TRADIÇÃO DO CATOLICISMO

União e esforço pela Paixão de Cristo

A expectativa dos organizadores é superar o público de 15 mil pessoas na apresentação comemorativa deste ano, que traz novidades técnicas e renovação da abertura

Sheila Vieira
01/04/2017 às 17:55.
Atualizado em 22/04/2022 às 19:49
Atores amadores da comunidade vencem a timidez e deixam cabelos e barbas crescerem para a encenação: evangelização por meio da arte (Patrícia Domingos/AAN)

Atores amadores da comunidade vencem a timidez e deixam cabelos e barbas crescerem para a encenação: evangelização por meio da arte (Patrícia Domingos/AAN)

Com orçamento de R$ 41 mil provenientes de festas e eventos na comunidade, patrocínio de comerciantes da região do Jardim Vista Alegre, e contando com um elenco de 140 atores da própria comunidade da Paróquia Santa Inês, além de 29 operadores na parte técnica, a Companhia Santa Inês de Teatro Amador (Csita) chega à 15ª edição do espetáculo “Paixão de Cristo”, que será exibido na Sexta-Feira Santa, dia 14 de abril, às 20h, no Campo Corintinha, em frente à igreja. A expectativa dos organizadores é superar o público de 15 mil pessoas na apresentação comemorativa deste ano, que traz novidades técnicas e renovação da abertura e principais cenas da montagem, como a tentação do diabo, a dança de Salomé e o enforcamento de Judas no penhasco. O ingresso é gratuito, mas a organização pede a colaboração de 1kg de alimento por pessoa. Prazo apertado, ensaios dominicais de centenas de atores amadores, além da contínua tarefa de angariar verbas para a realização da megaprodução — que conta com três palcos de 12 metros, som de alta qualidade, projetor de 5 mil lumens e exibição em telão de 150 polegadas — representam desafios menores que a vontade da organização e seus participantes de fazer o espetáculo acontecer. “Não é fácil pedir R$ 1 mil, R$ 2 mil para os comerciantes nos dias de hoje. Temos que oferecer algo em troca e damos visibilidade no telão e no material de divulgação da encenação. Também contamos com os amigos da peça que contribuem com R$ 2 a R$ 5”, diz a diretora, Alessandra Maria Cardoso Magalhães. Apesar do espetáculo utilizar equipamentos de última geração, com fornecedores que montam grandes shows sertanejos no mercado, e consomem de quatro a cinco dias de trabalho na montagem, o sonho da direção é conseguir verba suficiente para exibir a produção em dois telões, o que ainda não foi possível. Há menos de um mês da data da encenação, dos dez patrocinadores master em potencial, apenas dois confirmaram apoio. É a luta anual para manter viva a encenação de caráter evangelizador que a cada produção, defende a diretora, alcança mais corações com a mensagem da morte e ressurreição de Cristo. “Muitas pessoas sugerem que eu mude a encenação para o enfoque cultural e não religioso. Mas o objetivo do espetáculo é a evangelização”, ressalta. Em cena Unidos nessa fé estão pedreiros, donas de casa, costureiras, mães, estudantes. Gente das mais variadas idades e ocupações, que jamais haviam pensado pisar em um palco venceram a timidez e encararam interpretar Jesus, Maria, Judas Icariotes, Barrabás, Maria Madalena, Herodes, Pôncio Pilatos. E não foi difícil encontrar voluntários entre os 1 mil frequentadores da paróquia para os papéis principais, secundários e as inúmeras figurações necessárias. A primeira edição da Paixão de Cristo, em 2003, contou com 100 pessoas e foi assistida por 600 espectadores, público que se multiplicou a cada ano e chegou a 200 mil pessoas desde o início da montagem. “O que ajudou a perpetuar nosso espetáculo, apesar de ser uma montagem amadora, foi a preocupação com a qualidade. No sábado passado, por exemplo, todas as falas já foram gravadas em um estúdio do Taquaral. Mais de 60 pessoas do elenco passaram o dia e o início da noite no estúdio”, conta. A rotina de ensaios continua, aos domingos, na Paróquia Santa Inês onde, inclusive, é a sede da Companhia e oferece o espaço para figurino e as centenas de itens cenográficos. A montagem da Paixão de Cristo ainda precisa de recursos para realizar o evento. Quem quiser contribuir pode entrar em contato com a Paróquia Santa Inês 3266-8755. Jovens atores capricham para incorporar personagens O espetáculo com 1h30 de duração é resultado de quase quatro meses de ensaios e da dedicação de um grupo de pessoas que acredita no poder da encenação como meio para evangelizar. O amor pela montagem da “Paixão de Cristo” gera grande comprometimento entre os atores. Muitos jovens deixam o cabelo e a barba crescer a fim de conseguir um visual rústico semelhante ao do povo da época em que Jesus caminhou sobre a Terra. Entre as mulheres, caso da auxiliar-administrativo Aryane Cristina da Silva Vieira, de 24 anos, que há nove anos interpreta Maria Madalena, o comprimento dos cabelos, que está na cintura, é uma das preocupações da atriz amadora. Vencer a timidez é outro desafio. “Sempre dá um friozinho na barriga. A gente interpreta não para nosso engrandecimento, mas para Deus que nos ajuda a controlar a timidez”, conta. Entre as várias cenas que emocionam a plateia, Aryane elenca o momento da crucificação. “Todo ano me emociono. Mesmo estando no palco, a gente chora”, afirma. Assim como a maioria dos atores, a jovem nunca fez curso de interpretação, tampouco participou de peças na escola. Age movida pela intuição e sob a orientação de Alessandra, que dirige as expressões e a dicção dos atores. “Quando chega a hora todo mundo entra no personagem”, garante. A diretora Alessandra, que é fã de cinema e teatro, se vale do instinto e intuição para coordenar os ensaios, além do amor que utiliza para lidar com o elenco. Coordena desde atores mirins de cinco anos, no papel de figurantes de anjinhos, até atores experientes. É o caso de Dona Aurides Camozzi, que aos 80 anos participou de todas as montagens. O publicitário Diego Alves Faria, responsável pela comunicação e produção audiovisual da montagem, considera o trabalho no espetáculo um grande aprendizado. “Do projeto de melhorar a comunicação, assumimos a assessoria de imprensa, redes sociais e toda parte audiovisual. Ver o projeto atingir essa proporção é algo que não tem preço”, comemora. (SV/AAN)

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