Inaugurado há quase cem anos, imóvel histórico amado pelos campineiros padece no abandono
De arquitetura eclética, prédio imponente impressiona: hoje, porém, é só tristeza (Leandro Torres/AAN)
O belíssimo imóvel histórico que serviu de sede para o Hospital Coração de Jesus, no Botafogo, é tombado como patrimônio arquitetônico, mas o descaso dos proprietários o transforma em ruína. A direção do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc) — que apura a situação atual do prédio — vai notificar os responsáveis, exigindo investimentos emergenciais para mudar o quadro. Pouca gente se dá conta, mas aquele imóvel deslumbrante — de arquitetura eclética e detalhes neorrenascentistas — foi inaugurado em 1919. Está prestes a completar cem anos. Há quase dez anos, a Lei determina a preservação do prédio e de elementos da quadra envoltória. A resolução número 74 — do dia 17 de dezembro de 2008 — tombou a fachada, a volumetria, gabarito de altura, cobertura, esquadrias e pisos centenários. Também virou patrimônio campineiro o belo muro decorado com azulejos portugueses na esquina das ruas Salustiano Penteado e Dr. Otávio Mendes, a uma quadra de onde funcionou a antiga Estação Rodoviária. O tombamento, no entanto, desagradou os proprietários do imóvel, que jamais se interessaram em reformar o prédio e lhe dar uma nova finalidade. Se voltasse a ser hospital, por exemplo, como chegou a ser ventilado, o prédio deveria passar por intervenções estruturais milionárias, que o adequassem às novas e exigentes normatizações sanitárias. É nítido, para os próprios moradores do entorno, que os proprietários queriam na verdade explorar o potencial econômico de uma das regiões mais valorizadas da cidade. O quarteirão, no caso, já podia estar tomado por prédios comerciais ou residenciais. Por conta do tombamento legal, no entanto, o dono não pode desfigurar o patrimônio, e não se entusiasma em investir. Cenas de abandono Resultado: o mato toma a gleba. A guarita de acesso está toda arrebentada. Os azulejos históricos desaparecem sob a pichação. O matagal esconde a cancela. Imponentes janelões de madeira do piso superior caem aos pedaços. A pintura da parede some sob o limo. Sabe Deus quais são as condições do interior do prédio, onde existiam até afrescos e escadarias adornadas. Vigilância funciona Hoje, o imóvel pertence a um grupo de empreendedores paulistanos. E a situação não é mais desagradável, para os vizinhos, porque uma empresa privada contratada garante segurança ininterrupta. Os portões são fechados com correntes e há vigias trabalhando dia e noite. Ao menos, o interior do prédio não é invadido. Para o Condepacc, no entanto, a medida é inócua. Punições do Condepacc De acordo com Daisy Ribeiro, da Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural (CSPC), a manutenção precária do terreno e o desrespeito ao patrimônio — constatadas em fiscalização — vão receber punições adequadas. Os técnicos consideram a possibilidade de levar o caso ao Ministério Público. A vistoria interna do prédio já está programada. “O proprietário será notificado sobre cuidados que não podem mais ser adiados. É um prédio belíssimo, amado pelos campineiros. É um patrimônio da nossa cultura”, diz.