Alternativa não exige qualificação e absorve todo tipo de perfil
Luis Fernando da Silva estuda para se tornar designer de games e garante que com dedicação é possível obter ótimos ganhos (Dominique Torquato/AAN)
A desaceleração no crescimento da economia e o aumento da informalidade no mercado de trabalho ainda impactam os jovens que historicamente sofrem para iniciar sua trajetória profissional em meio a uma recessão que se arrasta há três anos no Brasil. Dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que no segundo trimestre do ano passado, do total de desempregados com idade entre 18 e 24 anos, apenas 25% conseguiram uma nova colocação no mercado de trabalho, enquanto 57% estão desempregados há mais de um ano. Mas esses jovens têm buscado alternativas e uma delas, que não só absorveu parte desse contingentes, como também abriu milhares de oportunidades no País, é a prestação de serviços de transporte por meio de aplicativos. Uma alternativa que não exige qualificação, absorve mao de obra disponível e traz resultados. Os números foram apresentados com a análise de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Nos anos de 2010 até 2013, as condições de empregabilidade eram favoráveis e o nível de oferta de vagas consistente, em um tempo de três anos de ascensão econômica. Em 2015, uma avalanche de demissões. No ano passado, os empregos começaram a voltar, mas é gradativo. A economia deu uma ‘melhoradinha’, mas ainda estamos muito mal”, avalia o economista da Facamp, José Augusto Gaspar Ruas. Segundo ele, o desemprego não é uma situação que atinge apenas os mais jovens. As oportunidades com carteira assinada foram drasticamente reduzidas por conta da situação política e econômica instável. Temos um mercado de trabalho muito frágil ainda”, apontou. Crise atrapalha A pesquisa, que ouviu mil pessoas entre 18 e 30 anos, concluiu que 47% delas não estudam e, dessas, 34% não estudam nem trabalham – 28% estavam desempregadas e o restante nunca trabalhou. “A falta de experiência gera o desemprego entre os jovens, pois falta bagagem. Quando a economia está lá no alto, as empresas contratam e treinam eles, o que não é o caso atualmente”, afirma o especialista. No entanto, com o crescimento na oferta de serviços que utilizam aplicativos como ferramentas de contratação, muitos desses jovens têm conquistado uma colocação no mercado. Esse foi o caso de Luis Fernando da Silva, de 22 anos. Cursando designer de games e faltando um ano para se formar, ele ainda não conseguiu uma oportunidade de trabalho em sua área. “Como estou no começo, fica difícil conseguir logo a inserção no mercado. Então, resolvi ser motorista de aplicativo”, disse. “Sem dúvida, se você tem dedicação, ser motorista dá muito mais dinheiro do que um posto com carteira registrada. Meu sonho é trabalhar fora do Brasil, em Paris. Tenho a esperança de me formar e tentar um emprego lá. Hoje, eu sou embaixador de um dos jogos, o ‘Just Dance’. Enquanto isso, o Uber tem me ajudado.”. Quem vive a mesma situação é Ana Carolina Vaz de Lima Duarte, de 23 anos. Mãe de um menino de três e ainda decidindo o rumo na vida universitária, ela sentiu dificuldade para conseguir emprego. “O mercado está muito ruim e eu precisava ajudar o meu marido em casa, ainda mais com uma criança. Decidi arriscar com os aplicativos de transporte e estou me dando muito bem. Tenho total flexibilidade e o ganho vale a pena”, afirma. “Enquanto ganho dinheiro, vou decidindo o meu futuro. Afinal, muitos colegas motoristas estão pagando os estudos com os ganhos com os aplicativos.” Ela pensa em cursar Educação Física. Vantagens Essa flexibilidade, segundo o head de Operações da Cabify no Brasil, Luis Saicali, é uma das principais vantagens da plataforma que invadiu o mercado. “Na verdade, temos todo o tipo de perfil entre os nossos motoristas. De jovens desempregados a pessoas de meia idade que buscam algum complemento. Além da flexibilidade de horário, já que o parceiro pode escolher o período em que quer trabalhar, não é necessário ter veículo próprio, o que facilitou a vida dos jovens que estão começando a carreira e ainda não tiveram a oportunidade de comprar um carro”, explicou. Para ele, a plataforma pode ser um trampolim na vida profissional dos jovens. “Essa ausência de restrição permite que, enquanto não colocado no mercado de trabalho, esse público possa levantar recursos e investir no seu futuro. Mesmo as pessoas que não têm tanta facilidade com a tecnologia são treinadas para conseguir recuperar suas economias enquanto trabalham com um aplicativo”, explicou. Para o economista da Facamp, os aplicativos têm tendência muito grande de transação virtual. “Eles centralizam a operação e eliminam vários custos. Estão crescendo cada vez mais por conta da facilidade. Conforme vão avançando os meios de pagamento online, aumenta muito a confiança para o consumidor, como de uns cinco anos para cá”, avaliou Ruas. “Pelos motoristas de aplicativos serem autônomos, eles têm uma tendência a serem mais informais, sem carteira assinada, economia mais volátil, tendência de crescer, com salários até melhores”, disse. Mas com as mudanças políticas, segundo ele, a tendência é que os números da economia demorem ainda mais para crescer. “A partir deste ano, a expectativa de melhora é gradativa e muito lenta. A forma como a economia está sendo proposta, não privilegia o crescimento econômico e isso continuará gerando desemprego por mais algum tempo”, finalizou. (Colaborou Bruna Pereira/AAN)