Em 2024, 155 pessoas perderam a vida, 84 em rodovias e 71 nas vias urbanas
Pedestres atravessam a Avenida Campos Sales no cruzamento com a Avenida Senador Saraiva, com o sinal fechado: local é um dos pontos críticos de atropelamento no Centro (Rodrigo Zanotto)
O trânsito em Campinas mata uma pessoa a cada dois dias. Em 2024, foram 155 pessoas que perderam a vida, sendo 84 em rodovias e 71 nas vias urbanas. Os números foram apresentados ontem durante o lançamento do Maio Amarelo, movimento nacional que visa a redução dos sinistros no trânsito. O perfil principal das vítimas são homens, 133, especialmente na faixa dos 18 aos 29 anos. O número de mortes no trânsito na cidade vem mantendo a média dos últimos quatro anos. Em 2021 e 2022 foram exatos 151 em cada ano; em 2023, morreram 159.
O ato de beber e dirigir foi apontado como o principal fator de risco para os sinistros, vitimando 50 pessoas em 2024. Segundo a Emdec, dirigir após consumir bebida alcoólica aumenta em 17 vezes o risco de morte no trânsito. "Não sei se é a adrenalina ou a falta de educação, o que sabemos é que são jovens, que normalmente consumiram bebida alcoólica, por isso a importância de fazermos nosso trabalho", afirmou o presidente da autarquia, Vinicius Riverete.
Ele deu como exemplos o reforço na sinalização das vias urbanas, além da instalação de lombadas, com o objetivo de reduzir a velocidade em vias consideradas mais perigosas. Também faz parte das obras constantes de reconfiguração das vias públicas a sinalização semafórica, instalação de rotatórias, aparelhos piscantes para chamar a atenção do condutor, entre outros dispositivos. Riverete também destacou que a realização constante de blitze, realizadas em parceria com a Polícia Militar, é fundamental para coibir o comportamento de risco dos condutores. "Uma pessoa que é pega em uma blitz com certeza vai pensar duas vezes antes de pegar o carro após ter ingerido bebida alcoólica".
O prefeito Dário Saadi (Republicanos), durante a apresentação da campanha, ao citar as ações do poder público para mitigar as sinistralidades no trânsito, fez uma provocação. "Qual é a responsabilidade do poder público quando um motorista extrapola o limite de velocidade ou bebe antes de dirigir?". O prefeito ponderou que a responsabilidade da Prefeitura e da Emdec é manter a sinalização e o sistema viário adequados para o deslocamento seguro das pessoas, além de aumentar as campanhas e ações em prol da conscientização dos motoristas. Para ele, a morte de uma pessoa no trânsito a cada dois dias é um drama que precisa ser combatido, para além dos números estatísticos. "A estatística é fria quando ela é da família dos outros".
Com relação ao excesso de velocidade, apontado pela Emdec como um dos principais fatores de risco, a implementação de radares foi aferida como a principal estratégia para coibir os motoristas de circularem acima da velocidade permitida. Saadi, refletiu sobre a utilização dos radares, afirmando que a instalação dos equipamentos é uma questão polêmica, pois existe uma parcela da população que acredita que a finalidade é aumentar a arrecadação através das multas. "(Os radares) têm que ser instalados com muito cuidado, sem exagero, mas em algumas vias onde o risco existe, eles foram implantados".
MOTOCICLETAS E PEDESTRES
Das mortes no trânsito, a primeira causa são os sinistros envolvendo motocicletas. Em 2024, foram 72 fatalidades, representando 46,45% do total de mortes, uma queda de 13,25% com relação a 2023, que registrou 83 ocupantes de motocicletas que perderam a vida. Mesmo com a queda, o número do ano passado é próximo de 2021 e 2022, quando foram registrados 69 e 71 óbitos respectivamente. Ocorrências envolvendo pedestres são a segunda causa das mortes no trânsito. Mantendo também a estabilidade no número dos últimos quatro anos, em 2021 foram 41 mortes, 2022, 48, em 2023 e 2024 foram registrados 44 casos.
O montador de móveis, Leandro Bogea, 34, depende da moto para se deslocar para o trabalho. Há seis anos ele sai de Sumaré para trabalhar em Campinas, utilizando principalmente a via Anhanguera para o deslocamento diário. "É complicado, tem muita falta de respeito, principalmente com caminhões que não dão preferência para os motoqueiros de jeito nenhum". Ele contou que nunca sofreu um acidente e, como motivo, destacou que evita transitar entre os veículos, mas confessou que na rodovia "às vezes dou uma esticadinha", se referindo a andar mais rápido. "Mas aqui na cidade eu ando devagar, não gosto de arriscar e poder causar um acidente".
Já Rafael Barroso Crispim sofreu três acidentes com sua moto, dois foram colisões com veículos, que segundo ele fizeram uma conversão indevida, sem sinalizar com seta a mudança, e uma queda no asfalto liso por conta da chuva. Nenhuma das ocorrências foi considerada grave. Ele tem 28 anos e trabalha como personal trainer. A utilização de moto foi uma opção para economizar com o consumo de combustível, uma vez que ele utiliza o veículo para se deslocar no atendimento aos clientes. "Confesso que tenho medo, não gosto de moto, mas é preciso por conta dos custos com combustível". Como principais fatores de riscos para os motociclistas, Crispim destacou a imprudência, tanto dos condutores de carros quanto de motos, ao transitar com a motocicleta pelos corredores entre os veículos. "É perigoso pois existem muitos pontos cegos, difíceis de enxergar pelos condutores dos carros".
VIAS MAIS PROBLEMÁTICAS
A avenida Jonh Boyd Dunlop se destaca como a via que mais registra sinistralidades no trânsito, 10% das mortes ocorreram na avenida, considerada a mais perigosa de Campinas, onde circulam 60 mil veículos diariamente. Os pontos mais problemáticos são nas intersecções com a avenida Professor Mario Scolari, Rodovia dos Bandeirantes e Praça do Balão do Jardim Londres. De acordo com a Emdec, a John Boyd é alvo constante de melhorias que visam a redução dos casos. Em 2024 foram instalados quatro novos radares em locais com sinistros graves. A autarquia também instalou quatro rotas para ciclistas na região da avenida, que em 2021 registrou 13 óbitos, já em 2024 foram registrados 7 óbitos na avenida. No Centro da cidade, os cruzamentos com mais ocorrências são os das avenidas Andrade Neves com Barão de Itapura e Dr. Campos Sales com Senador Saraiva.
DETRAN-SP
Na tentativa de conscientizar a população sobre os riscos de beber e dirigir, Cassiano Ramos, superintendente do Detran-SP em Campinas, disse que em parceria com a Emdec, o órgão realiza campanhas educativas nos bares da cidade. Além disso, ele destacou as ações da operação Direção Segura, que envolve o Detran, Polícia Militar, Polícia Civil e a Polícia Científica, com a realização regular de blitz, que têm por objetivo a intenção de fiscalizar e promover a conscientização sobre uma direção mais segura e responsável. "A fiscalização é um complemento da educação no trânsito, para que realmente tenha essa mudança de comportamento do cidadão, que é o Respeito à Vida".
De acordo com o DetranSP, no mês passado a entidade de trânsito bateu um recorde histórico no combate à alcoolemia, que é o ato de dirigir sob o efeito de álcool, com mais de 66,8 mil motoristas abordados e cerca de 2,3 mil autuados no Estado de São Paulo. Em Campinas, o Detran-SP realiza algumas ações em defesa dos pedestres no trânsito. As atividades vão fazer uso de diretrizes e materiais da campanha "Sinal de Respeito", lançada em julho passado para lembrar a importância da faixa de pedestres, pintada sobre o asfalto para proteger o elo mais frágil do trânsito. Hoje, dia 8, uma ação está prevista para ocorrer no Balão do Londres, das 8h30 às 10h. Amanhã, dia 9, a partir das 10h a ação ocorrerá na Estação Cultura.
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