EDUCAÇÃO

Teatro é arma em defesa da mulher

Até quando, Maria?, escrita por Teresinha de Carvalho, surge como novo instrumento nas escolas

Alenita Ramirez
19/06/2018 às 07:22.
Atualizado em 28/04/2022 às 13:13
Elenco de agentes da Guarda Municipal passou por aulas de encenação e expressão corporal pela Sia Santa (DIVULGAÇÃO)

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Estatísticas sobre a violência indicam que Campinas registrou 60 assassinatos de mulheres nos últimos três anos, sendo que 65% foram tipificados como feminicídio, lei em vigor desde 2015. O levantamento foi realizado pela Polícia Civil. As notificações foram contabilizadas até abril de 2018 e divulgadas no último mês pela corporação. Já o relatório da Secretaria Municipal de Saúde, realizado pelo Sistema de Notificação de Violência (SISNOV), indica que, até maio deste ano, 407 mulheres foram vítimas de agressões dentro de seus lares, um número crescente. Em 2016 essas vítimas somaram 691, contra 574, em 2015, e 367, em 2014. Para tentar reverter esse triste cenário, a Secretaria Municipal de Cooperação nos Assuntos de Segurança Pública (SMCASP) lança hoje um projeto educacional de combate à violência doméstica e direcionado às escolas. Trata-se da peça teatral Até quando Maria? Até Quando?, escrita pela delegada aposentada e assessora técnica da pasta, Teresinha de Carvalho. A peça, com cerca de 25 minutos, discute sobre a Lei Maria da Penha e aborda a relação conflitante entre pais e a evasão escolar. “Quando eu era delegada da Delegacia da Mulher em Campinas, certa vez ouvi um menino dizer que faltava da escola com medo do pai matar a mãe dele. Isso mexeu muito comigo. Como sempre trabalhei com a causa da violência doméstica, inclusive, com foco na Lei Maria da Penha, sempre tive desejo de fazer um trabalho educativo com as escolas”, disse Teresinha. A trama envolve uma família composta por pai, mãe e um filho adolescente e um amigo. O pai é um homem agressivo. A mãe, uma mulher que sente medo do marido e acaba aceitando as agressões com medo de sair de casa. O filho assiste tudo de perto, mas não sabe o que fazer. No entanto, o adolescente tem um amigo, de cabeça mais aberta, que o orienta a falar com a mãe e aconselhá-la a buscar ajudar especializada. “A mulher diz que não pode denunciar o marido porque ela também se diz culpada. A peça retrata bem a realidade, o ciclo de violência doméstica. No final, a mulher acaba aceitando o conselho do filho e busca ajuda da polícia”, conta Terezinha. “Há muitos conflitos familiares em razão da educação dos filhos. Marido e mulher não entram em um acordo. Ele contesta algo que o filho faz, que ele considera errado,mas ela não aceita e protege o filho”, disse. De acordo com Teresinha, a peça teatral é direcionada para estudantes do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental, do 1º ao 3º ano do Ensino Médio, e também para os da Educação de Jovens e Adultos (EJA). “Essa peça leva duas mensagens: a primeira é de que o adolescente pode ajudar os pais a saírem desta situação de conflito, orientando-os a buscar ajuda. E ele não precisa se sentir culpado pelo que acontece. E o segundo, que os pais se deem conta que ao em vez de estarem educando os filhos, eles estão deseducando. Um filho quando cresce em um ambiente de brigas, conflitos, ele cresce infeliz e vai buscar conforto nas drogas, com amigos impróprios e acabam abandonando os estudos”, explicou a delegada aposentada.

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