Dados da Guarda Municipal confirmam tráfico na passarela do medo no Viaduto Cury
Com a presença da Guarda Municipal, vendedores de crack desapareceram da passarela sobre o Viaduto Miguel Vicente Cury, em cenário bem diferente do verificado pela reportagem na quinta-feira, quando o comércio de entorpecentes ocorria intensamente à luz do dia (Gustavo Tilio)
A sensação de insegurança da população que trabalha, reside ou circula pelo Centro de Campinas tem motivo claro: somente no primeiro semestre deste ano, mais de 70% das prisões por tráfico de drogas realizadas em toda a região central se concentraram na área do terminal de ônibus Miguel Vicente Cury, considerado um dos locais mais problemáticos tanto do ponto de vista social como de criminalidade.
Os dados integram o levantamento das operações realizadas pela Guarda Municipal no primeiro semestre e retratam bem a realidade flagrada pela reportagem do Correio Popular, quinta-feira (30), na passarela do viaduto que possibilita a passagem de pedestres da Vila Industrial ao Terminal Central.
O local é palco da venda e consumo de crack em plena luz do dia, ambiente que impulsiona a formação de uma cracolândia na região, eleva o drama social vivido por pessoas em situação de rua e expõe a população a conviver com um cenário de insegurança.
Após a divulgação da reportagem do Correio na edição de sexta-feira (1), a presença da Guarda Municipal no local afugentou os criminosos que se valem dos dependentes químicos em situação de rua. Mas bastou a GM se deslocar para outro lugar para a ação dos traficantes recomeçar e a cracolândia se formar novamente no entorno da passarela. O local é usado como caminho obrigatório por centenas de pessoas todos os dias.
Conforme a GM, as operações em todo o Centro, de 1° de janeiro a 30 de junho deste ano, resultaram em 99 prisões. Mais da metade delas — 57 detenções — foi por tráfico de drogas, das quais 39 ocorreram apenas na área do Terminal Central e nas praças Ópera Guarani e Felipe Selhi, que ficam no entorno.
A maioria das apreensões de drogas realizadas pela Guarda Municipal no local foi de crack. No total, até sexta-feira (1), foram apreendidos 6,9 quilos da drogas. O restante das apreensões compreendeu 472,2 gramas de cocaína, 380 gramas de maconha e 13,07 gramas de haxixe.
O levantamento da GM aponta ainda que, somente no Centro, foram recuperados 40 veículos, 34 motocicletas e três bicicletas que foram produtos de furto.
As ações da GM na região central incluíram ainda a prisão de nove pessoas procuradas pela Justiça, sendo três por furto, três por roubo a pedestres e três por estelionato. As demais prisões ocorreram por roubo a comércio, violência doméstica, receptação e embriaguez ao volante.
Patrulhamento
A Guarda Municipal informou que realiza patrulhamento no Centro da cidade 24 horas por dia, com viaturas e motocicletas, para prevenir e combater o tráfico de drogas e outras situações de criminalidade, como furtos e roubos.
Durante toda a sexta-feira (1), o tráfico de drogas flagrado na passarela sob o viaduto Miguel Vicente Cury sucumbiu quando a viatura da GM esteve no local.
Moradores e comerciantes que utilizam a passarela afirmam que a sensação de segurança aumenta com a presença das viaturas.
A aposentada Maria Faria da Silva, de 83 anos, moradora de um prédio na Avenida Senador Saraiva bem em frente à passarela, conta que costuma sair de casa apenas quando percebe a presença da GM. “Aqui é um lugar difícil. Eu mesma saio só quando é preciso e a Guarda está por perto. Tenho medo, sou idosa, mas quando a Guarda está com o carro parado aqui, tudo fica mais tranquilo”, disse.
A zeladora de outro prédio também no entorno, que preferiu não divulgar o nome, contou sobre o medo que enfrenta ao chegar e sair do local de trabalho. Segundo ela, quando a concentração de usuários de crack e a ação do tráfico estão intensas, ela prefere fazer outro trajeto. “Fico com muito medo de usar a passarela quando está muito cheia de pessoas. A gente nunca sabe, pois onde tem tráfico tem criminalidade”, afirmou.
Sexta-feira, o patrulhamento da GM no local foi bastante presente. Uma viatura estacionou na área de passeio atrás do entreposto da Ceasa no Terminal Central e intimidou a ação dos traficantes. Mas bastava a viatura sair um pouco para ocorrer nova concentração de usuários de drogas e de criminosos, em um verdadeiro “jogo de esconde-esconde”.
Segundo informou a GM, na tentativa de coibir a ação dos traficantes no entorno do Terminal Central, está previsto um reforço no trabalho de combate ao tráfico de entorpecentes na área.
Segundo a GM, as ações poderão ser individuais ou em conjunto com outros órgãos da Prefeitura e demais forças de segurança, como as Polícias Civil e Militar.
Após a compra de drogas na passarela, os usuários costumam se aglomerar, sentados e escondidos atrás da mureta que separa a área de passagem de pedestres do terminal.
O trabalho social desenvolvido pela Prefeitura com foco nos dependentes químicos também prevê ações para o local. A tentativa é combater o problema, considerado complexo pelo governo, mas que tem gerado grande impacto na vida da população, que acompanha a formação de uma cracolândia na região e convive com um ambiente degradante.