Doença registra explosão de casos no País - e a principal causa é a falta do uso de preservativos
O presidente da Maternidade de Campinas, Carlos Ferraz: doença pode provocar aborto se não for identificada (Divulgação)
A sífilis, doença conhecida há muito tempo pela medicina e que pode ser tratada facilmente quando diagnosticada com rapidez, está voltando a assustar os brasileiros por causa da explosão no número de casos nos últimos anos. A doença, que é grave - pode causar demência, cegueira e morte, registrou uma alta de ocorrências de 7 mil por cento entre 2010 e 2016. Os casos são da chamada sífilis adquirida - quando a doença é transmitida por relação sexual. Foram 87.593 casos notificados em 2016, contra as 1.249 de 2010, segundo dados do Ministério da Saúde. Campinas, entretanto, seguiu no sentido oposto, e conseguiu reduzir em cerca de 22% o número de casos em 2017 na comparação com o ano anterior (o número, que vinha aumentando desde 2011, é referente à sífilis congênita, ou seja, quando é transmitida da mãe para o filho). O total de ocorrências caiu no ano passado para 66, contra os 84 registrados em 2016, segundo o Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa). A Pasta aponta, porém, um progresso mínimo referente ao mal em gestantes, onde o número passou de 325 em 2016 para 350 no ano passado (em 2010, eram apenas 93 casos). Elisa Teixeira Mendes, infectologista da Maternidade de Campinas, explica que a detecção da doença em gestantes e em recém-nascidos é mais comum devido aos exames obrigatórios ao longo do pré-natal e imediatamente após o parto. Por isso, ela entende que os números da doença são apenas a ponta do iceberg do que ocorre na realidade. A médica esclarece que, embora a atenção na vigilância e o diagnóstico precoce tenham se intensificado ao longo dos anos, o aumento no número de casos é consequência principalmente da baixa adesão no uso dos preservativos. Presidente da Maternidade, o ginecologista e obstetra Carlos Ferraz reforça a opinião de Elisa e diz que, em breve, deverão ser constatados aumentos no número de casos de outras doenças sexualmente transmissíveis, as DSTs. “A sífilis é uma doença perigosa que pode ser imperceptível nas mulheres caso a ferida não seja visível. Se isso acontecer, e se ela for identificada já em seu estágio secundário, pode provocar um aborto”, diz. Segundo o Boletim Epidemiológico da Secretária de Vigilância em Saúde, divulgado no último ano, a explosão no número de casos no País pode ser atribuído, além da falta do uso de preservativos, pela ampliação do uso de testes rápidos e pela resistência dos profissionais de saúde ao uso da penicilina na Atenção Básica. Em nota, o Ministério da Saúde informou que “o enfrentamento da sífilis no País é uma ação prioritária, e que entre as práticas incentivadas para combatê-la estão a realização do pré-natal precoce, ainda no 1º trimestre da gestação, além de ações permanentes de educação para qualificação de gestores e profissionais de saúde”. O texto ressalta ainda que o órgão aumentou “em mais de quatro vezes a quantidade de testes enviada a Estados e municípios, passando de 1,1 milhão em 2001 para 6,1 milhões em 2015. Além disso, foi articulado com o Conselho Federal de Enfermagem a edição de um parecer normativo que possibilitou a aplicação dos testes rápidos também por técnicos e auxiliares de enfermagem, sob supervisão dos enfermeiros profissionais”.