PESQUISA

Transporte público da RMC não atende as demandas da população

Estudo foi feito por Janini Dias da Silva em sua tese de mestrado na Unicamp

Israel Moreira/ israel.moreira@rac.com.br
28/05/2023 às 10:52.
Atualizado em 28/05/2023 às 10:52

Movimentação é sempre muito intensa no Terminal Metropolitano Prefeito Magalhães Teixeira que recebe linhas de Hortolândia, Sumaré e Monte Mor; muitos moradores dessas cidades trabalham em Campinas (Kamá Ribeiro)

A pesquisa de mestrado realizada por meio do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo (FECFAU) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e apresentada pela aluna Janini Dias da Silva, revelou que o transporte público da Região Metropolitana de Campinas (RMC) é insuficiente para atender as demandas da população. A pesquisa foi baseada em outro estudo realizado pela Secretaria dos Transportes Metropolitanos (STM). Nesse estudo, a RMC se divide em 185 zonas de tráfego - áreas que concentram as mesmas características de deslocamento, tais como o local para onde as pessoas se dirigem e se elas vão de carro, moto ou transporte coletivo.

A mestra pela Unicamp enfatiza que a pesquisa contou com sua motivação particular como aluna da Universidade e moradora da cidade vizinha de Holambra. “São várias as dificuldades dos moradores de cidades vizinhas referente à mobilidade urbana com destino a Campinas. A distância, a tarifa e a superlotação, são fatores importantes para a necessidade de se construir outras opções sustentáveis para o transporte público.”

Janini explica que o movimento intermunicipal na RMC é intenso porque Campinas depende da mão de obra das cidades vizinhas, e elas dependem dos serviços oferecidos por Campinas. “Porém, o transporte coletivo não é suficiente para isso e as pessoas dão preferência por transporte individual. O resultado é um trânsito complexo e inseguro”, analisou.

“Diversas informações foram analisadas como renda, local de moradia, acesso a veículos individuais e uso do transporte coletivo para traçar um perfil da mobilidade na RMC com ênfase nos deslocamentos intermunicipais”, observou o professor orientador da pesquisa, Pedro Perez Martinez.

A RMC é a segunda maior região metropolitana do Estado de São Paulo com mais de 3,3 milhões de habitantes. Economicamente, o dinamismo dos seus 20 municípios a coloca entre as regiões mais ricas de São Paulo, responsável por 8,9% do Produto Interno Bruto (PIB) paulista, segundo dados do Plano de Desenvolvimento Urbano Integrado (PDUI) da própria RMC, elaborado pelo governo estadual. A geração de toda essa riqueza, contudo, tem um custo para a rotina de quem vive na região com rodovias congestionadas, nos horários de pico, associadas a poucas opções de transporte coletivo que comprometem a eficiência do sistema.

TRANSPORTE COLETIVO

Alguns aspectos chamaram a atenção da pesquisadora durante o seu trabalho de levantamento das informações. Inicialmente, ficou claro a concentração maior de pessoas que dependem do transporte coletivo na região sudoeste da RMC, nos limites entre Campinas, Hortolândia, Sumaré e Monte Mor. Esses locais coincidem com os eixos das rodovias Anhanguera e Bandeirantes, onde há grande concentração de empresas e, proporcionalmente, a renda dos moradores é menor. “As indústrias se ligam às rodovias para o escoamento de produtos, formando, aglomerados urbanos nessas áreas. As cidades se expandem por esses eixos”, pontuou. Em contraste, a porção leste da região concentra maior renda e o predomínio de viagens em veículos individuais.

Todos os dias na RMC são realizadas 4,7 milhões de viagens, sendo 107 mil delas intermunicipais. Do total, 72,6% são realizadas por meio de transporte motorizado, sendo 60,2% por meios individuais e apenas 39,8% das viagens são feitas em transportes coletivos.

A RMC viveu há 15 anos um “boom” de investimentos nos sistemas viários e incentivo ao crédito para compra de veículos novos e seminovos. Se por um lado, constatou-se uma melhora econômica dessa parcela da população, por outro, viu-se o afastamento e redução de investimentos no transporte coletivo e público.

INVESTIMENTOS

Outro ponto destacado pela pesquisadora é a necessidade de continuarem os investimentos em pesquisas e através delas, o poder público ter um olhar diferenciado para melhorar a condição de vida da população. “É bom ressaltar que uma pesquisa como essa não tem a intenção de apontar os erros ou apenas se revelar como uma crítica vazia e sem fundamento. Essa análise quantitativa foi realizada para auxiliar na construção de novos rumos na mobilidade urbana e sustentável, reduzindo as emissões de carbono e melhorando a realidade dos moradores locais”, alertou Janini, que apresentou sua defesa de mestrado em fevereiro e já anunciou a sequência da pesquisa de doutorado já para o fim desse ano. “Vamos manter a linha de pesquisa, desenvolver novas teses e apresentar novos números para novamente reforçar, a necessidade de melhorar a situação da cidade e do País”, finalizou.

DIFICULDADES

Muitos moradores de cidades da RMC percorrem esse trajeto até Campinas e são muitas as dificuldades. Para Damyllin Souza, moradora do Jardim Amanda, em Hortolândia e que trabalha no Centro de Campinas, o tempo entre a saída das linhas intermunicipais dos pontos e a chegada a Campinas é muito demorado. “Temos problemas com a distância de Hortolândia para Campinas, pois nos horários de pico, tanto manhã quanto à noite, a rodovia SP-101 é intransitável. Em dias de chuva, pode esquecer, chegaremos atrasados aos compromissos profissionais. Além, é claro, do tempo de deslocamento”, lamentou.

A mesma dificuldade relatou Christian Pollak, de 20 anos, morador de Cosmópolis e usuário do transporte público. “Os ônibus estão sempre superlotados. Não há espaço para nada. O horário depois das 18h30 é praticamente impossível de utilizar o ônibus. Se você estiver em qualquer ponto fora do Terminal Metropolitano, as chances dos motoristas não pararem nos pontos são bem prováveis. Já estão todos lotados desde a saída do terminal”, finalizou o jovem.

O atendente Gabriel Henrique Ramos, mora em Hortolândia e trabalha na região da Rodovia Dom Pedro I em Campinas. “Eu utilizo quatro ônibus durante o trajeto de ida e volta. Minha entrada no serviço sendo às 15 horas. Tenho que sair da minha casa às 12 horas. Além de todo esse tempo de percurso, as linhas são superlotadas”, reclamou o atendente.

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