CRIME ORGANIZADO

Tráfico lavou R$ 2,2 milhões via alternativos, calcula MP

Segundo Gaeco, desse montante, R$ 870 mil seriam repasses de subsídios fornecidos pela Emdec

Alenita Ramirez/ [email protected]
12/08/2023 às 08:14.
Atualizado em 12/08/2023 às 08:14
Garagem da Altercamp, localizada no bairro Ponte Preta: alvo de mandados de busca e apreensão (Rodrigo Zanotto)

Garagem da Altercamp, localizada no bairro Ponte Preta: alvo de mandados de busca e apreensão (Rodrigo Zanotto)

A organização criminosa que comanda o tráfico de drogas em diversas áreas de Campinas, inclusive utilizando tubulações pluviais na Vila Formosa como esconderijo e ponto de venda, lavou aproximadamente R$ 2,2 milhões por meio de três linhas do transporte público alternativo, de acordo com estimativas do Ministério Público de São Paulo (MP-SP). Os donos dessas linhas, associados à Cooperativa Altercamp, são suspeitos de atuar como "laranjas", cedendo seus nomes para os traficantes. Os três indivíduos estão sob investigação e enfrentam acusações em liberdade, sujeitos a medidas cautelares.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) relatou que a quantia mencionada, referente aos anos de 2018 e 2019, consiste nos valores recebidos pelos proprietários das linhas. Desse montante, cerca de R$ 870 mil teriam sido repassados aos criminosos através de subsídios fornecidos pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). "Uma parte dos recursos obtidos pelos traficantes era reinvestida na aquisição de mais drogas", afirmou o promotor Felipe Bertolli.

Os permissionários das linhas investigados operavam veículos com identificação numérica 093, 095 e 351, que realizavam itinerários nas rotas 249 (Jd. Flamboyant/Parque dos Eucaliptos), 341 (Jd. São Gabriel), 349 (Vila Formosa) e 368 (Jd. Itatiaia). Vale ressaltar que uma dessas rotas abrange o bairro onde o Gaeco e a Polícia Militar (PM) descobriram o tráfico subterrâneo.

Segundo o promotor Bertolli, a investigação revelou que os proprietários das linhas tinham dois cúmplices encarregados das permissões, responsáveis inclusive por coletar dinheiro nos pontos de venda de drogas. Esses recursos eram utilizados para despesas relacionadas à manutenção dos ônibus, pagamento de motoristas e outras obrigações ligadas às permissões. A exploração do serviço de transporte público possibilitava aos criminosos mascarar a origem ilícita dos fundos, permitindo que ao final eles recebessem valores originados das passagens, subsídios e publicidade, cuja natureza criminosa dos recursos era inicialmente ocultada, explicou o promotor.

Durante a terceira fase da Operação Sumidouro, desencadeada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em conjunto com o 1º Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) no dia 7 de julho, surgiu a evidência de que os funcionários em questão foram contratados diretamente pelos líderes do tráfico. O envolvimento dos permissionários no âmbito da organização criminosa veio à tona durante essa operação, cujo endereço de um dos mandados de busca e apreensão foi na sede da Altercamp, localizada no bairro Ponte Preta.

O total de 23 indivíduos foi submetido a prisões temporárias de 30 dias no âmbito da Operação Sumidouro. Essas prisões foram posteriormente prorrogadas por mais 30 dias, permitindo ao Gaeco completar suas investigações.Além do processo de lavagem de dinheiro, o Gaeco também está em processo de averiguação para determinar se houve ou não pagamentos de propina para garantir uma fiscalização mais branda nas atividades das três linhas em questão.

Em resposta, a Emdec divulgou uma nota informando que a sindicância interna designada para examinar as denúncias foi prorrogada por mais 30 dias. Nesse período, os materiais coletados pela comissão serão minuciosamente analisados. A nota ressaltou a complexidade do assunto e mencionou que quaisquer informações acerca dos resultados da sindicância só serão divulgadas após sua conclusão.

As recentes divulgações do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) foram contestadas pela advogada da Cooperativa Altercamp, Daniela Giungi Waldhue, que enfatizou que a entidade age unicamente como uma prestadora de serviços para os permissionários. Ela sublinhou que a cooperativa não exerce controle sobre a vida pessoal dos associados.

"A Altercamp não possui linhas. As linhas de transporte são da Emdec. Cada permissionário tem seu ônibus alocado em uma determinada linha. E as linhas que se encontram na região que abrange o atendimento da Altercamp, os permissionários são associados a entidade para utilizar os serviços de apoio, que é a finalidade da cooperativa. Nos causa estranheza essa afirmação. Pois o calculo feito baseado na media de passageiros transportados por cada veiculo. Logo esse montante refere-se as passagens recebidas por estas 3 permissões neste período. Sendo certo que a Prefeitura paga os subsídios públicos somente para os veículos que operam efetivamente. Logo se os permissionários eram laranjas ou não (objeto da investigação) os ônibus efetivamente trabalharam e transportaram passageiros" escreveu Daniela.

"A Cooperativa não faz 'tratativas' com organização criminosa alguma. Se a pessoa tem uma permissão no nome dela, e a linha do seu ônibus esta na região da Cooperativa, ela ira realizar os serviços de apoio. Não temos liberdade e nem poder de polícia para fiscalizar a vida privada de cada permissionário. O nosso trabalho é dar todo o apoio logístico para que o permissionário possa cumprir a ordem de serviço dada pela Emdec. Seja ofertando oficina, lavagem, abastecimento, seja no rastreio, controle de horários. Nesse sentido, todos os permissionários tinham contato com os funcionários e cooperados da Cooperativa, não havendo como afirmarmos antes da conclusão da investigação se são laranjas ou não. Sabemos apenas que possuíam contrato valido com a Prefeitura", acrescentou.

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