MEMÓRIA

Tragédia no Rio alerta Campinas

Boa parte dos museus da cidade não tem vistoria dos bombeiros e funciona em situação precária

Maria Teresa Costa
03/09/2018 às 21:44.
Atualizado em 22/04/2022 às 12:19
Palácio dos Azujelos, onde está o MIS: espaço, que guarda importante acervo de fotos, filmes e discos, precisa de reforma no telhado e na rede elétrica (Leandro Ferreira/AAN)

Palácio dos Azujelos, onde está o MIS: espaço, que guarda importante acervo de fotos, filmes e discos, precisa de reforma no telhado e na rede elétrica (Leandro Ferreira/AAN)

A tragédia que ocorreu no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, na noite de domingo, pode se repetir em Campinas e destruir importantes acervos da história da cidade e de seu patrimônio. Boa parte dos museus não tem o auto de vistoria dos Bombeiros (AVCB), entre eles, os administrados pela Prefeitura e os do Centro de Ciências Letras e Artes, que enfrentam também precariedade nas instalações elétricas e falta de equipamentos, como detectores de fumaça e de calor. Campinas é a cidade brasileira, fora das capitais, com o maior número de espaços de guarda de acervos, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). São 21 locais, cadastrados no Sistema Nacional de Museus, especializados em arte sacra, imagem e som, além de personagens da história. O prefeito Jonas Donizette (PSB) afirmou ontem que a história da humanidade mostra que a fatalidade de incêndio é algo que ninguém está livre. “O que eu posso garantir é que em Campinas nós temos uma parceria muito boa com os Bombeiros. Além da preocupação com os viadutos, nós temos feito a preservação das nossas estruturas de concreto. É uma manutenção constante”, disse. Ele afirmou também que na área de museologia, todos os prédios públicos têm seus equipamentos e as medidas de prevenção. Os prédios, no entanto, têm carências que podem comprometer seus acervos. “A gente sabe a realidade, não é ignorância, não é imprudência. É falta de recursos”, disse o secretário municipal de Cultura, Ney Carrasco. Segundo ele, os museus cumprem as exigências de extintores, hidrantes, mas não têm dispositivos mais sofisticados que devem existir nesses espaços, especialmente naqueles onde os acervos são baseados em papéis e que um eventual incêndio não pode ser combatido com água. “Queríamos ter detectores de fumaça, de calor. Mas não temos dinheiro para isso”, afirmou. Carrasco disse que, em 2013, quando assumiu, o estado dos equipamentos culturais estava muito precário e que algumas intervenções emergenciais começaram a ser feitas, ao mesmo tempo que projetos para recuperações mais profundas nas estruturas foram elaborados, como no Museu da Cidade, Palácio dos Azulejos onde funciona o Museu da Imagem e do Som, Museu de História Natural do Bosque. “Mas aí veio a crise e não tivemos receita para implementar as reformas” , justificou. Parceria com a sociedade “Os governos, sozinhos, não conseguem dar conta. É preciso o envolvimento da sociedade civil nessa hora. Eu faço um chamado à sociedade para nos ajudar a recuperar nossos edifícios históricos”, disse o secretário, citando como um exemplo positivo a recuperação do prédio do Jockey Clube, no Centro, que está ocorrendo com a venda do potencial construtivo e cuja obra foi novamente mostrada pelo Correio na edição do último sábado. Museu da Cidade Campinas tem alguns exemplos da precariedade com que é tratado seu acervo histórico, como o caso do Museu da Cidade, que estava instalado no edifício Lidgerwood, prédio onde tudo precisa ser feito, desde recuperação do telhado até as instalações elétricas. O acervo foi retirado de lá no ano passado e hoje tem parte em exposição na Casa de Vidro (que tem alvará dos Bombeiros) e outra parte guardada em reservas técnicas de outros museus. “Quando tirei o acervo do prédio da Lidgerwood, apanhei de todo lado. Mas fiz isso justamente para evitar uma tragédia como a que ocorreu no Museu Nacional”, disse. O prédio pertence ao Estado, e a Prefeitura está em negociação para que ele venha para o Município. O Palácio dos Azulejos, que guarda importante acervo de fotos, filmes e discos, precisa de intervenções no telhado, nas instalações elétricas, mas, segundo o secretário, falta recurso. Carrasco disse que investimentos em bens culturais são uma necessidade, mas a relação com a sociedade para que isso ocorra é complicada, diante das necessidades de recursos para saúde, educação, saneamento. “Se você gasta R$ 2 milhões em um museu é criticado, porque na avaliação de muitos, o dinheiro deveria ser usado para recuperar centro de saúde. Quando acontece uma tragédia como a do Museu Nacional, há uma comoção geral, mas depois a sociedade esquece e não cobra” , afirmou.

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