CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Unicamp atinge 212 contratos de transferência de tecnologia

Técnicas são repassadas às empresas, gerando riqueza e empregos para o país

Luiz Felipe Leite/[email protected]
17/09/2024 às 07:09.
Atualizado em 17/09/2024 às 09:10
Os pesquisadores Gustavo Paim Valença (dir) e Lucídio Cristovão Fardelone desenvolveram tecnologia que foi
licenciada no segmento de biocatalisadores: conhecimento que gera inovação e riqueza (Pedro Amaruzzi/Inova Unicamp)

Os pesquisadores Gustavo Paim Valença (dir) e Lucídio Cristovão Fardelone desenvolveram tecnologia que foi licenciada no segmento de biocatalisadores: conhecimento que gera inovação e riqueza (Pedro Amaruzzi/Inova Unicamp)

A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) alcançou a marca histórica de 212 contratos de transferência de tecnologia simultaneamente ativos. Esse número representa o compartilhamento de conhecimentos técnicos para aplicação comercial ou industrial, independentemente da existência de uma patente. É o maior registro desde a criação da Agência de Inovação Inova Unicamp, o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da universidade, em 2003.

Somente em 2023, foram formalizados 26 novos contratos em diversas áreas do conhecimento, um aumento de 13% em relação ao ano anterior, que contabilizou 23 novos acordos. As novas transações, juntamente com os contratos assinados em anos anteriores ainda vigentes, resultaram em mais de R$ 1,7 milhão em ganhos econômicos. Esse montante inclui valores provenientes de contratos e do licenciamento de tecnologias, como royalties e taxas de acesso à tecnologia, entre outros.

Os dados, referentes ao ano passado, foram divulgados no início de setembro e integram o Relatório Anual da Inova Unicamp 2023.

Segundo o diretor-executivo da Inova Unicamp, professor Renato Lopes, os setores de biologia e engenharia elétrica se destacaram positivamente. "Há uma demanda do mercado devido à efervescência econômica desses segmentos, além dos pesquisadores estarem atentos às possibilidades de desenvolvimento de novas tecnologias nessas áreas", afirmou. "Na biologia, podemos destacar tecnologias relacionadas ao estudo da covid-19 e ao agronegócio, entre outras aplicações. Já na engenharia elétrica, temos trabalhos que abordam questões como telecomunicações e transição energética. São áreas com muitos investimentos e as empresas estão atentas a isso."

O professor Lopes também destacou outros fatores que explicam os números apresentados no relatório da Inova Unicamp, como a dedicação e a qualidade dos pesquisadores da Unicamp, além da melhoria dos processos da Agência, alinhados à missão de estimular a inovação e o empreendedorismo tecnológico na universidade. "A Inova Unicamp é um elo entre a Unicamp e a sociedade, promovendo ações estratégicas que conectam os ativos de propriedade intelectual, frutos da pesquisa acadêmica, com instituições e empresas parceiras. Essa conexão permite levar soluções concretas desenvolvidas na universidade para a sociedade, transformando conhecimento em inovação que gera impactos socioambientais e econômicos positivos."

OPORTUNIDADES

A transferência de tecnologia tem se mostrado uma ferramenta poderosa para a inovação. Um exemplo notável é a automatização do neurolocalizador, um equipamento projetado para localizar nervos específicos no corpo de um paciente. O dispositivo emite pulsos elétricos através de uma agulha não isolada eletricamente, inserida no corpo do paciente. À medida que a agulha se aproxima do nervo, os pulsos elétricos provocam movimentos no nervo, facilitando sua localização. A inovação reside na capacidade do equipamento de ajustar a corrente elétrica conforme se aproxima do nervo, emitindo menos pulsos e, assim, aprimorando a precisão da localização. Após a identificação do nervo, um anestésico é administrado pela mesma agulha, permitindo a realização de procedimentos cirúrgicos com maior eficácia.

Este protótipo foi desenvolvido pelo engenheiro eletricista Carlos Alexandre Ferri, como parte de seu mestrado na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, sob a orientação do professor Antônio Augusto Fasolo Quevedo. O contrato de exploração da patente foi assinado com os sócios da SDAMed, uma empresa especializada em equipamentos eletromédicos para medicina veterinária, atualmente sediada em Paulínia e criada no programa de incubação da Incubadora de Empresas de Base Tecnológica (Incamp) da Unicamp, gerenciada pela Inova.

Segundo Glauco José Rizzanti Pereira, diretor de Tecnologia da SDAMed e engenheiro eletricista formado pela Unicamp, a tecnologia tem potencial para ser aplicada tanto no mercado veterinário quanto em humanos. "A tecnologia oferece anestesia regional com mais praticidade e segurança ao médico anestesiologista, reduzindo o risco de efeitos colaterais e acelerando o pré-operatório", explicou.

Glauco José Rizzanti Pereira, diretor de Tecnologia da SDAMed, enfatizou que as transferências de tecnologia são uma forma de retribuir à sociedade o investimento feito na Unicamp, financiada pelos contribuintes. "Quando a Unicamp começa a gerar receita com patentes licenciadas para a indústria, aplicando descobertas feitas na universidade em benefício do mercado e da população, isso representa um retorno do investimento público na instituição. Além disso, é importante destacar que a SDAMed é uma empresa de pequeno porte e não possui infraestrutura própria de ponta para o desenvolvimento de tecnologias. Para uma empresa ter um centro de pesquisa próprio, é necessário um orçamento e uma escala muito maiores do que os nossos. Por isso, parcerias como a que fizemos com o apoio da Inova Unicamp são essenciais", afirmou.

Outro exemplo de sucesso é a BioAcids Tech Brasil, uma spin-off acadêmica criada para explorar uma tecnologia desenvolvida na Unicamp. A empresa, que se dedica à produção de ácidos orgânicos a partir de fontes renováveis, foi incubada na universidade e atualmente está sediada no Parque Científico e Tecnológico da instituição.

Kurts Campos, engenheiro químico formado na Unicamp e sócio-fundador da BioAcids Tech Brasil, comentou sobre a transferência de tecnologia intermediada pela Inova, envolvendo os professores Gustavo Paim Valença, da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp (FEQ), e Lucídio Cristovão Fardelone, da BioAcids Tech Brasil. Eles são os inventores de um projeto inovador na área da biotecnologia.

A tecnologia em questão envolve a imobilização de células e enzimas para criar biocatalisadores que aceleram reações químicas, resultando em diversos produtos para as indústrias de medicamentos, alimentos, biocombustíveis, cosméticos, entre outras. Esses biocatalisadores são altamente resistentes e elásticos, garantindo durabilidade, segurança e uma ampla gama de aplicações. Além disso, podem ser reutilizados várias vezes, o que é vantajoso tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental. 

Kurts Campos, sócio-fundador da BioAcids Tech Brasil, destacou que essa tecnologia permitirá, por exemplo, a produção mais eficiente de ácido lático, amplamente utilizado na indústria alimentícia como conservante e agente de sabor, bem como na produção de produtos de beleza e cosméticos devido às suas propriedades esfoliantes e hidratantes. "Trabalhei por um período na iniciativa privada, em empresas de biotecnologia. Durante esse tempo, mantive contato com meu ex-professor Gustavo Paim, que me indicou este projeto. A transferência de tecnologia foi tranquila, pois a universidade reconheceu a importância de levar essa inovação ao mercado rapidamente", explicou Campos.

Campos também comentou sobre os impactos mais amplos da transferência de tecnologia, que vão além dos ganhos econômicos para as empresas. "Na minha avaliação, grandes empresas e empresários tendem a investir muito no exterior, enquanto no Brasil há muitas oportunidades interessantes. Vale a pena prestar mais atenção na produção científica nacional. Além disso, os estudantes precisam enxergar os projetos com causas sociais atreladas. Toda pesquisa que gera conhecimento para a indústria nacional é uma causa social. Portanto, se você está na universidade pesquisando algo que melhore a indústria brasileira, está contribuindo para a sociedade", concluiu.

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