SAÚDE EM ALERTA

Taxa de positividade dos testes de covid cresce em Campinas

Média vem aumentando e entrada do inverno pode ampliar ainda mais os casos

Ronnie Romanini
31/05/2022 às 08:54.
Atualizado em 31/05/2022 às 08:54
A empresária Neusa Alves da Silva, de 79 anos, realizou o teste para detecção da covid em laboratório particular (Kamá Ribeiro)

A empresária Neusa Alves da Silva, de 79 anos, realizou o teste para detecção da covid em laboratório particular (Kamá Ribeiro)

A sensação de que mais pessoas estão se contaminando pela primeira vez - ou novamente - com a covid-19 não é uma mera impressão. A taxa de positividade nos testes para detectar a doença aumentou no mês de maio, tanto nos laboratórios quanto naqueles realizados na rede pública. Na segunda-feira passada o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), alertou que o índice chegou a 20%. Dados da Secretaria de Saúde apontam que a taxa dobrou em um mês - como na semana do dia 15 a 21 de maio, que atingiu 21,6% de positividade. Em abril, do dia 10 ao 16, 10% dos exames obtiveram resultado positivo.

A comparação de maio com os meses anteriores mostra, de maneira ainda mais evidente, o crescimento nos diagnósticos. No Fleury Medicina e Saúde, a positividade em Campinas saltou de 3,88% em abril para 19,11% em maio. 

Outro laboratório consultado, o Ramos Medicina Diagnóstica, estava com uma média na semana passada de 29% de casos positivos. Apenas nas duas semanas, entre os dias 9 e 25, os testes positivos atingiram uma média 37%. A título de comparação, no começo de abril, entre o dia 3 e 9, a positividade foi de 6,7%. O crescimento foi gradual semana após semana, com 10,4% na semana finalizada no dia 26 e, 16,2% no final do mês. Nos primeiros três dias de maio a taxa foi para 21,2% até atingir o nível atual.

O médico Fabio Tambascia, patologista clínico e diretor técnico do Ramos Medicina Diagnóstica, elencou alguns dos prováveis motivos para esses números. Ele mencionou a falta da adesão à vacinação, principalmente dos mais jovens, e as subvariantes da Ômicron - o que, por si só, têm maior poder de transmissibilidade. Além disso, o relaxamento de medidas não farmacológicas, como a exigência do uso de máscaras, o que provoca um pouco de confusão e consequente descuido da população quanto às recomendações sanitárias. 

Em relação ao crescimento de quase cinco vezes no Fleury, o infectologista do laboratório, Celso Granato, avalia que o aumento foi ainda maior em outras cidades. "Em outra localidades do país, tivemos altas superiores. No grupo Fleury, como um todo, passamos de 4% para 27%. Praticamente a cada 10 testes que realizamos, três são positivos. Em Campinas, a cada 10, praticamente 2 são positivos."

A demanda de teste também subiu, embora ainda distante dos piores momentos da pandemia. "Já chegamos a fazer 12 mil testes por dia no ano passado. De janeiro para cá, passamos de 1.,2 mil para 3 mil. Então, não apenas a positividade subiu, como o número de exames cresceu bastante também. E não podemos nos esquecer que, nos últimos meses, muitas pessoas passaram a fazer o autoteste, algo que não ocorria no ano passado. Isso significa que o aumento pode ser até maior se consideramos que uma grande parte não notifica a positividade."

Granato admitiu estar preocupação com o panorama. "Estamos entrando no inverno agora e as pessoas tendem a se fechar mais em casa, fechar janelas no transporte coletivo. As pessoas ficam mais próximas em um lugar com ventilação reduzida, então, isso faz com que a transmissão se torne mais eficiente. Acho que ainda pode aumentar. A preocupação é que, se houver muitos casos, a tendência é de aumentar a chance de mutações. Não temos como controlar isso e, eventualmente, pode surgir uma variante mais agressiva do ponto de vista clínico. Por enquanto, estamos tendo a 'sorte' de a Ômicron não ser tão agressiva clinicamente em relação ao número de mortes e de internações."

O médico defendeu a contribuição das máscaras e da vacina, com a recomendação de que a população procure as unidades de saúde para a aplicação das doses necessárias. "Sei que é chato. Também estou cansado de usar máscara, mas ela se apresentou como uma proteção adicional muito grande. As pessoas devem voltar aos cuidados que falamos desde o início: usar máscara, lavar as mãos, evitar ambientes com aglomeração e completar o esquema de vacinação."

Na última segunda-feira, a Prefeitura de Campinas publicou um novo decreto mantendo a obrigatoriedade do uso de máscaras em salas de aula e demais ambientes fechados nas unidades escolares, medida que agradou tanto Tambascia, que avaliou a decisão como prudente, quanto Granato, que elogiou a postura da Administração e afirmou ser preciso dar um passo atrás diante do aumento de casos.

Abramed

Nacionalmente, um levantamento feito pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) junto aos laboratórios representados por ela contabilizou 47,8 mil exames, dos quais 17,6% positivos, na semana de 1º a 7 de maio. Do dia 8 ao 14, foram 65,1 mil com a positividade em 24%. Por fim, na semana encerrada no dia 21, 62,5 mil exames foram feitos e 28,8% confirmaram o diagnóstico para a covid-19. 

A diretora-executiva da Abramed, Milva Pagano, acredita que o crescimento na taxa de positividade existe, mas está em desaceleração. "Ao que tudo indica, os exames estão sendo feito de maneira mais assertiva. Isto é, estão testando apenas pessoas realmente com sintomas. Por isso, o número de exames diminui, mas a positividade aumenta."

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