Tesouros bem às mãos nas prateleiras

Mesmo na era digital, muitos compradores e apreciadores de livros, CDs e discos de vinil ainda preferem sentir a textura e o cheiro dos produtos. Porém, alguns deles não estão mais disponíveis em grandes livrarias devido a sua idade. Nesse caso, os amantes das chamadas “velharias” procuram os sebos das cidades para encontrar o que procuram, e raramente saem desapontados. Campinas conta com uma grande variedade de sebos, e cada um deles possui raridades próprias. Contando com livros escritos há séculos, muitas pessoas procuram esses espaços para pesquisas acadêmicas, ou até mesmo para colecionar tais relíquias. O sebo Casarão, localizado na Rua Sacramento, no Centro, é um dos locais mais visitados da cidade nesse segmento, e sua variedade de produtos explica o porquê. Um acervo que conta com livros de todos os gêneros, de acadêmicos a obras infantis, atrai os leitores apaixonados, enquanto a sessão de CDs, DVDs e discos de vinil faz com que os fanáticos por música se percam ali dentro por horas. Contando com cerca de 48 mil livros em suas prateleiras, além dos quase 50 mil vinis, 10 mil CDs e cerca de 3,5 mil DVDs, o Casarão faz sucesso entre os mais variados públicos. Luis Otávio de Oliveira, gerente do sebo e restaurador de livros, se orgulha de seus 12 anos de trabalho no local, e afirma que o movimento ainda é grande. “Existem perfis de compradores. Alguns procuram livros pra leitura mesmo, outros procuram pra estudo e, alguns deles, procuram livros raros”, conta o gerente. Oliveira conta que, no caso de alguns livros, não é possível deixá-los expostos, devido a seu valor histórico e também financeiro. Na seção de livros antigos, o cuidado com cada um dos exemplares é enorme. Os livros mais antigos são plastificados, e Oliveira não aconselha que sejam manuseados, até por causa de alguns esporos que possam estar presentes nos livros e que podem fazer mal à saúde. Entretanto, uma das maiores relíquias presentes no local é um livro que fala sobre religião, datado de 1654. “O tipo de papel é totalmente frisado. Esse é um dos poucos livros bem elaborados da época, já que a maioria dos livros bem elaborados eram da igreja” , contou o gerente. O livro, escrito por Valerius Maximus, foi feito com massa de madeira moída e passam aquilo num cilindro para confeccionar as folhas, para depois colocar os chamados tipos e, então, escrever o livro. É um livro que exige o manuseio com luvas, pra não correr o risco de estragar as páginas. “Como restaurador, faço um trabalho detalhado de restauração nos livros, e não costumo manuseá-los sem luvas”, contou Oliveira. Quatro em um O sebo Valise de Cronópio, na Rua Francisco de Barros Filho, em Barão Geraldo, é mais um dos sebos bem conceituados de Campinas. O estabelecimento surgiu em 1993, com a ideia de unir em um único lugar um sebo e um antiquário, mas, em 1996, o local ganhou um brechó, com roupas e acessórios, e, em 2004, um restaurante. O acervo de produtos do sebo é extenso, e foca nas áreas de teatro, artes plásticas, fotografia, cinema, música, psicologia, pedagogia, história, ciências sociais, economia, administração, literatura e literatura infanto-juvenil, ciências exatas, religiosos, esotéricos, saúde, culinária, e muitos outros. Para Antônio Alberto Bueno, conhecido como Toninho, que trabalha no Valize de Cronópio desde 1992, o movimento no sebo continua grande. “Temos bastante gente vindo aqui. No sebo, nosso maior público são aqueles que procuram livros esgotados, mas de edições razoavelmente recentes, ou de livros que aparecem com um preço mais baixo nos sebos”, comenta Bueno.