DESCOBERTA

Uma joia rara para contar as horas

Relógio de 140 anos decora átrio do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, em Campinas

Rogério Verzignasse/AAN
14/04/2019 às 13:05.
Atualizado em 04/04/2022 às 09:53

Quem passa no auditório fica impressionado com a beleza da peça. O relógio foi fabricado há mais de 140 anos nas oficinas de John Walker, na Inglaterra. Acervo raro, de valor incalculável, que acabou encontrado em uma saleta de despejo na Capital, empoeirado, largado sobre dois velhos botijões. O relógio de parede imenso foi doado ao Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, sediado em Campinas, e acaba de ser instalado no prédio administrativo, na esquina das ruas Dr. Quirino e Conceição, no Centro. Aliás, virou atração turística. O dono do objeto era o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). A peça, que no passado foi usada para decorar as plataformas da Estação da Luz, permanecia guardada — digamos assim, sem muito cuidado — em um depósito improvisado no setor de Inventariança. A descoberta foi feita por servidores do judiciário. Um deles, inclusive, funcionário de carreira do tribunal campineiro. Flávio Roberto Opúsculo Cabral, no caso, atual coordenador do Setor de Projetos e Obras do TRT-15, mergulhou em uma verdadeira saga para conseguir o reparo e a doação do relógio belíssimo. O processo se arrastou de 2012 a 2017, com idas e vindas ao DNIT. Até que a peça foi doada ao TRT-15. Animados pelo histórico da peça, os servidores trataram de encontrar um restaurador especializado para a empreitada. Foi então que a servidora Bianca André Amaral encontrou em São Paulo o profissional adequado para a tarefa. O relojoeiro Márcio Saconi aceitou o desafio. Ele mesmo contou, em visita ao tribunal, que se tratava de um objeto raro. Sensibilidade O relógio nunca havia passado por restauro. Muitas peças tinham sido destruídas. A restauração foi longa, envolveu pesquisa profunda e a adoção de ferramentas específicas, respeitando o material utilizado originalmente, como a moldura de latão fundido. A peça desafiou a sensibilidade e a técnica do restaurador Saconi, e o resultado final do trabalho é fantástico. Saconi, de 51 anos, contou à reportagem que trabalhava com ferramentas de corte para indústrias de usinagem. Ele estava desempregado em 2002, quando se ofereceu para consertar o relógio da Igreja de Santo Agostinho, na Liberdade. O padre tinha sido seu professor no passado. Fez o serviço, pegou gosto e virou empresário. Para restaurar o relógio do TRT, diz, fez contatos até com colecionadores ingleses para repor peças. Servidor liderou a saga em busca da peça O servidor Flávio Roberto Opúsculo Cabral, que capitaneou a saga pelo restauro do relógio centenário, tem 61 anos de idade, e trabalha no TRT-15 há duas décadas e meia. Hoje ele coordena o Setor de Projetos e Obras. Cabral conta que esteve em São Paulo para tratar de assunto completamente diferente. Ele visitava o DNIT para negociar a ocupação de um terreno da União pelo tribunal campineiro. “Ao entrar no prédio da Inventariança, notei o relógio em cima dos botijões, em uma salinha feita com divisórias, debaixo da escada. A porta estava aberta, me chamou a atenção”, diz. Cabral logo notou que a peça era histórica, mas se impressionou com o estado de conservação. Todo sujo, com o vidro colado com durepox. Foi aí que apareceram na história outros dois servidores: Wagner Gotardo e João Marinho conheciam os trâmites legais da Inventariança e se dispuseram a ajudar na peregrinação ao longo de seis anos. “Não tenho palavras que possam expressar a satisfação de ver o relógio na sede administrativa do tribunal, agora restaurado e funcionando perfeitamente”, afirma. “Recuperamos o relógio e parte da história da ferrovia, que desbravou o Interior e formou os municípios que hoje abrigam varas e fóruns trabalhistas.”Curiosidade. O relógio é de cordas, manual, acertado uma vez por semana, o que é feito toda quinta-feira. 

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