Verbas privadas ajudam a recuperar fragmentos florestais nas margens de rios e córregos
Macaco-prego num dos fragmentos florestais que compõem o Projeto Corredor das Onças: investimento privado contribui com a preservação (Divulgação)
O Projeto Corredor das Onças — lançado em 2011 com o propósito de recuperar fragmentos florestais e proteger a fauna — já executou o plantio de 200 mil mudas nativas na Região Metropolitana de Campinas (RMC). No período, importantes conglomerados empresariais investiram algo em torno de R$ 8,6 milhões na recomposição da mata ciliar e na revitalização de unidades de conservação. Os recursos investidos se referem à compensação ambiental paga por empreendedores, que movimentam terras, desmatam terrenos e executam obras. O projeto é iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), uma autarquia federal, que firmou uma parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no planejamento de um modelo de intervenções voltado à conservação da água e da biodiversidade. O diagnóstico ambiental executado por uma equipe de pesquisadores consumiu na época R$ 400 mil, oriundos de patrocínio alemão. Desde então, o projeto é executado por um órgão gestor que, em contato com os empreendedores, indica qual reserva será recuperada, e que espécies precisam ser cultivadas. Ou seja, o poder público não precisa gastar um centavo sequer para a manutenção de um programa que se sustenta. A iniciativa privada garante dinheiro suficiente para a reconstituição de trechos de mata nativa que foram devastados por podas ilegais ou por queimadas. Cabe à empresa, por exemplo, a alocação de mão de obra para o cultivo e as despesas com a compra, transporte e manutenção de mudas. No período, por exemplo, recursos de uma empresa multinacional de logística sediada em Paulínia promoveu a recuperação ciliar do entorno do reservatório de Cosmópolis. Uma concessionária de rodovias do Interior também financiou o plantio de 63 mil mudas nativas ao longo de cursos d’água da região, como compensação pelo prejuízo ambiental provocado pela construção de marginais. “Conseguimos engajar as empresas em uma parceria que protege a biodiversidadade”, afirma a zootecnista Márcia Rodrigues, do ICMBio. Mata ciliar De acordo com a cientista, a RMC possui nada menos que 38 mil fragmentos florestais. O público em geral, explica, acredita que as reservas se limitam a glebas cercadas ou parques públicos. Na verdade, também se entende por fragmento vegetal a mata ciliar, ao longo de córregos e rios. Esses são, efetivamente, os “corredores” por onde devem circular as onças. Aliás, o felino que dá o nome ao projeto é apenas uma das espécies favorecidas. Pouca gente imagina, mas a fauna nativa da RMC é riquíssima. Há sauás, bugios, tamanduás-bandeira… “Quem vive na metrópole se assusta com a matéria no jornal dizendo que apareceu uma onça na cidade. Colocamos o olhar urbano no noticiário. Não percebemos que somos parte da biodiversidade. Precisamos aprender a compartilhar com a fauna um espaço que também lhe pertence”, fala. Número alarmante Trata-se, na visão de Márcia, de uma cultura que precisa mudar. Hoje, fala, a sociedade não respeita o meio ambiente. As cidades crescem e tomam a zona rural. E, mesmo onde não há prédios, as matas nativas são devastadas para a implantação de roças. As queimadas, afirma, também causam muita destruição. “A RMC possui 3.647 km². E os fragmentos florestais da região de Campinas representam pouco menos que 10% de sua área total”, alerta.