FÚRIA DA NATUREZA

Tempestade deixa rastro de destruição, prejuízos e mortes na região de Campinas

Chuvas intensas provocam alagamentos, inundações e quatro óbitos

Verônica Guimarães e Henrique Oliveira
29/12/2022 às 09:25.
Atualizado em 29/12/2022 às 09:25
Funcionários a serviço da Prefeitura de Campinas trabalham na remoção da árvore do Bosque dos Jequitibás, que caiu atravessada sobre a Rua General Marcondes Salgado, matando na hora o motorista que conduzia o veículo branco e atingindo casas do outro lado da via (Gustavo Tilio)

Funcionários a serviço da Prefeitura de Campinas trabalham na remoção da árvore do Bosque dos Jequitibás, que caiu atravessada sobre a Rua General Marcondes Salgado, matando na hora o motorista que conduzia o veículo branco e atingindo casas do outro lado da via (Gustavo Tilio)

A região de Campinas amanheceu na quarta-feira (28) com um rastro de destruição, prejuízos, caos e mortes, após o temporal que desabou na madrugada de quarta-feira, confirmando as previsões do tempo e o alerta emitido pela Defesa Civil do Estado. Os registros vão de fechamento de postos de saúde a queda de árvore com vítima fatal nas imediações do Bosque dos Jequitibás, além de engavetamento na Rodovia dos Bandeirantes, com três pessoas mortas. Em toda a Região Metropolitana os estragos provocados pela chuva foram muitos, deixando pessoas desalojadas ou desabrigadas. Valinhos, Vinhedo, Hortolândia, Monte Mor, Indaiatuba e Nova Odessa estão entre as cidades com registros de ocorrências.

A Prefeitura de Campinas e a Defesa Civil informaram que várias equipes estiveram em atendimento e orientação à população por toda a cidade, que entrou em estado de atenção devido ao índice pluviométrico registrado em 72 horas de 149 milímetros até as 9h desta quarta-feira. O estado de alerta é acionado a partir de 100 milímetros registrados dentro desse prazo.

De acordo com a previsão do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Unicamp, o tempo permanecerá instável nesta quinta-feira (29), com tendência de ocorrer outras tempestades e a possibilidade de um volume um pouco maior de chuvas do que na quarta-feira (28). A tendência é que elas continuem intensas ao longo dos próximos dias.

Em Campinas, foram registrados 26 pontos de alagamento. Na região central, a Rua Barão de Jaguará foi interditada e deve ser liberada nesta quinta-feira. Na Rodovia Dom Pedro I, na altura do distrito de Joaquim Egídio, próximo a Valinhos, o Rio Atibaia transbordou invadindo a pista e causando um enorme transtorno no local. No distrito de Sousas, 25 pessoas foram removidas de suas casas, com risco de inundação no local, devido ao aumento do volume do Rio Atibaia.

Chuva derruba árvore do Bosque e mata motorista

Uma figueira branca com 35 metros de altura, que ficava no interior do Bosque dos Jequitibás, caiu na manhã de quarta-feira (28)atingindo imóveis e veículos, na Rua General Marcondes Salgado, e vitimando o técnico em eletrônica, Guilherme da Silva de Oliveira Santos, de 36 anos. No momento da tragédia, chovia bastante

De acordo com o tenente Bruno Martins, do Corpo de Bombeiros, o carro trafegava pela rua quando a árvore caiu sobre a via atingindo o VW/Up, em que estava sozinho o técnico em eletrônica. O carro ficou inteiramente destruído ao ser atingido pela parte mais grossa do caule. Segundo os bombeiros, equipes foram deslocadas ao local, mas Guilherme já estava morto.

Os bombeiros e uma empresa terceirizada que presta serviços de zeladoria à Prefeitura tiveram muito trabalho para serrar os galhos com o uso de motosserras. Para facilitar o trabalho de remoção, um caminhão equipado com um guindaste foi solicitado. Após as equipes concluírem o trabalho de serrar os galhos, o guindaste içou a parte maior do tronco, liberando o veículo e o corpo da vítima.

Além do carro em que estava o técnico em eletrônica, uma casa e um escritório de advocacia também foram atingidos pelos galhos. Uma idosa que mora no local não se feriu. De acordo com vizinhos, no momento da queda ela dormia em um quarto que fica nos fundos da residência.

Proprietário de um escritório que foi atingido pela árvore, o advogado Flávio Cardoso, disse que o prejuízo foi muito grande. Ele chegou ao escritório, que estava fechado por conta das festas de final de ano, minutos antes do acidente. Cardoso comentou que a árvore, que ficava em frente ao seu escritório, nunca deu sinais de que poderia cair.

Também advogada, Kássima Mendonça trabalha há 40 anos no mesmo escritório, próximo ao local do acidente. "Essa rua era forrada de árvores, inteirinha arborizada. Várias árvores que vinham do Bosque e deitavam sobre a rua já caíram", relata. Há alguns anos, Kássima disse que chegou a desistir da compra da residência atingida pela árvore por temer um acidente como o que aconteceu na quarta-feira (28). "Deixei de comprar a casa que estava à venda por conta disso, imaginei que esta árvore iria cair. Isso era mais que previsível", relata Kássima.

Durante todo o atendimento à ocorrência, a energia elétrica das imediações foi desligada. Dois postes foram atingidos pelos galhos das árvores rompendo os condutores de eletricidade. A Rua General Marcondes Salgado ficou fechada para o trabalho do Corpo de Bombeiros. Durante todo o dia, o tráfego de veículos foi desviado com o apoio dos Agentes de Mobilidade Urbana.

A Prefeitura de Campinas, por meio de nota, informou que a queda da figueira branca que resultou na morte de Guilherme Silva, pode ter sido provocada por uma junção de fatores. Para a Administração, "solo encharcado, rajadas de vento e características da árvore apontam possível fatalidade como causa da ocorrência".

O prefeito Dário Saadi (Republicanos) esteve no local e determinou a apuração do estado da árvore que estava no Bosque dos Jequitibás. Porém, o secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulella, antecipou que uma avaliação preliminar não apontou sinais visíveis de doenças na planta. "Aparentemente, em uma análise inicial que a equipe técnica realizou, a árvore estava saudável, sem sinais visíveis de doenças. Mas será realizada uma perícia e um laudo por uma junta de engenheiros agrônomos e florestais do Departamento de Parques e Jardins (DPJ)", explica o secretário.

A nota ainda informa que partes da árvore serão enviadas para análise no Instituto Biológico e no Instituto Agronômico de Campinas (IAC) para apurar possíveis doenças, que não foram identificadas num primeiro momento, que possam ter fragilizado a estrutura do tronco da árvore.

Engavetamento de veículos na Rodovia dos Bandeirantes, próximo a Louveira, deixou nove pessoas feridas (Rodrigo Zanotto)

Engavetamento de veículos na Rodovia dos Bandeirantes, próximo a Louveira, deixou nove pessoas feridas (Rodrigo Zanotto)

Acidente deixa 3 mortos na Bandeirantes 

Três pessoas que estavam em uma van morreram após um engavetamento de veículos na Rodovia dos Bandeirantes (SP-348), entre Jundiaí e Louveira (SP), na madrugada de quarta-feira (28). Um carro, uma carreta e a van com nove passageiros se envolveram no acidente. Nove pessoas ficaram feridas e foram encaminhadas a hospitais da cidade de Jundiaí (SP).

De acordo com a Polícia Militar Rodoviária, por volta das 3h30 da madrugada, um carro que seguia pela rodovia sentido interior perdeu o controle e bateu contra a defensa metálica que separa as vias no momento em que chovia forte no trecho. Com isso, uma carreta também se envolveu na batida e, logo atrás, uma van com nove passageiros colidiu contra a traseira do caminhão, resultando na morte de três pessoas. Duas eram da mesma família, a terceira vítima era o motorista do veículo.

Segundo a polícia, os passageiros da van seguiam rumo ao Aeroporto Internacional de Viracopos, onde deveriam embarcar em uma aeronave alternativa, após terem perdido o voo programado anteriormente no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

O motorista do primeiro carro, que se envolveu no acidente, disse que no momento em que trafegava pela via chovia muito. Ele alegou que estava numa média de velocidade de 90km/h quando perdeu o controle do veículo. Ele também alega que em muitos trechos da Rodovia dos Bandeirantes passou por lâminas d´água que atravessavam a via.

Seis pessoas foram encaminhadas para o Hospital São Vicente, em Jundiaí. Uma das vítimas, até o fechamento desta edição, passava por cirurgia por conta da gravidade dos ferimentos.

Campinas registra 26 pontos de alagamento

Campinas registrou na quarta-feira (28) vinte e seis pontos de alagamento em diversas regiões do município e até o início da tarde de quarta, quinze deles já haviam sido normalizados. Dois deslizamentos de terra e três inundações também foram registrados. A cidade entrou em estado de atenção devido ao excesso de chuvas. A Prefeitura destinou equipes da Secretaria de Serviços Públicos para atuar nos pontos de alagamento. Na região central, a Rua Barão de Jaguara foi interditada, com previsão de manutenção durante todo o dia desta quinta-feira (29) para liberação.

Na Rodovia Dom Pedro I, na altura de Joaquim Egídio, próximo a Valinhos, o Rio Atibaia transbordou invadindo a pista e causando um enorme transtorno aos motoristas nos dois sentidos da pista. Até o fim da manhã, eram oito quilômetros de congestionamento no sentido Jacareí e seis quilômetros, na via contrária.

A Defesa Civil divulgou um balanço com 26 imóveis alagados em toda a cidade, sendo que sete apresentavam risco; cinco quedas de muros e dois com risco de desabar. Foram registradas quatro quedas de árvores, sendo uma com vítima fatal nas imediações do Bosque dos Jequitibás (leia matéria nesta página).

Em Sousas, distrito da cidade, 25 pessoas foram removidas de suas casas, com risco de inundação, devido ao aumento do volume do Rio Atibaia.

Os moradores do Beco do Mokarzel, no distrito de Sousas, ficaram ilhados com as fortes chuvas, que fizeram o Rio Atibaia transbordar mais uma vez (Kamá Ribeiro)

Os moradores do Beco do Mokarzel, no distrito de Sousas, ficaram ilhados com as fortes chuvas, que fizeram o Rio Atibaia transbordar mais uma vez (Kamá Ribeiro)

Saúde afetada

Os Centros de Saúde Campina Grande e Joaquim Egídio e o Centro de Convivência Tear das Artes ficaram temporariamente fechados. Os CSs Aeroporto, Santa Rosa, Vila Rica, Figueira, Santos Dumont, Capivari, Itajaí, Oziel, San Diego, Sousas, Costa e Silva, 31 de Março e Cássio Raposo e o CAPSI Roda Viva ficaram com atendimento parcial, com algumas salas interditadas, mas as consultas agendadas e as urgências estão mantidas. O CS Santa Lúcia interrompeu o atendimento odontológico. Até as 17h de quarta-feira (28), apenas o CS Campina Grande continuava fechado. A previsão é de que seja reaberto nesta manhã.

A Estação de Captação de Água brita do Rio Atibaia, que abastece grande parte da cidade, sofreu com alagamento e tem situação estável. Técnicos monitoram a estação e o abastecimento não foi prejudicado.

Aguaceiro castiga região e deixa famílias desalojadas

A cidade de Valinhos teve três pontos de alagamento. Um deles na Avenida Invernada, tradicionalmente conhecida pelas enchentes. Ali, os motoristas manobravam seus veículos de ré para fugir das águas. Outra avenida afetada e que recebe diariamente intenso fluxo de carros na região central foi a Gessy Lever. Na Vila Santana, a água subiu a ponto de invadir imóveis e causar transtornos a moradores e comerciantes.

Na cidade de Indaiatuba, foram registrados 74 mm de chuvas que ocasionaram quatro pontos de alagamento. Não houve registro de vítimas ou desabrigados na cidade até o fim da tarde desta quarta-feira.

Em Hortolândia, o rio transbordou causando transtorno aos moradores da cidade. A Secretaria de Segurança do município, a qual responde a Defesa Civil, informou que foram registrados 112 milímetros de índice pluviométrico em 72 horas, 59 milímetros apenas na quarta-feira (28).

Nas imediações do Parque Socioambiental Chico Mendes foi registrado um ponto de alagamento, no cruzamento das avenidas Santana e João Mendes. No bairro São Bento, a ponte da principal via do bairro ficou fechada devido ao nível da água. A prefeitura informou ainda que não houve registro de desabrigados e nem desalojados.

Moradores de Vinhedo também sentiram os impactos das pancadas desta quarta-feira. Uma das avenidas do centro da cidade, a João Páffaro, ficou toda debaixo d'água. Os comerciantes locais registraram uma cachoeira na via devido à forte correnteza no local.

Em Nova Odessa não foi diferente, o nível do Ribeirão Quilombo subiu 1,70 metro e as águas atingiram o leito de algumas ruas dos bairros ribeirinhos, sem atingir nenhum imóvel até a tarde desta quarta. Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura local, foram registrados alagamentos em vias públicas já conhecidas na cidade pelo histórico com registros anteriores. Também segundo a prefeitura, as equipes do setor de trânsito monitoraram as vias até que os problemas fossem normalizados.

Monte Mor foi uma das cidades mais atingidas pela chuva, que transbordou o Rio Capivari, cujo nível da água atingiu dois metros acima do normal (Rodrigo Zanotto)

Monte Mor foi uma das cidades mais atingidas pela chuva, que transbordou o Rio Capivari, cujo nível da água atingiu dois metros acima do normal (Rodrigo Zanotto)

Monte Mor foi a cidade mais afetada no entorno. Foram registrados 126 milímetros de água na cidade e mais 100 milímetros na cabeceira do Rio Capivari, que transbordou e atingiu dois metros acima do nível normal. A ocorrência causou pontos de alagamento em áreas urbanas e rurais. Danos em pontes e passagens de tubulação foram registrados pela prefeitura local. O Jardim Progresso ficou ilhado durante todo o dia

De acordo com a Defesa Civil da cidade, foram desalojadas cerca de 20 famílias. A prefeitura disponibilizou três escolas públicas municipais de forma emergencial nos bairros Jardim Capuavinha, Jardim Progresso e Jardim Moreira para atender as famílias necessitadas.

Na cidade os bairros mais atingidos foram o Jardim Capuavinha, Jardim Santa Cândida, Jardim Progresso, Farid Calil, Água Choquinha, Jardim São José, Jardim Planalto, Chácaras Pindorama e Jardim Moreira. No fim da tarde, a Defesa Civil e a Secretaria de Assistência Social do Estado estavam reunidas junto à prefeitura para ações imediatas. Até o fechamento desta edição não havia mais informações.

Ainda, segundo Defesa Civil, as comportas estão abertas desde 1 de dezembro e a preocupação, neste momento, é que o nível das águas possam ainda subir devido ao volume das chuvas na região que desembocam no Rio Capivari, chegando à cidade

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por