INTENSO MOVIMENTO

Trabalho e estudo põem 403 mil por dia nas estradas

Levantamento feito pelo Estado mostra que esse número é mais do que o dobro do registrado 13 anos atrás

Maria Teresa Costa
10/03/2013 às 11:15.
Atualizado em 26/04/2022 às 01:18
Rodovia Miguel Campos Melhado (Alessandro Rosman/AAN)

Rodovia Miguel Campos Melhado (Alessandro Rosman/AAN)

É tanta gente indo e vindo — e a maioria usando carro particular — que as lentidões e os congestionamentos, antes típicos da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), já chegaram à Região Metropolitana de Campinas (RMC). Não é para menos: 12 pessoas por minuto deixam suas casas, pegam as estradas e vão para outra cidade trabalhar, estudar, fazer compras ou simplesmente passear.

São, ao todo, 403,1 mil pessoas circulando entre as 19 cidades do bloco metropolitano diariamente, além de um outro grupo, de 29,5 mil, que vão para municípios fora da região. Esse movimento é mais que o dobro (122%) do que ocorria no ano 2000 e representa, segundo a demógrafa Rosana Baeninger, a consolidação do conceito de região metropolitana.

“O que a RMSP levou 30 anos para atingir, a RMC conseguiu em 13, ou seja, se tornou uma cidade-região, onde os limites municipais têm pouco significado”, afirma a especialista.

O resultado da Pesquisa Origem e Destino, feita pela Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado e divulgada na última segunda-feira, mostra que o uso do território regional é feito como se fosse uma única cidade, tendo como centro Campinas.

Os demais municípios funcionam como se fossem bairros ou distritos economicamente fortes.

O movimento que os demógrafos chamam de pendular — as pessoas moram em uma cidade e trabalham em outra — continua existindo e representa o motivo de 9,8% dos deslocamentos diários de toda a RMC.

Mas a região passou a receber uma mobilidade diferenciada da população, que usa o espaço não só para trabalhar e estudar, mas também para lazer, saúde ou compras.

Perfil

Esse perfil é típico das regiões metropolitanas e a tendência é que o movimento aumente ainda mais, exigindo que as cidades trabalhem em conjunto para tentar encontrar soluções para seus problemas comuns, segundo o secretário de Transportes Metropolitano, Jurandir Fernandes.

“Os desafios são imensos, os custos são altos, mas os benefícios também são mais distribuídos”, disse a demógrafa Rosana, que é ligada à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Quando o movimento pendular era o principal fenômeno na região, o indivíduo morava em uma cidade e trabalhava em outra, gerando renda fora de seu domicílio. Hoje, diz Rosana, isso está diferente porque, com a urbanização que se generaliza, as cidades também estão compartilhando os ganhos.

“A cidade-região passa a compartilhar seus desafios e o planejamento tem que ser mais integrado do que se pensava antes para funcionar”, afirmou.

Rosana pesquisa o movimento pendular na RMC há vários anos e, segundo o resultado de seus trabalhos, feitos com tabulações especiais dos censos do IBGE, em 1980 eram 69.648 pessoas que circulavam diariamente na região. Esse número subiu para 181.416 em 2000 e chega a 2013, segundo a Pesquisa Origem e Destino, com 432,6 mil pessoas.

Segundo ela, por trás do deslocamento de um volume tão grande de pessoas há uma série de fatores, como a integração crescente do território metropolitano, a especialização funcional e a interdependência dos municípios, além da reorganização das atividades produtivas em uma nova base territorial, de modo a otimizar vantagens locacionais.

Números

Com 2,79 milhões de habitantes, a RMC cresceu 1,82% ao ano entre 2000 e 2010. Metade desse crescimento veio da migração. No caso específico dos municípios, chegou a representar até 67,3% do incremento em Vinhedo entre 1991 e 2000, assim como menos de 23% para Campinas no mesmo período. Entre 2000 e 2010, a migração representou 72,8% do incremento para Paulínia e Jaguariúna e 73,3% para Holambra, todos eles entre os municípios que mais cresceram no período.

A menor importância da migração para o incremento entre 2000 e 2010 se deu em Campinas, onde essa representou 24,5%, e em Santa Bárbara d’Oeste, onde a migração líquida foi negativa, o que revela ser esse município uma área em que foram registradas perdas populacionais.

Movimento sobrecarrega rodovias

A pressão dos deslocamentos regionais nas estradas já faz muitas delas funcionarem mais como avenidas do que rodovias. É o caso da Anhanguera, de Campinas a Americana, ou da D. Pedro I, entre Campinas e Vinhedo. A solução para tirar parte do tráfego local das estradas é a construção de marginais. Mas, mesmo assim, um ponto na chegada a Campinas, no entroncamento da Anhanguera com a . Pedro I, se mantém como um teste diário de paciência para o motorista.

A proposta de construção de uma nova estrada na RMC, apresentada pela concessionária Rota das Bandeiras, foi rejeitada pela Agência Reguladora de Transportes (Artesp) do Estado. A concessionária propôs investir R$ 790 milhões na implantação de uma alternativa de tráfego, o chamado Contorno Norte, para eliminar os constantes congestionamentos da Rodovia D. Pedro I. A nova estrada começaria no Anel Viário Magalhães Teixeira (SP-83) e terminaria no Km 115 da Anhanguera (SP-330), e seria feita em três etapas, com início das obras este ano e conclusão em 2017.

Mobilidade é um dos desafios 

Com tanta gente circulando entre as cidades, a mobilidade se tornouum dos principais desafios da RMC, segundo o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. Algumas ações estão delineadas para melhorar os fluxos regionais, principalmente entre as cidades do eixo Noroeste, onde está o maior contingente de população da região. Os fluxos entre Campinas, Hortolândia, Monte Mor, Sumaré, Nova Odessa, Santa Bárbara d’Oeste e Americana são os mais intensos.

A solução que o Estado está propondo para reduzir o uso do transporte individual entre esses municípios é o Corredor Noroeste, que hoje chega até Sumaré. No próximo dia 18, informou o presidente da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), Joaquim Lopes, haverá audiência pública em Santa Bárbara e Nova Odessa para discutir o projeto do corredor e atender demanda do Ministério Público (MP).

“Nossa intenção é publicar o edital de preço ainda este mês, selecionar a empresa e fazer o contrato em maio e iniciar as obras em junho, para que o corredor comece a funcionar em junho de 2014”, afirmou. Mantendo essas datas, a entrega do corredor ocorrerá com um atraso de dez anos em relação ao cronograma original.

Outra medida que está em estudo é a extensão dos trilhos da Companhia Paulista de Transportes Metropolitanos (CPTM), que hoje ligam São Paulo a Jundiaí, até Campinas. O estudo estará concluído, segundo o secretário de Transportes Metropolitanos, em três meses. Mas essa rota ferroviária, se sair, terá a função de ligar, inicialmente, Campinas, Valinhos, Vinhedo e Louveira, funcionando como um trem de subúrbio.

“Se formos pensar em ligar Campinas a São Paulo por esse trem, a proposta nasce morta, porque o trajeto levaria cerca de três horas”, afirmou. Já a extensão do trem regional está com a ligação de São Paulo a Jundiaí definida — será um trem rápido —, mas sua chegada a Campinas dependerá dos estudos que estão sendo feitos junto com o trem de alta velocidade (TAV). 

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