A cobrança pelas cotas é encabeçada pela frente pró-cotas da Unicamp e também uma das pautas do movimento de greve e ocupação dos estudantes.
Alunos se reúnem para protesto contra casos de racismo na universidade: cotas iniciadas em cursos de pós (Carlos Sousa Ramos/AAN)
A congregação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) aprovou na quarta-feira (29) cotas étnico-raciais para o ingresso nos cursos de pós-graduação para o ano letivo de 2017. A reserva de vagas inclui pessoas com deficiência, indígenas e negros (pretos e pardos). A cobrança pelas cotas é encabeçada pela frente pró-cotas da Unicamp e também uma das pautas do movimento de greve e ocupação dos estudantes. A FE está entre uma das primeiras a adotar a medida. No ano passado cinco programas de pós-graduação do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas adotaram cotas. As discussões também já ocorrem no Instituto de Estudos da Linguagem e no Instituto de Artes. Segundo a Unicamp, a proposta para adoção de sistemas de cotas para o ingresso aos cursos de pós tramita internamente nos institutos e faculdades, que têm autonomia para definir os procedimentos de seleção, conforme assegura o Regimento Geral da Pós-Graduação. As propostas, após aprovação pelas unidades de ensino e pesquisa, são posteriormente encaminhadas às instâncias superiores, a quem cabe avaliar e deliberar sobre o assunto. A proposta, segundo a coordenadora geral do programa de pós-graduação em educação, Mara Regina Martins Jacomeli, foi elaborada por um coletivo de docentes da FE, dos movimentos sociais e dos alunos da pós-graduação e da graduação. “A aprovação das cotas étnico-raciais e pessoas com deficiência significa um avanço no reconhecimento da necessidade de incorporar na universidade pública uma parcela significativa da população do Estado e do Brasil daquelas pessoas que, ao longo da história do Brasil foram alijadas de estar na universidade.” Ela afirmou ainda, que o movimento que o IFCH iniciou e que a FE deu continuidade provavelmente fará com que outros programas de pós adotem as cotas. Membro do Núcleo de Consciência Negra da Unicamp, Teófilo Reis explica que a proposta já vinha sendo avaliada em outras instâncias e, na última quarta-feira, foi votada pela Congregação — formada por representantes dos departamentos, funcionários e professores — e aprovada por maioria. Ficou definida uma quantidade fixa de 10 vagas para estudantes indígenas, 10 vagas para pessoas com deficiência e, do restante das vagas, 35% ficam reservadas para estudantes autodeclarados negros. A porcentagem corresponde à população de negros no Estado. A medida já passa a valer para o curso de 2017. Marcha Estudantes da Unicamp realizaram nesta quinta-feira uma Marcha Antirracista contra uma série de casos de racismo na universidade. Com faixas e cartazes, os alunos saíram em passeata pelo campus. Segundo os universitários, foram relatados casos de racismo durante a greve, e encaminhadas denúncias contra professores do Instituto de Matemática e do Instituto de Economia, que teriam postado mensagens racistas em suas redes sociais. Outros estariam intimidando alguns alunos e alunas negras. “Quando politicamente os professores não conseguem convencerem os alunos que a prática é errada, acabam apelando para a nossa cor”, disse Tayna Mesquita, do Núcleo de Consciência Negra. Servidores em greve e alunos fecham via Um grupo de cerca de 80 servidores e estudantes da Unicamp, em greve desde o dia 23 de maio, fecharam nesta quinta-feira a Rodovia Professor Zeferino Vaz (Tapetão) durante um ato duas horas. Eles pedem reajuste de 12,34%, mas até o momento a oferta é de 3%. Os manifestantes fecharam o Tapetão das 11h às 13h, em frente à Bambini, sentido Paulínia. A Polícia Militar acompanhou o ato. O trânsito no local ficou lento e gerou congestionamento. Segundo o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU) João Raimundo Mendonça de Souza, a manifestação teve o objetivo chamar atenção da população. "A sociedade precisa saber a verdadeira situação da universidade. Estamos em greve há mais de um mês e sem negociação”, disse. Os trabalhadores aproveitaram o dia para realizar debates sobre a situação da área da saúde. “Estamos preocupados com o destino da área de saúde da universidade. Precisamos preservar esta área, pois, ela é fundamental para a população da cidade e da região.” Em apoio aos funcionários, os estudantes que ocupam o prédio da reitoria também cobram melhorias na universidade. “Achamos importante conquistar o apoio da população, e explicar as nossas pautas”, disse o estudante Matheus Correia. Em relação ao movimento, a Unicamp informou que o Cruesp (conselho que representa as universidades) realizou três reuniões com o Fórum das Seis. No último encontro, em 30 de maio, o Cruesp reiterou a sua proposta de reajuste de 3%, "uma vez que os orçamentos das três universidades estaduais paulistas não permitem ir além desse índice nesse momento". O impasse entre a Unicamp e os estudantes que ocupam a reitoria ainda continua. A universidade informou que mantém inalteradas as posições já informadas anteriormente. A universidade aceitou parcialmente a pauta apresentada pelos alunos, que no entanto mantiveram o movimento. Em relação aos cortes no orçamento, após a regularização das atividades no prédio da reitoria, a Administração Central informou que está disposta a debater os pontos reivindicados. A reitoria destacou que finalizou a conversação sobre a desocupação do prédio. (SP/AAN)