PASSOS LENTOS

Trâmite burocrático atrasa a ação de manejo de capivara

Enquanto isso, população deve tomar cuidado para evitar contágio de doenças

Luiz Felipe/Leite luiz.leite@rac.com.br
17/07/2024 às 07:37.
Atualizado em 17/07/2024 às 09:59

Francis Flosi, médico-veterinário e diretor da Faculdade Veterinária Qualittas, destacou que as capivaras (foto) são animais considerados interessantes, principalmente pelas crianças, mas que os contatos com elas devem ser restringidos ao máximo possível (Rodrigo Zanotto)

Mais de um ano após o início do surto de febre maculosa em Campinas, a situação envolvendo as capivaras da cidade, uma das hospedeiras do carrapato-estrela, transmissor da doença, não apresentou mudanças significativas. O plano da Prefeitura de esterilizar os espécimes do município segue sem avanços práticos. Paralelamente, especialistas ouvidos pelo Correio Popular alertam para os cuidados necessários que a população deve ter com esses animais, considerando o atual período de férias escolares e o consequente aumento de movimentação nos parques públicos locais, onde parte dos mamíferos está localizada. O objetivo é evitar a proliferação de doenças transmitidas pelos hospedeiros do roedor.

O surto de febre maculosa de 2023 em Campinas resultou em sete mortes, de um total de 20 casos positivos da doença. Como resposta, a Prefeitura abriu uma licitação, cujo resultado foi homologado em fevereiro deste ano, para contratar um serviço médico veterinário com o intuito de esterilizar aproximadamente 200 capivaras que habitam os parques públicos da cidade. O custo estimado do serviço, segundo a Administração Municipal, é de R$ 218 mil.

Em 5 de maio deste ano, o Correio Popular noticiou que a Administração Municipal aguardava uma autorização do Governo do Estado para prosseguir com a ação. Questionada na ocasião, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) informou que os serviços de captura e realização dos procedimentos cirúrgicos nas capivaras dependiam da análise de novas informações solicitadas à Prefeitura de Campinas. Em nova manifestação, após questionamento da reportagem feito na última segunda-feira, 15, a pasta estadual afirmou ter analisado as informações apresentadas pelo município. A secretaria, por meio da Coordenadoria de Fauna Silvestre do Estado, encaminhou em 10 de julho uma solicitação de esclarecimentos complementares quanto ao plano de trabalho apresentado pela Prefeitura de Campinas e dos documentos já apresentados no pedido de manejo de fauna e da autorização para a esterilização das capivaras.

Rodrigo Pires, assessor do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal (Dpbea) de Campinas, afirmou que todas as informações necessárias serão transmitidas ao Governo do Estado até o início de agosto. Apesar de não especificar uma data exata para a entrega do que foi solicitado, ele está otimista quanto à concessão das autorizações pela gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos). "Trata- se de uma etapa burocrática. Nós submetemos a documentação e as informações pedidas pelo Governo do Estado e na semana passada tivemos uma devolutiva, mas não em relação ao mérito dos pedidos (manejo de fauna e autorização para as esterilizações das capivaras). Nessa devolutiva, eles pedem ainda alguns outros esclarecimentos, como a complementação da documentação de funcionários da empresa que ganhou a licitação, a qualificação de algumas áreas em relação à infestação de carrapatos, etc. Então está nessa etapa, que é bem mais rápida porque 95% das informações já estão com a pasta de Meio Ambiente do Estado. Faremos agora apenas alguns esclarecimentos", explicou Pires.

ORIENTAÇÕES

O carrapato-estrela (Amblyomma sculptum), espécie comum em várias regiões do Brasil, é conhecido por transmitir a bactéria responsável pela febre maculosa, uma doença potencialmente fatal que se manifesta em média sete dias após a picada. Esse carrapato, assim como outros tipos, utiliza animais como bois, cavalos, cães e capivaras como hospedeiros, preferindo ambientes com vegetação alta, úmidos e com temperaturas moderadas.

Segundo o médico-veterinário Igor Soffo, professor do Centro Universitário Max Planck (UniMAX Indaiatuba), a chegada das férias escolares em julho resulta em um aumento da procura por passeios ao ar livre, em locais como os parques municipais de Campinas. "As capivaras geralmente estão localizadas em áreas como esses parques. Com uma maior presença das pessoas nessas áreas, há um aumento da chance de contato com esses mamíferos, que hospedam os carrapatos, transmissores de várias doenças como a babesiose, anaplasmose e erliquiose. No entanto, a mais fatal, sem dúvidas, é a febre maculosa", afirmou Soffo.

O especialista ressalta a importância de os frequentadores dos parques municipais seguirem uma série de recomendações para evitar a proliferação das doenças transmitidas pelos carrapatos. "Se você vai frequentar uma área como um parque ou uma área de mata, deve utilizar calça comprida, botas com meias, para evitar que o carrapato chegue na região da virilha, que é um pouco mais quente. Também é ideal utilizar roupas com mangas compridas e, se possível, um chapéu, além de verificar o próprio corpo sempre que voltar dessas áreas de mata. Isso porque o carrapato demora, em média, quatro horas para transmitir a bactéria, então é importante ter esse cuidado não só durante, mas também após o passeio. É fundamental não tratarmos a capivara como uma vilã, muito pelo contrário, já que ela faz parte do ecossistema e nós, humanos, é que invadimos seu habitat natural", explicou Soffo.

Francis Flosi, médico-veterinário e diretor da Faculdade Veterinária Qualittas, destacou que as capivaras são animais considerados interessantes, principalmente pelas crianças, mas que os contatos com elas devem ser restringidos ao máximo possível. "É primordial evitar o contato com animais silvestres, principalmente as capivaras. São animais que, até pela constituição física deles, chamam a atenção. Mas é ideal evitar essa proximidade. Também é recomendado evitar sentar em locais gramados, onde é de conhecimento que existam capivaras e outros hospedeiros dos carrapatos nos arredores. Usar repelentes é uma boa dica. E claro, se levar um animal de estimação em parques ou locais similares, ficar atento à presença de carrapatos e manter as visitas aos veterinários em dia", orientou Flosi.

Por fim, Flosi pontuou que é fundamental evitar arrancar o carrapato preso ao corpo usando as mãos ou esmagá- lo, pois é nele que está a bactéria. "O ideal seria retirálo cuidadosamente com uma pinça e desinfetar muito bem o local da picada. Aos primeiros sintomas, como febre ou mal-estar, é necessário procurar o serviço médico público mais próximo da sua casa", concluiu.

PRESENÇA

Milene Bernardino, moradora do distrito de Barão Geraldo, frequenta o Parque do Taquaral diariamente para caminhar. Ela comentou que acha as capivaras "bonitinhas", mas está ciente dos riscos das doenças que podem ser transmitidas pelos carrapatos. "Gosto de vê-las aqui no Taquaral. Sempre que vejo algumas reunidas, tiro algumas fotos, mas não de tão perto. Elas não incomodam ninguém. Porém, sempre observo se não levo algum carrapato junto comigo", afirmou Milene.

Keize Grazieli Rodrigo Ferreira, amiga de Milene, também caminha no Taquaral diariamente para se exercitar. Ela compartilha uma opinião semelhante sobre as capivaras e a prevenção de doenças potencialmente fatais. "As capivaras parecem tão tranquilas, tomando sol e etc. Na verdade, nós, humanos, é que estamos atrapalhando o bem-estar delas, já que ocupamos grande parte dos espaços que esse tipo de animal já habitava antes. Em relação aos carrapatos, sempre uso repelentes como prevenção", disse Keize.

O estudante Lucas Romão Dornela, de 18 anos, está aproveitando as férias da irmã de cinco anos, Jéssica, para levá-la para passear. Moradores da região do distrito do Campo Grande, eles foram ao Taquaral para dar uma volta e se depararam com um grupo numeroso de capivaras. "Minha irmã adora esses bichos, principalmente os filhotes. Mas não deixo ela chegar perto, pois infelizmente as capivaras acabam sendo hospedeiras de alguns tipos de carrapato, não é mesmo? Mas de forma geral, são animais bem calmos. São quase parte da paisagem dos parques da cidade", finalizou Lucas.

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