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Uma nova técnica de combate à dengue

Uso de tecnologia com minicápsulas em Indaiatuba reduziu em 95% a população do mosquito Aedes aegypti

Gilson Rei
31/05/2020 às 11:59.
Atualizado em 29/03/2022 às 10:34

Os sistemas de saúde ganharam mais um forte aliado no combate à dengue. Minicápsulas colocadas em uma caixa com água produzem e liberam apenas machos do mosquito Aedes aegypti — chamados de Aedes do Bem. Eles não picam, nem contaminam e são autolimitantes, acabando com a proliferação de Aedes aegypti fêmeas, responsáveis pela contaminação da dengue. A nova tecnologia com uso de minicápsulas foi testada por 13 semanas e aprovada em Indaiatuba — que já havia iniciado no ano passado um programa de erradicação do Aedes aegypti, feito com a soltura de mosquitos Aedes do Bem nos bairros — reduzindo em 95% a população do inseto. A grande vantagem é que a nova técnica das cápsulas reduziu em 95% a população do aedes aegypti numa comparação com as áreas de controle não tratadas na mesma cidade. Outra vantagem é que a tecnologia das minicápsulas elimina a necessidade de unidades de produção de mosquitos adultos, de sistemas complexos de criação de insetos, de equipes especializadas e da liberação de inseticidas por meio de veículos. As minicápsulas contêm aproximadamente 1 mil óvulos do mosquito e basta adicionar água na caixa de cápsulas para o Aedes do Bem iniciar o processo de diminuição da população de aedes aegypti na área aplicada. A tecnologia foi desenvolvida pela Oxitec Ltd, que tem uma unidade no Brasil e é líder no desenvolvimento de soluções biológicas seguras e direcionadas para controlar insetos que transmitem doenças e destroem plantações. Fundada em 2002 como uma spinout da Universidade de Oxford (Reino Unido), a empresa foi contratada pela Prefeitura de Indaiatuba para testar sua tecnologia. Natália Ferreira, diretora-geral da Oxitec do Brasil, disse que a tecnologia de minicápsulas usa o sistema proprietário da Oxitec para encapsular ovos da linhagem de 2ª geração do Aedes do Bem, que, quando colocados em uma pequena caixa com água, produzem e liberam apenas machos. “Esses machos, ao saírem da caixa, se dispersam no ambiente para acasalar com fêmeas Aedes aegypti selvagens em uma área de até oito mil metros quadrados”, explicou. Segundo Natália, o produto de minicápsulas do Aedes do Bem será muito impactante. “Ele pode fornecer um controle superior e seguro do Aedes aegypti por meio da fácil implantação de minúsculas cápsulas de ovos em caixas que não exigem infraestrutura dispendiosa ou operações complexas. Estamos tornando o controle do Aedes aegypti simples, sustentável e escalável — em outras palavras, é exatamente o que as cidades e comunidades do Brasil precisam neste momento crítico”, afirmou. A diretora lembrou também que esta tecnologia de controle de Aedes pode ser fabricada em instalações centralizadas, ser estavelmente armazenada e implantada sob demanda em qualquer lugar do mundo, sem equipe especializada ou equipamento especial. “Temos enfrentado epidemias devastadoras de dengue no Brasil e novas ferramentas de controle de vetores são desesperadamente necessárias para auxiliar as cidades e as comunidades”, afirmou. Ensaio de campo em Indaiatuba é considerado inovador A tecnologia que vem sendo testada no combate à dengue deverá ser aplicada também para controlar outras doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Grey Frandsen, CEO da Oxitec, destacou que o ensaio de campo em Indaiatuba foi inovador. “É a primeira vez que uma tecnologia de controle biológico de vetores é compactada em uma solução pequena, que pode ser transportada, armazenada, segurada na mão e implantada para trazer supressão de mosquitos em várias gerações e sem liberação de fêmeas”, disse. Frandsen afirmou que será importante também o uso da tecnologia no combate à expansão das demais doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. “Precisamos de uma geração totalmente nova de ferramentas de controle de vetores que sejam acessíveis e economicamente viáveis e que possam capacitar uma coalizão mais ampla a participar desta batalha”, disse. “Esse teste excedeu nossas expectativas de desempenho e, agora, estamos nos preparando para testes de campo maiores”, finalizou. No início deste mês, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) concedeu à Oxitec uma Permissão de Uso Experimental (EUP) para testes de campo dessa mesma tecnologia nos Estados Unidos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 390 milhões de pessoas são acometidas pela dengue todos os anos, com aproximadamente metade da população mundial em risco. O número de casos de dengue relatados à OMS aumentou mais de 15 vezes nas últimas duas décadas. O Aedes aegypti, um mosquito invasor encontrado em todo o mundo, também transmite zika, chikungunya e febre amarela.

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