Verdade que foi aprovada pela presidente Dilma Rousseff, os trabalhos não têm a condição de punir ou levar à Justiça os culpados, mas somente de documentar e esclarecer informações.Como objetivo adicional, acrescentou o coordenador-geral, também se espera que os trabalhos da comissão “tenham um efeito pedagógico, cumprindo assim o papel da universidade pública e dando sua contribuição no sentido de evitar que o Brasil nunca mais passe por momentos de exceção, como aqueles ocorridos entre 1964 e o momento de sua redemocratização”.Segundo a professora Maria Lygia Quartim de Moraes, presidente da comissão, esse tipo de investigação quer estabelecer de que forma ocorreram os fatos para que seja possível o restabelecimento da verdade. “O intuito é dar voz aos que foram calados”, disse Maria Lygia.Nesse sentido, os depoimentos e testemunhos devem permitir que perseguidos pela repressão possam finalmente romper o silêncio. “Assim, trata-se também de um processo de transmissão da história”, disse. A presidente da comissão adianta que os trabalhos serão conduzidos com transparência, da mesma forma como faz a Comissão da Verdade Rubens Paiva, da Assembleia Legislativa de São Paulo.Conforme a portaria assinada pelo reitor Tadeu Jorge, o grupo está autorizado a recolher depoimentos, informações e documentos assegurando, sempre que requerida, a não identificação do informante; a requisitar informações e documentos de todos os órgãos da universidade e a convidar professores, funcionários e alunos que tenham vivenciado situações específicas de violações de seus direitos civis dentro da universidade ou fora dela.Também serão atribuições da comissão o encaminhamento às Comissões da Verdade em âmbito nacional e estadual as informações obtidas; recomendar a adoção, no âmbito da Unicamp, de medidas e políticas destinadas a prevenir a violação de direitos humanos, inclusive propiciando elementos para a eliminação de possíveis resquícios do AI-5 ainda presentes nas normas da universidade e elaborar relatório que contenha os resultados de seu trabalho de investigação dando ampla divulgação a esse texto.

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