editorial

Um milhão de casos no País: lição ignorada

Essa marca deveria gerar uma humilde autoanálise de todos, autoridades e cidadãos. O que não fizemos? Onde erramos?

Correio Popular
21/06/2020 às 13:53.
Atualizado em 28/03/2022 às 22:35
   (AFP)

(AFP)

O Brasil chegou a 1 milhão de casos de coronavírus na tarde da última sexta-feira. Era um caminho previsível diante da escalada da doença no País, mas superar essa marca gera um simbolismo evidente, além de oferecer reflexões necessárias. Uma delas é lembrar como o governo federal, no início da pandemia, tratou a crise sanitária. Houve notória falta de coordenação nacional, mesmo em se tratando de um país de dimensões continentais. Dois ministros da Saúde caíram. Hoje, pasmem, em plena pandemia, há um interino no cargo. Além disso, as declarações do presidente da República, Jair Bolsonaro, que deveria liderar todo esse processo de enfrentamento, jogaram contra a prevenção e forjaram um ambiente de divisão coletiva, num país já extremamente polarizado pela política. “Gripezinha”, “E daí?”, “Não sou coveiro”, foram alguns dos comentários dessa postura negacionista que turbinou a confusão, notadamente apoiada por militantes extremistas. Esse cenário, inclusive, provocou repercussão negativa e de espanto no mundo, deixando o Brasil como uma imagem muito ruim, uma nação que não fez a lição de casa. Por outro lado, e não menos irresponsável, faltou cidadania para parte da comunidade, que também enveredou pelo debate do ódio e da postura anticiência. Em que pese a dramática situação econômica de milhões de famílias que precisam buscar seu sustento, faltou respeito às regras mínimas de higiene. São conhecidas as imagens que correram o Brasil — hoje em menor quantidade — de pessoas que não respeitaram o isolamento social e o distanciamento, quando era urgente estar num mercado, numa fila de banco ou numa farmácia. Sem contar é claro o uso de máscara, que acabou sendo incorporado de forma tardia aos hábitos cotidianos. Um protocolo mais severo de respeito à higiene e uma postura de empatia para com o outro, considerando que cada cidadão é um potencial transmissor, teriam achatado a curva da Covid-19 e salvado vidas. Quem encara a doença ou conhece alguém na família ou no seu círculo de amizade é enfático em dizer que ela é devastadora. É por isso que o debate ideológico é inútil. Não há razão para politizar um tema que se reveste de drama e de desafio à saúde mundial. Chegar a 1 milhão de casos no Brasil, rompendo uma fronteira que carrega uma sucessão de falhas técnicas e atitudes reprováveis, deveria gerar uma humilde autoanálise de todos, autoridades constituídas e cidadãos. O que não fizemos? O que fizemos de errado?

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