BAÚ DE HISTÓRIAS

Um incêndio que marcou Campinas

Na véspera do Natal de 1986, o fogo destruiu o supermercado Eldorado no Centro da cidade

Francisco Lima Neto
06/09/2020 às 09:57.
Atualizado em 28/03/2022 às 16:40
O supermercado Eldorado, que ficava na Avenida Senador Saraiva, era uma referência em Campinas: incêndio começou na madrugada (Cedoc/RAC)

O supermercado Eldorado, que ficava na Avenida Senador Saraiva, era uma referência em Campinas: incêndio começou na madrugada (Cedoc/RAC)

Às vésperas do Natal de 1986, um desastre surpreendeu Campinas e abalou as comemorações daquele final de ano: o incêndio no supermercado Eldorado, um dos maiores já registrados na cidade. Mesmo com todo esforço e empenho empregados, o prédio não foi salvo. E pior, duas vidas foram perdidas. Por isso, mesmo depois de 34 anos, aquele terrível episódio continua na memória coletiva do município. Era 1h30 da madrugada daquele dia 24 de dezembro de 1986, quando o incêndio começou na parte elétrica do supermercado Eldorado, que tinha cinco pavimentos e era uma espécie de shopping. Ele ficava na Avenida Senador Saraiva, no centro, e era bastante procurado, inclusive, para as compras de Natal. Os bombeiros chegaram ao local em cinco minutos, com 30 homens e seis viaturas. No início, parecia que o fogo seria controlado sem grandes dificuldades. Mas com o passar do tempo, o cenário foi mudando. Tudo piorou quando uma parede do supermercado, na Rua Barreto Leme, desabou sobre algumas pessoas. Até então, apenas a administração, padaria e depósito de bebidas tinham sido atingidos, mas com o desabamento, o fogo se alastrou para outras áreas e os bombeiros não conseguiram controlá-lo. Um efetivo maior foi convocado e deslocado para o supermercado. Contudo, um problema operacional não esperado passou a atrapalhar as equipes. Começou a faltar água nos hidrantes próximos ao Eldorado. A situação só foi normalizada por volta das 4h da manhã, conforme o Correio Popular publicou no dia seguinte. Bombeiros de Jundiaí foram enviados para ajudar as equipes daqui. A cidade de Jundiaí contribuiu com um autolançador aéreo, equipamento muito útil que Campinas não dispunha. Por volta das 5h, quando a situação parecia que ia se normalizar, vários pequenos desabamentos passaram a ocorrer, por mais de uma hora, comprometendo a estrutura do prédio. A Sanasa cedeu dezenas de caminhões-pipa, assim como várias indústrias de Campinas. Os moradores dos prédios do entorno deixaram suas casas por conta da intensa fumaça que tomava conta da região. Para facilitar o trabalho, a rede elétrica de todo o quarteirão foi removida. Mais de 100 policiais militares trabalharam desde a madrugada e ao longo do dia, mas tiveram dificuldade para conter a massa de curiosos que se aglomerava para acompanhar o trabalho dos bombeiros e testemunhar a destruição do famoso supermercado. Todas as ruas que davam acesso ao Eldorado foram isoladas para pedestres e veículos. Os bombeiros disseram que as instalações da empresa não tinham aparato contra incêndio, inclusive no mês anterior à tragédia, o supermercado recebeu um relatório informando quais adequações eram necessárias. O prazo para que elas ocorressem era de 60 dias, mas o incêndio chegou antes. O combate às chamas durou mais de 20 horas e o prédio, que ocupava um quarteirão, foi totalmente destruído. Robson Aparecido de Oliveira, funcionário do supermercado, morreu antes de receber os primeiros socorros na Clínica Santo Antonio. Morreu também o operador de videotape, Ronaldo Gomes, preso aos escombros. Ele era funcionário da antiga TV Campinas<, atual EPTV. Renato Isidoro, cinegrafista da mesma emissora, sofreu ferimentos graves, passou por cirurgia e ficou 15 dias internado no Hospital Irmãos Penteado. Outras cinco vítimas foram atendidas no Hospital Beneficência Portuguesa, cinco no Vera Cruz e cinco no Mário Gatti. Local já tinha sido palco de tragédia O incêndio que destruiu o supermercado de vez não foi a primeira tragédia de sua história. Em 13 de setembro de 1973, durante a execução das obras de ampliação, um deslizamento provocou a morte por soterramento de oito operários que trabalhavam no local. Eles foram atingidos por bloco de terra, paralelepípedos e guias de sarjeta. Vários deles trabalhavam junto à uma viga de fundação onde seria erguida uma coluna de cimento quando o acidente ocorreu. As obras aconteciam onde mais tarde seria o estacionamento subterrâneo. Não houve tempo para nada. Os operários soterrados trabalhavam em um terreno ao lado do supermercado, na esquina das ruas Barreto Leme e Visconde do Rio Branco, no mesmo local onde morreu, anos mais tarde, também soterrado, o operador de videotape.

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