SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Sustentabilidade do campo à mesa é meta de grupo gastronômico

Empresários investem em aglofloresta, sistema que produz alimento saudável e preserva o solo

Erick Julio/ Correio Popular
30/03/2021 às 15:14.
Atualizado em 22/03/2022 às 02:12
Alimentos produzidos pelo projeto serão usados nas cozinhas do restaurante e padarias; dejetos voltam para adubar o solo (Kamá Ribeiro/ Correio Popular)

Alimentos produzidos pelo projeto serão usados nas cozinhas do restaurante e padarias; dejetos voltam para adubar o solo (Kamá Ribeiro/ Correio Popular)

A busca por práticas sustentáveis é cada vez maior. A preocupação com a preservação de áreas verdes e do clima tem atraído o interesse das pessoas e de empresas. Tanto é que uma pesquisa do Instituto Ipsos aponta que 85% dos brasileiros consideram que a proteção do meio ambiente deve ser uma prioridade do governo durante a recuperação do país, após a pandemia de covid-19.

O estudo, que ouviu habitantes de 16 países diferentes, concluiu que, para os brasileiros, problemas como desmatamento, poluição e mudanças climáticas representam uma ameaça à saúde. E é justamente para promover a preservação ambiental e "uma alimentação totalmente saudável" que o grupo que administra o Restaurante Vila Paraíso e as duas unidades Padoca do Vila decidiu investir no desenvolvimento de agroflorestas em Joaquim Egídio, distrito de Campinas (SP).

O projeto vai ocupar um terreno de cerca de 7 mil metros quadrados dentro de uma fazenda de 300 mil metros quadrados, localizada na Área de Proteção Ambiental (APA) do distrito. Chef do restaurante e um dos sócios do grupo, Ricardo Serrano Barreira, 35, conta que a iniciativa teve início em dezembro do ano passado. Segundo ele, que durante a pandemia trocou o dólmã e o toque blanche por uma camiseta e chapéu de palha, em quatro meses "houve uma recuperação e enriquecimento do solo impressionantes".

O resultado, segundo Barreira, é fruto do cultivo de agrofloresta, que é um sistema de produção de alimentos baseado na dinâmica dos ecossistemas naturais, nos quais espécies de árvores florestais perenes são plantadas junto com os cultivos agrícolas e criações de animais. O sistema, criado pelo suíço radicado no Brasil Ernst Gotsch, concilia a produção de alimentos com a recuperação de áreas degradas, o que possibilita ganhos econômicos e ecológicos ao mesmo tempo.

O chef e agora agricultor explica que conheceu o conceito de agrofloresta após a esposa, Júlia Zanetti Barreira, ter feito um curso sobre o sistema de plantio. Imediatamente, Barreira ficou impressionado com as ideias de Gotsch e fez os cursos oferecidos pelo pesquisador suíço. "Aprendi com o Ernst que não existe terra ruim. Existe terra mal cuidada, que com a atenção certa volta a ser rica. Com a agrofloresta você, inicialmente, aprende que a natureza tem o seu tempo para cada cultura agrícola e passa a ver a importância de um uso mais nobre da terra", conta o chef.

A área cultivada conta hoje com três módulos de 340 metros cada um. Em cada uma delas foi feito o plantio combinado, em uma linha de árvores, legumes, frutas e hortaliças. Ao lado, as outras três linhas são destinadas somente as culturas agrícolas, seguidas por uma nova linha de plantio combinado, o que minimiza o risco de degradação e perda de fertilidade do solo. Barreira destaca que o método favorece ainda o controle natural de pragas.

"A gente vive um momento de liberação dos chamados herbicidas. Mas os próprios produtores rurais não comem o que plantam. Se pegar a origem do sufixo 'cida' da palavra, constatamos que, no latim, ele significa matar. E é isso que esses produtos fazem, matam tudo e cria solos cada vez mais improdutivos", aponta o chef, que explicou a importância da compostagem de resíduos orgânicos para a produção.

"É fundamental para o desenvolvimento das agroflorestas que se faça um trabalho cíclico de poda e adubação orgânica, que favorecem as propriedades físicas e biológicas do solo e permitem o controle da luminosidade que as árvores vão proporcionar para o plantio". Atualmente, o Vila Paraíso conta com plantações de alface, rúcula, pitanga, acerola, banana, mandioca, batata, framboesa, amora, tomates, maracujá, entre outras frutas, legumes e hortaliças que servirão para abastecer os três empreendimentos do grupo gastronômico.

O projeto prevê ainda o cultivo de plantas medicinais e aromáticas, além de madeiras exóticas que serão colhidas no longo prazo. O sistema de agrofloresta favorece a absorção de água pelo solo, o que possibilita o surgimento de novas nascentes de água, segundo Barreira. "A principal contribuição das agroflorestas é a constituição de um microclima interno das áreas, o que traz benefícios para todos ao seu redor. E é isso que queremos do projeto, constituir uma comunidade local, uma irmandade para cuidar do meio ambiente, troca de conhecimento e produção de alimentos saudáveis", aponta Barreira, que a longo prazo quer expandir a produção agrícola para a venda.

Ainda de acordo com o chef, o projeto prevê o cultivo de mais 17 módulos de agrofloresta até o fim do ano, totalizando o plantio de uma área de 6,8 mil metros quadrados. "Eu tenho o sonho de criar um ambiente circular, no qual a produção abastece o restaurante e as padarias e o que é descartado dos três estabelecimentos se torna adubo para agrofloresta. Hoje temos o trabalho do Vila Educa com as crianças, mas queremos expandir e mostrar para os adultos a importância das questões ambientais. O caminho é longo, mas devagarzinho a gente vai transformando", finaliza. 

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