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Unicamp contesta uso de hidroxicloroquina

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) rechaçou, em nota assinada pela Reitoria, o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina (HCQ)

Francisco Lima Neto
11/04/2020 às 09:10.
Atualizado em 29/03/2022 às 16:17

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) rechaçou, em nota assinada pela Reitoria, o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina (HCQ) para o tratamento de pacientes acometidos pela Covid-19. A universidade aponta que não há evidências científicas que atestem a eficácia do medicamento no tratamento da doença. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem insistido nas últimas semanas para que o medicamento seja prescrito aos pacientes durante a pandemia. Na nota, a Unicamp reitera o seu compromisso com a ética e com a ciência na busca por soluções que atendam o adequado acolhimento do paciente, o diagnóstico preciso e a melhor terapêutica, visando minimizar os efeitos da pandemia da Covid-19. A universidade afirma que no Brasil e no mundo há uma busca incansável por medicamentos eficazes para o tratamento dos doentes e ressalta que essa busca deve ser pautada exclusivamente pela pesquisa conduzida seguindo métodos científicos bem estabelecidos, com protocolos claros e subordinados a valores éticos. "Assim, no que diz respeito a declarações sobre o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina (HCQ) para o tratamento da Covid-19, isoladamente ou em associação com azitromicina (HCQ + AZT), a Unicamp, ouvindo especialistas na área, de dentro e de fora da instituição, e amplamente amparada por estudos científicos sobre o tema, corrobora as recomendações dos órgãos sanitários e da comunidade médico-científica mundial de que não há, até o momento, evidência científica suficiente baseada em ensaios clínicos com humanos sobre a eficácia desses medicamentos para o tratamento da doença causada pelo novo coronavírus". A Unicamp salienta que editorial de 08 de abril de 2020 da British Medical Journal, uma das publicações mais respeitadas do mundo, reitera que o uso da cloroquina e seus derivados na Covid-19 é prematuro e potencialmente prejudicial devido a efeitos colaterais amplamente conhecidos pela comunidade médica. De acordo com a universidade, medicamentos como a HCQ têm efetivamente sido usados para pacientes portadores de malária ou doenças autoimunes e que, no momento, a administração de cloroquina e seus derivados para a Covid-19 deveria ocorrer apenas em ensaios clínicos. "Não há, portanto, indicação formal dos mais respeitados órgãos de saúde pública do Brasil e do Exterior para o uso profilático ou doméstico desses fármacos sem a estrita supervisão, responsabilidade médica e concordância explícita dos pacientes", salienta. Ainda de acordo com a Unicamp, os pedidos para uso do medicamento não encontram sustentação técnica. "As manifestações de apoio ao uso da HCQ se baseiam em evidências frágeis, não apoiadas por investigações sólidas que devem ser fundamentadas em ensaios controlados. A universidade, como centro do conhecimento, deve sempre recomendar indicações e propostas que valorizem a razão científica em lugar de soluções intuitivas e crenças, que apesar de geralmente bem intencionadas podem estar eventualmente equivocadas", conclui. Bolsonaro Jair Bolsonaro fez pronunciamento em rede nacional de rádio e TV, na noite de quarta-feira, no qual afirmou que o Brasil irá receber da Índia, até hoje, matéria-prima para produzir a hidroxicloroquina. O presidente afirmou que, nos últimos 40 dias, após ouvir médicos, pesquisadores e chefes de Estado, passou a divulgar a possibilidade de tratamento da Covid-19 desde a fase inicial da doença. Bolsonaro citou a conversa com o médico cardiologista Roberto Kalil, que afirmou que usou o medicamento e também o prescreveu para dezenas de pacientes. “Todos estão salvos”, contou.

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