Maior procura dos estudantes oriundos da rede pública é para período noturno
Comvest aponta que a procura dos alunos da rede pública por cursos de licenciatura tem percentual acima de 50%, houve também ampliação da diversidade na Unicamp (Rodrigo Zanotto)
A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) registrou crescimento no número de alunos matriculados em 2023 oriundos de escola pública em cursos noturnos e de licenciatura fortalecendo os índices de inclusão social. Segundo dados da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) da Unicamp, no ano passado de 3.470 estudantes que ingressaram na Universidade, 45,7%, ou seja, 1.586 vieram da rede pública. Em 2023, dos 3.395 matriculados, 49,5% são fruto da escola pública representando 1.681 alunos. O número de estudantes que vieram da rede pública de ensino e que ingressaram na Unicamp cresceu 6% neste ano em comparação com 2022.
De acordo com a Comvest, dos 10 cursos de maior procura dos estudantes da rede pública, nove são do período noturno. Para o diretor da Comvest, José Alves de Freitas Neto, os cursos à noite, são os que registram “menor concorrência” entre os candidatos. Mas a questão principal é socioeconômica. “O horário noturno não é, por si só, uma opção de escolha. É necessidade. As oportunidades de trabalho e a possibilidade de conciliação entre emprego e estudo, são fundamentais”, alerta José Alves.
Os indicadores constatados pela Comvest na elaboração desses resultados, consideraram, além da seleção tradicional de ingresso na Universidade através do vestibular, o acesso por meio de notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a modalidade com reserva de vagas para premiados em Olimpíadas de Conhecimento, o vestibular indígena e o Profis - curso sequencial da Unicamp para 120 estudantes que fizeram o ensino médio em escolas públicas de Campinas. Uma alteração significativa no vestibular da Unicamp e que também influenciou diretamente no resultado foi a adoção das cotas e a retirada da bonificação (pontos) para alunos que realizaram o Enem ano passado.
José Alves Neto destaca também a procura dos alunos da rede pública por cursos de licenciatura com percentual acima de 50%. “É fato que 35 das 61 opções disponíveis de cursos para inscrições, 57,3% da lista, têm mais da metade dos calouros provenientes da rede pública de ensino. Dos 35 mais procurados, 15 são cursos de licenciatura, o que evidencia um maior interesse dos ingressos na formação de professores.”
No curso de Medicina da Unicamp em 2023, 45% dos calouros são provenientes da rede pública. Pretos e pardos representam 40% do total de alunos matriculados. Mesmo não atingindo a meta estabelecida pela própria Unicamp de 50%, há maior diversidade que esta começando a mudar o perfil do ensino superior e a próxima geração de profissionais.
A reportagem do Correio Popular conversou com os calouros da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp (FCM) e constatou a diversidade presente no campus, mas algumas dificuldades mencionadas pelos próprios alunos. Bianca Ayumi, de Jundiaí; Vinicius Rodrigues, de Hortolândia e Guilherme Ribeiro, de Paulínia, foram todos aprovados no último vestibular e são oriundos de escola pública.
Os três reconheceram maior presença de alunos pretos e pardos em seu curso, diagnosticando a diversidade promovida pela Instituição de ensino através das ações afirmativas, como as cotas, mas alertaram para a diferença econômica entre os alunos da fase inicial do curso. “Isso é um fato que determina a trajetória de cada um aqui. Quem utiliza transporte público como nós, o tempo de deslocamento da residência para a faculdade, afeta muito as condições de estudo. Foram anos de empenho para chegar até aqui, mas temos que batalhar todos os dias para vencer essa guerra que será nossa formação”, alerta Bianca.
Para Vinicius, o curso por ser integral nos resume a dependência dos pais ou a procura de “bicos” aos fins de semana e conciliar com a rotina de estudos. “Existe pela Universidade, alguns programas de bolsas para auxiliar os alunos, mas a contrapartida, são horas semanais dentro da própria faculdade, o que praticamente nos impossibilita de participar”, lamenta Vinicius.
Vestibular 2024
A Unicamp divulgou o calendário do Vestibular 2024. A 1ª fase ocorrerá no dia 29 de outubro, enquanto a 2ª etapa está marcada para os dias 3 e 4 de dezembro. A previsão são 2.540 vagas para 69 cursos disponíveis em Campinas, Piracicaba e Limeira. O período de inscrição começará em 31 de julho e seguirá até 31 de agosto, através da Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) pela internet.
Os cursos que necessitam de habilidades específicas, ocorrem de 7 a 9 dezembro. Para interessados na solicitação do benefício de isenção da taxa de inscrição, o pedido poderá ser feito entre 15 de maio e 5 de junho. O resultado dos estudantes contemplados com a gratuidade, sairá no dia 28 de julho.