Crescimento da frota, hoje de 782 mil veículos, satura área central e grandes corredores viários
Movimento na tarde desta segunda-feira na Avenida Francisco Glicério: excesso de carros, ônibus e moto em uma das vias mais problemáticas (Rodrigo Zanotto/Especial para a AAN)
Quem encara o volante todos os dias em Campinas não precisa de estatísticas para saber: o trânsito da cidade já está estrangulado. Com a pesada frota de 782, 2 mil veículos — relação de um para cada 1,39 habitante, uma das maiores do Brasil —, o município tem hoje 11 pontos críticos, identificados pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec), que precisam de medidas urgentes. A região mais problemática é a central, mas avenidas como a John Boyd Dunlop, Aquidabã, Lix da Cunha e Prefeito Magalhães Teixeira também são motivos de dor de cabeça para os motoristas.
“Eu passo tanto estresse no dia a dia pelas ruas que, nos finais de semana, eu nem quero pegar o carro para sair”, diz o motorista profissional Jesus Roberto Teófilo.
O secretário de Transportes, Sérgio Benassi, afirma que este é realmente um momento crucial para Campinas. Agora é a hora de a cidade pensar em como quer viver nas próximas três décadas. “Temos que ver as experiências negativas e não cometer os mesmos erros. Temos que ter a sensibilidade de tomar decisões estratégicas olhando 30 anos para frente. Campinas está em uma fase em que ela tem que reequilibrar as suas opções estratégicas. Conscientemente ou não, ela construiu uma opção pelo transporte individual. Agora, precisa investir e privilegiar o transporte público coletivo”, afirma Benassi.
“Esses gargalos que a reportagem aponta estão na malha urbana, mas também precisamos agregar os gargalos da malha rodoviária que corta a cidade, que são maiores ainda.” Benassi admite que é preciso fazer ainda mais do que está sendo planejado para o futuro. “Vamos ter dois grandes corredores de ônibus, mas, na verdade, nós precisaríamos de sete”.
No Centro, agências bancárias, comércio e a reduzida oferta de vagas para estacionamento são fatores que contribuem para o problema do tráfego. Uma das propostas da Prefeitura é a implantação da chamada contrarrótula, formada pelas vias Andrade Neves, Barão de Itapura, Jorge Krug, Santos Dumont, Olavo Bilac, Júlio de Mesquita, Itu, Antonio Cesarino, Waldemar Paschoal, José Nicolau Maselli e Praça Marechal Floriano (Estação Cultura).
Outra medida apontada pelos técnicos para desafogar o Centro é a conclusão do Anel Rebouças, que vai evitar a passagem de muitos veículos que usam a área apenas para ir a outros bairros.
Porém, para colocar o projeto do Anel Rebouças em prática, ainda é necessária a conclusão da ligação nos dois sentidos entre a Rua Doutor Pedro Salomão José Kassab e a Avenida José Roberto Magalhães Teixeira. Até o momento, o que existe é apenas a estrutura do sentido bairro-Centro. A pista dá acesso ao túnel Joá Penteado e é usada provisoriamente como via de dois sentidos. Segundo a Prefeitura, o projeto já existe e caminha para um detalhamento. A obra, orçada em R$ 18 milhões — com o dinheiro já disponível —, deve ser entregue até o final do ano. Uma terceira medida para o Centro é repensar o projeto de garagens subterrâneas em parceria com a iniciativa privada.
Nos demais bairros, é comum encontrar dificuldades nos acessos aos campi da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Facamp e PUC-Campinas pela manhã e final da tarde. O mesmo ocorre no Swift, na vizinhança da Universidade Paulista (Unip). No Castelo, na Vila Padre Anchieta, no acesso a Barão Geraldo pela Rodovia Professor Zeferino Vaz (Tapetão) e no distrito de Nova Aparecida o trânsito lento faz parte da rotina de manhã e à tarde. De acordo com a Emdec, no caso de Nova Aparecida, a ideia é construir um viaduto sobre a Rodovia Anhanguera, criar novas alças de acesso na entrada da Vila Padre Anchieta e estabelecer novas vias na região, tanto no bairro como nas proximidades do Techno Park Campinas, melhorando o acesso para a rodovia.
A Emdec informa que, diariamente, são realizados monitoramentos dos locais mais problemáticos vias câmeras da Central Integrada de Monitoramento de Campinas (Cimcamp). Agentes da Mobilidade Urbana, os amarelinhos, são deslocados para realizar operações nas vias. As informações das lentidões e outras ações ainda são divulgadas no sitewww.emdec.com.br. A atualização das informações ocorre a cada hora, no período das 7h às 19h.
Licitação
Ainda esta semana, Benassi promete abrir a licitação para a elaboração do projeto básico para a implantação de corredores do BRT (Bus Rapid Transit) — que poderá transportar até 40 mil passageiros/hora em cada sentido nos seus 40 quilômetros de trajeto. O projeto tem até o dia 30 de outubro para ser apresentado ao Ministério das Cidades para que a verba não seja perdida. A partir disso, a licitação poderá ser iniciada. A perspectiva é entregar a obra em 2016. O orçamento é de R$ 340 milhões.