participação histórica

Um olhar brasileiro na conquista da Lua

Há 50 anos, no dia 20 de julho de 1969, o homem pisou na Lua pela 1ª vez. Um feito e tanto, histórico, que será lembrado eternamente pela humanidade

Francisco Lima Neto
21/07/2019 às 13:56.
Atualizado em 30/03/2022 às 22:38

Há 50 anos, no dia 20 de julho de 1969, o homem pisou na Lua pela primeira vez. Um feito e tanto, histórico, que será lembrado eternamente pela humanidade. Isso não é novidade para ninguém. O que nem todo mundo sabe é que tem um dedo brasileiro nessa história. Um não, vários. Um ano antes de o homem finalmente conquistar a Lua, em paralelo ao Projeto Apollo, a Nasa (Agência Espacial Americana) e o Smithsonian Institution criaram o Programa Lion — Lunar International Observers Network —, para monitorar a superfície lunar. A Nasa tinha preocupação com o que poderia ocorrer durante a alussinagem (aterrisagem na lua). Quatorze países foram convidados a integrar o programa. Entre eles, o Brasil. Aqui, o programa foi coordenado pelo astrônomo-chefe do Observatório Nacional do Rio, Ronaldo Mourão. Ele escolheu os cinco profissionais mais experientes em observação lunar e planetária. Nelson Travnik, com 32 anos na época, foi um dos escolhidos. "A Nasa se perguntava o que poderia encontrar na Lua. A gente observava muitos fenômenos, como uma espécie de flash fotográfico, brilho anormal que durava alguns minutos, obscurecimento de uma região, pulsação luminosa, regular e irregular, raias espectrais que indicam escapamento de gases", explica Travnick, hoje com 83 anos. Esses cinco escolhidos indicaram ainda outros 18 observadores. O Brasil registrou 63 fenômenos durante o período. O mais importante deles foi uma emanação gasosa, observada, justamente, por Travnik. "A gente sempre observa em dois porque a vista trai muito. Eu vi, chamei o colega, e ele também viu. Essa emanação foi relacionada como a mais importante feita no Brasil", confirma. A contribuição brasileira aconteceu nas missões Apollo 8, 10, 11, 12 e 13. Nessa época, o astrônomo atuava na cidade de Matias Barbosa, em Minas Gerais, onde havia fundado, com dois amigos, o Observatório Astronômico Flammarion, em 1954. O local funcionou até 1976. Por conta de seus achados durante o trabalho em apoio ao Projeto Apollo, o observatório mineiro ganhou relevância nacional e internacional. "Mudou bastante a minha vida. Era um programa internacional. O observatório ficou conhecido no mundo inteiro e me projetou profissionalmente", relembra. O astrônomo, que nasceu em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, e mudou para Minas ainda criança, foi convidado em 1976 pelo seu colega Jean Nicolini, e o então prefeito de Campinas, Lauro Péricles, para integrar a equipe do Observatório Municipal de Campinas. O primeiro do gênero a ser construído no Brasil. Foi diretor lá por dez anos. "O prefeito era um visionário e muito sensível com a questão da astronomia", diz. Em 1985, ele participou da fundação do Observatório Astronômico de Americana, e em 1992, do Observatório de Piracicaba, onde atua até hoje. Ele se aposentou em 1996 e continuou trabalhando nos três observatórios simultaneamente. Mas em 2011, deixou o de Campinas para se dedicar aos outros dois. "Eu trabalhava de domingo a domingo. Minha mulher era muito paciente", lembra, aos risos. Aos 83 anos, impressiona a forma física, rapidez de raciocínio e o entusiasmo com o qual continua falando sobre o seu assunto favorito: a astronomia. "Não existia curso de astronomia no Brasil, se fazia física-matemática, ia para o Exterior fazer mestrado, doutorado. Eu não tinha condições financeiras. Mas eu morava perto do Rio de Janeiro, onde tinha o Observatório Nacional e o Observatório da Universidade Federal. Passei e frequentar lá e foi assim que aprendi muita coisa", explica. Água de Lindóia A água consumida pelos astronautas durante a missão era oriunda da Fonte S. Sebastião de Lindóia. A escolha se deu após rigorosa pesquisa pelas propriedades radioativas, diuréticas e baixa acidez da água, exigidas pela Nasa. A escolha foi feita porque em 1926, a célebre e Prêmio Nobel de Física, Marie Curie e sua filha Iréne estiveram em Lindóia analisando e comprovando as qualidades da água.   Bretones vai de observador a estudioso O professor Paulo Bretones tinha 4 anos de idade quando o homem realizou o pouso na Lua. Ele nem imaginava que se dedicaria ao tema décadas depois. "Me lembro de ficar próximo à televisão entusiasmado. Tenho revistas com edições especiais da época. Meu pai guardou e acabamos montando uma biblioteca em casa", conta. Ele, que é formado em Química com mestrado e doutorado com temas relacionados à Educação em Astronomia pela Unicamp e professor associado da Universidade Federal de São Carlos, afirma que a corrida espacial foi muito importante para as tecnologias atuais. "Por conta das pesquisas foram criadas as roupas contra fogo dos bombeiros, capacete, sapatos leves, velcro, computadores menores, satélites, comida liofilisada, chamadas de comida seca, e até medicamentos foram desenvolvidos por conta disso", detalha a importância do salto tecnológico. SAIBA MAIS O homem pisou na Lua no dia do aniversário de Santos Dumont, Pai da Aviação. Ele teria 96 anos se estivesse vivo na época. O brasileiro foi homenageado com seu nome dado a uma cratera de 8km da Lua. Travnik foi o primeiro astrônomo a fotografar a cratera Santos Dumont, em 20 de setembro de 1996, após três meses de tentativas, no Observatório de Piracicaba. No total das missões, 12 homens já caminharam pelo solo lunar. O astrônomo é membro titular da Sociedade Astronômica da França desde 1959.

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