Localizada em uma área de preservação permanente, empresa fabricante de produtos químicos recicla 100% dos resíduos gerados
Instalada em uma área de preservação permanente, que é um fragmento de Mata Atlântica, a Trading Care investe em ações de sustentabilidade (Divulgação)
Quem passa pela Rodovia Anhanguera, na altura do bairro Joapiranga, em Valinhos, mal percebe sua presença. No máximo, enxerga o telhado de um galpão cercado por árvores em uma área de preservação permanente (APP) de um fragmento de Mata Atlântica onde a flora e a fauna silvestres se proliferam. O prédio é a sede da Trading Care, uma empresa 100% nacional que demonstra que uma fábrica de produtos químicos industriais pode coexistir com a natureza, com princípios de respeito ao meio ambiente e sustentabilidade.
Essa é base de ação desde que o grupo se instalou no local em 2015, quando transferiu a planta de Campinas para Valinhos, onde hoje ocupa uma área de aproximadamente 18 mil metros quadrados (m²). As ausências de fumaça, cheiro e barulho são indicadores dessa convivência harmônica.
“Nós realizamos a reciclagem de todos os materiais que usamos no processo. Reciclamos 100% de tudo que é utilizado para fabricar nossos produtos”, explica a diretora industrial da Trading Care, Lilian Marescalchi. Em 2023, a empresa gerenciou 145,64 toneladas de materiais. Entre eles, 58,58 toneladas de papel e papelão, evitando a extração de 1.172 árvores, e 28,47 toneladas de madeira, convertidos em 14 megawatts de energia por meio da biomassa. Se fosse transformada em eletricidade, seria suficiente para abastecer 13.860 residências por um mês. Considerando a média apontada pelo Censo 2022 de 2,72 moradores por casa, são 37.700 pessoas, o equivalente a aproximadamente 30% de toda a população de Valinhos, composta por 126.375 habitantes.
A indústria também garante a reciclagem da totalidade das embalagens plásticas utilizadas em seus produtos. Isso é feito por meio da compra de crédito de plásticos reciclados, com todo processo controlado por intermédio de notas fiscais e laudo fornecidos por parceiros, documentos passíveis de controle oficial do processo de logística reversa. A iniciativa resultou no gerenciamento de 58,58 toneladas de plástico, prevenindo a extração de 5.858 litros de petróleo. Além disso, a medida evita o descarte irregular de plástico no meio ambiente, onde leva de 450 a 500 anos para se decompor.
OUTROS MATERIAIS
Todas as árvores de 40 espécies nativas existentes na área da empresa são numeradas e auditadas frequentemente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O cuidado envolve também outros materiais gerados pela indústria. “Todo o efluente gerado por nossos processos são enviados para tratamento para garantir que essa água volte para o meio ambiente de forma correta”, diz Lilian Marescalchi. Além disso, toda a linha de produção e o entorno da fábrica são cercados por barreiras de contenção para evitar que qualquer vazamento escape desses limites. São canaletas e ralos horizontais, por exemplo, que direcionam o líquido para os tanques de armazenamento. De lá, eles são transferidos para a empresa responsável por fazer o tratamento antes do descarte final.
A diretora da Trading Care destaca que o maior desafio enfrentado foi o de instalar uma indústria química dentro da área de preservação, algo que foi feitopensando no cuidado com essa área e realizando todas as análises necessárias para garantir a contribuição com o meio ambiente. Esse controle envolve a análise diária da água usada para consumo humano e nos processos industriais, além dos efluentes gerados e também do lago existente dentro da área da planta.
Por estar em uma APP, os cerca de 250 colaboradores convivem diariamente com a fauna da mata. São saguis, esquilos, capivaras, lagartos, aranhas, cobras e outros animais que passam por suas instalações. A orientação é evitar o contato com eles e não alimentá-los, para que não haja interferência na vida selvagem. “É comum os saguis aparecerem perto da área do refeitório”, conta Lilian Marescalchi. No local, há uma placa orientando os funcionários a não darem comida para os animais.
DE PONTA A PONTA
A preocupação ambiental ocorre em todas as etapas da empresa, desde as matérias-primas usadas em suas linhas de produtos para limpeza de automóveis e cuidados com cães e gatos até o descarte, ressalta o CEO da Trading Care, Rodrigo Boaventura. “O conceito como um todo nasce de uma estratégia, que é pegar desde a ponta, que é a captação de matériaprima, desenvolvimento da embalagem mais correta, processo produtivo, até o descarte dos materiais.”
Essa política levou a indústria a fazer, em 2021, a troca de seus equipamentos da linha de produção por outros que gastam menos energia elétrica e reduzem o gasto de matériaprima ao evitarem o desperdício. A empresa desenvolve novos projetos em busca de uma atuação mais ecológica. Um deles é a implantação de placas fotovoltaicas para a produção de eletricidade usada pela indústria. Outro é o desenvolvimento de novas embalagens com menor peso para reduzir o consumo de plástico. Elas já são feitas com uma mescla de materiais reciclado e virgem, mas todas são recicláveis.
Como parte dessas ações, em 2007 foi lançada a marca de produtos Procão, com uma linha de mais de 40 itens destinada aos cuidados, proteção, higiene e beleza de animais domésticos. Eles são feitos a partir de matéria-prima natural, não contendo inseticidas ou piretróides. Há também itens de origem vegana. De acordo com a diretora industrial, os produtos para pets são desenvolvidos por meio de testes in vitro em laboratórios próprios. Dessa forma, explica, a empresa não possui produtos que o Ministério da Agricultura exige teste em animais para atestar a eficiência.
O grupo empresarial tem, ao todo, dez marcas e fabrica 200 produtos diferentes. Eles são comercializados em todo o território nacional e destinados à exportação. A empresa vende para todos os países da América do Sul, Estados Unidos, Ásia e parte da Europa.
SELO
A Trading Care completa 49 anos de fundação neste mês. “Todo o conceito nasceu de uma ideia de ter produtos com uma qualidade superior. Por exemplo, os produtos para lavar ou encerar o carro não agridem a pele, seja do homem ou da mulher. Quem está aplicando sente a diferença ao fazer o toque no produto. Todas as nossas matérias-primas são biodegradáveis”, analisa Rodrigo Boaventura.
Esses cuidados levaram a empresa a receber no mês passado, pelo segundo ano consecutivo, o Selo Verde, concedido pelo Jornal do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. É uma publicação lançada há 12 anos destinada à divulgação de causas pacíficas e à proteção ao meio ambiente. A certificação é atribuída a empresas que atendem rigorosos critérios de sustentabilidade e preservação ambiental. “Acreditamos que é possível crescer de forma responsável, cuidando tanto das pessoas quanto do planeta. O Selo Verde é uma prova de que estamos no caminho certo, mas também de que devemos continuar inovando e buscando soluções que se alinhem à responsabilidade ambiental”, diz o CEO da Trading Care.
“Ele é uma chancela de todo o trabalho que a gente desenvolve na nossa unidade em Campinas, onde ainda não era estruturada essa questão de compra de crédito de carbono, de logística reversa, que ao longo dos anos foi se tornando algo mais estabelecido no mundo”, completa a diretora da empresa.
O grupo também tem duas certificações que garantem a qualidade e controle de suas operações. Entre elas, está a Smeta, uma auditoria social de avaliação formal dos procedimentos e esforços de uma empresa com relação à responsabilidade social corporativa (RSC) e ao impacto social. A outra é ISO 22716, um conjunto de diretrizes de boas práticas de fabricação (BPF). Ela permite que as organizações demonstrem seu compromisso com a proteção da qualidade e segurança, garantindo o cumprimento das normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).