Engraxate Almeida contou que este foi seu primeiro e, provavelmente, será o último emprego de sua vida (Gustavo Tilio)
Anivaldo Almeida tem 68 anos e há 22 trabalha sentado em frente de uma cadeira, na Praça do Fórum, no Centro de Campinas, exercendo uma profissão quase extinta: a de engraxate. Giovane Morais, de 26 anos, atua com sua própria empresa na área de tecnologia, segmento ainda carente de profissionais qualificados e com conhecimentos específicos. Neste dia 1º de maio, em que se comemora o Dia do Trabalhador, constata-se que uma gama de profissões, das mais antigas e artesanais àquelas que exigem altíssimo conhecimento técnico e tecnológico coexistem pacificamente, superando as abissais desigualdades de tempo e evolução.
O engraxate, conhecido por todos na região como Almeida, contou que este foi seu primeiro e, provavelmente, será o último emprego de sua vida. Ainda no começo da adolescência, engraxar sapatos foi o caminho que ele encontrou para ganhar algum dinheiro para ajudar nas contas de casa. "Depois até trabalhei com outras coisas, como construção civil. Mas brinco com a minha esposa que engraxar sapatos é a primeira e última profissão da minha vida", reiterou Almeida, que chega na praça por volta das 8h e costuma ir embora no final da tarde. Por conta do número de clientes, que caiu bastante ao longo dos anos, ele precisou se reinventar e passou a atender até mesmo em domicílio.
"Cheguei a ter 15 clientes por dia. Depois, foi diminuindo e comecei a atender em empresas ou escritórios. Então, veio a pandemia e acabou com tudo, porque muita gente trabalhava de casa. Hoje, em um dia comum, acho que atendo no máximo de três a quatro pessoas. Mas gosto bastante do que faço e não pretendo parar e ficar em casa. Gosto de estar na rua, gosto de conversar com pessoas", contou.
Enquanto Almeida batalha para conseguir novos clientes, Morais deixou um emprego fixo e estável para abrir a própria empresa. Ele trabalha com computação em nuvem voltada à área de serviço de suporte e monitoramento para empresas que se utilizam dessa tecnologia de armazenamento externo na internet.
O profissional explicou que as empresas obtêm muitas vantagens em manter a demanda na nuvem, como economia de servidores e espaço físico. "É mais barato manter na nuvem. Além disso, a organização repassa para mim a responsabilidade da administração e deixa de se preocupar com isso. Ela paga exatamente pelo que usa", disse.
Morais trabalhou por cerca de sete anos para outro empregador até tomar pé de que o mais rentável seria ter sua própria empresa. "A pandemia abriu uma janela de oportunidades, principalmente porque a população ficou mais dependente de tecnologia, por conta do home-office. Devido a esse cenário, optei por deixar a estabilidade de um emprego e empreender na área que tem uma carência ainda de profissionais. Temos um campo muito amplo", justificou.
Vendas
Na loja Drax Sound, na Rua Saldanha Marinho, na região central da cidade, são 22 anos de trabalho dedicado às mídias, sejam elas televisivas, videocassetes, por exemplo, ou indo para o radiofônico, onde, além da manutenção, também há vendas desses produtos. A proprietária, Cida Costa, contou que ela e o marido começaram com um negócio bem menor, mas acabaram expandindo ao longo dos anos. "Eram apenas videocassetes para vender. Depois, foi crescendo, abrimos aqui e conseguimos nos manter nesse ramo de negócio até hoje. Com a pandemia, tivemos que dar nossos jeitos e passamos a vender on-line. Hoje contamos até com clientes em outros estados, mas realizamos a manutenção aqui na loja física", explicou.
Marcos de Souza, de 47 anos, trabalha na loja há 20. Para ele, esses são produtos que entram e saem de moda, inclusive com preços ficando mais caros às vezes. "O vinil é assim. Entra e sai de moda. E um aparelho para tocar vinil não é barato, mas, mesmo assim, tem até bastante gente que vem atrás", garantiu.
O empresário Daniel Gava encontrou um jeito inovador de se colocar no setor imobiliário. A Rooftop, empresa da qual ele é fundador, oferece um programa que prevê a compra de imóveis com permanência do então proprietário no local, que passa a ser locatário. A empresa compra a residência e dá um período de 24 meses para o pagamento ser feito. Além disso, o participante do programa pode revender novamente o imóvel para quitar a dívida.
"As pessoas em situação de estresse financeiro se veem sem alternativa. Você faz um contrato de financiamento, mas, por algum motivo, não consegue pagar e o banco toma o imóvel, fazendo a pessoa perder esta conquista de uma vida. Identificamos essa situação e desenvolvemos um programa que nada mais é do que transformar o patrimônio em dinheiro, dando a oportunidade de restabelecer a situação financeira", explicou.
Chamada de InCasa, a iniciativa pode ser realizada em qualquer local do Brasil pela internet. "O programa possibilita um fôlego financeiro para que o cliente contorne a situação para conseguir reorganizar sua vida financeira ou investir naquele sonho", finalizou.
Reinvenção
A consultora de recursos humanos, Helena Ribeiro, analisa que é natural a mudança, evolução e até mesmo a extinção de profissões. "Eu nasci na roça, trabalhando com meu pai na agricultura. Quando viemos a Campinas, a única ocupação que existia era a de empregada doméstica. Na época, o grande avanço era tornar-se datilógrafa. No curso, pedi para praticar na máquina elétrica, que era o "top" da época. Quando me formei, era uma coisa muito avançada e isso me abriu muitas portas", lembrou.
De acordo com a especialista, hoje o profissional precisa ser multifuncional. "Existem profissões que podem estar caindo em desuso, mas não acho que isso é uma situação definitiva, sem volta. Se procurar alternativas, incorporar novas medidas, ela pode seguir no mercado", finalizou.