CHUVA

Temporal provoca a queda de 100 árvores e alaga casas em uma hora

Carro caiu no córrego do São Fernando, mas ninguém se feriu gravemente

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
19/01/2023 às 08:45.
Atualizado em 19/01/2023 às 08:45
A queda de uma árvore manteve presa em casa as quatro famílias que residem em um condomínio na Rua Arlindo Carpino, no Novo Taquaral (Gustavo Tilio)

A queda de uma árvore manteve presa em casa as quatro famílias que residem em um condomínio na Rua Arlindo Carpino, no Novo Taquaral (Gustavo Tilio)

Campinas entrou em estado de atenção após a tempestade do início da noite de terça-feira, com o risco de repetição de chuvas intensas até pelo menos sexta-feira. Em uma hora, a precipitação chegou a 92 milímetros nas regiões Leste e Norte, as mais atingidas, o equivalente a 29,87% de todos os 308 mm esperados para o mês de janeiro, de acordo com a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil. O temporal provocou alagamentos de casas e queda de pelos menos 100 árvores. Duas pessoas foram arrastadas pelas fortes enxurradas e um carro com dois ocupantes caiu no córrego da Rua Serra Dourada, no bairro São Fernando, mas ninguém se feriu gravemente.

A média de chuva nas outras regiões do município foi de 77 mm, 25% do total esperado. De acordo com o boletim do Sistema Integrado de Defesa Civil, Campinas acumulou 143,1 mm de chuva em 72 horas (até as 4h51 de quarta-feira), o maior volume entre as 50 cidades em situação de observação, atenção ou alerta apontadas pela coordenadoria em todo o Estado. Em Barão Geraldo, a chuva foi acompanhada de granizo pelo segundo dia consecutivo. Na região, Artur Nogueira e Cordeirópolis também estão em estado de atenção. Socorro, fortemente castigada pelas chuvas no começo do mês, segue em alerta.

Em Campinas, um dos pontos mais atingidos pelos estragos foi a Rua Arlindo Carpino, no Novo Taquaral, onde a enchente invadiu casas, uma cratera se abriu e engoliu parte da via e da calçada, além do asfalto ser destruído pela força da água. "Perdi tudo", disse na quarta-feira (18), em tom de desolamento, o segurança Jerônimo Joaquim da Silva. "Foi tudo muito rápido", explicou o segurança

Na mesma rua, a queda de uma árvore manteve presa em casa as quatro famílias que moram em um pequeno condomínio. Ela obstruiu o portão da garagem, impedindo que os moradores saíssem com os veículos, além de derrubar os fios de alta tensão. Com isso, os imóveis da Arlindo Carpino ficaram sem energia elétrica. Os reparos da rede seriam iniciados somente após o corte e a retirada da árvore

"A enchente atingiu todos os móveis. Não tinha como sair", recorda a analista de negócio Amanda Valente, que reside no local há um ano. O cabeleireiro Alex Paulo Cyrino não foi trabalhar na quarta-feira à espera da retirada da árvore para iniciar a limpeza da casa e poder tirar o carro da garagem. "Fazia tempo que isso não acontecia aqui", disse o engenheiro Robson Madsen, que reside na rua do Novo Taquaral há 10 anos.

Uma cratera com mais de 2 metros de profundidade se abriu no local, com equipes trabalhando nessa quarta-feira para recuperar as redes de gás, água e galeria de água pluvial. Para Jerônimo, a situação foi agravada porque a equipe da Prefeitura fez poda de árvores da praça na frente, mas não retirou os galhos, que foram carregados pela forte enxurrada e acabaram por bloquear a passagem de água no córrego existente no local.

Para o prefeito Dário Saadi (Republicanos), o problema na Arlindo Carpino somente será resolvido com uma obra para redimensionamento da canalização do córrego, que fica em um fundo de vale e recebe toda a água de chuva dos bairros em volta. O serviço está orçado em R$ 70 milhões e sendo avaliado, mas sem previsão para a realização.

Durante o temporal de terça, uma mulher quase foi levada pela força da enxurrada ao tentar atravessar a Avenida Anchieta, em frente à Prefeitura. Ela foi retirada por um homem que estava no local. Na Avenida Imperatriz Leopoldina, na Vila Nova, o consultor de pós-venda Mário Medeiros caiu com a motocicleta por causa da força da enxurrada e sofreu ferimentos no pé e barriga. "Nunca tinha pegado uma chuva tão forte assim", disse.

Na Rua Serra Dourada, no Jardim São Fernando, dois ocupantes de um carro passaram momentos de tensão durante o temporal, quando o motorista tentou atravessar o alagamento e caiu no rio. Eles foram retirados por moradores das proximidades antes do veículo ser encoberto pela água. Segundo a Prefeitura, a enchente ocorreu "pelo acúmulo de detritos que entupiram os tubos". Na quarta-feira, equipes da administração faziam um novo serviço de limpeza nesse ponto.

"Foi a segunda vez que alagou este mês", disse o comerciante Mário Antonio de Oliveira Filho, enquanto recolhia a sujeira que acumulou na frente de sua casa, onde mora há 37 anos. A água não chegou a entrar na residência, que fica acima do nível da rua, mas a marca no chão mostra que a ela avançou cerca de 20 metros fora de seu leito normal. 

No Condomínio Palmeiras do Sul, a força da enxurrada derrubou o muro do lado da Avenida Papa João Paulo I. "Nunca vi a água com tanta força", afirma o presidente da associação de moradores, Armando Palermo. Na região das Chácaras Gramado, houve alagamento na Avenida Flamboyant, que invadiu um tradicional restaurante e um mall instalado ao lado. A Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) registrou 13 pontos de alagamento em vias da cidade, entre eles nas avenidas Orosimbo Maia, Princesa d'Oeste, José de Souza Campos (Norte-Sul), John Boyd Dunlop e na Estrada da Rhodia. 

Após uma reunião de manhã com o secretariado, presidências das autarquias municipais, comando do Corpo de Bombeiros e direção da CPFL, o prefeito Dário Saadi anunciou a formação de uma força-tarefa para a poda de árvores e realização da operação tapa-buracos. De acordo com ele, os contratos desses serviços foram aditados em 25% e 20%, respectivamente, para acelerar a realização, com o aumento do número de equipes envolvidas. 

O prefeito também reafirmou o lançamento do edital de concorrência pública até o final de abril para a construção de piscinões para combater as enchentes nas avenidas Princesa d´Oeste e Orosimbo Maia, além da ampliação do existente na Norte-Sul.

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