Esquadrão antibomba entrou em ação e o pacote foi detonado após uma hora da chegada da equipe
Policiais verificam o que sobrou da caixa que foi detonada pelo Gate: a suspeita da existência de uma bomba gerou tensão entre moradores e pessoas que trabalham no Cambuí (Rodrigo Zanotto)
Uma falsa bomba em uma caixa embrulhada para presente com papel e fita rosas, deixada displicentemente na calçada de uma quadra da Avenida Benjamin Constant, próximo à esquina com a Rua Padre José Teixeira, no bairro Cambuí, mobilizou as Força de Segurança de Campinas – Polícia Militar (policiamento de área, 1º Batalhão de Ações Especiais, Corpo de Bombeiros); o Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil; agentes de mobilidade urbana e o Grupo de Ações Táticas Especiais de São Paulo (Gate) - e atraiu a atenção de centenas de pessoas que acompanharam de longe as atividades no local .
A operação toda para confirmar se o objeto era uma bomba ou não demorou cerca de três horas. O agente que efetuou a detonação do material usou um equipamento canadense, composto por traje, scanner, robô e braço manipulador, que recebeu investimento da ordem de R$ 500 mil. O caso será investigado pela Delegacia de Investigações Gerais (DIG).
Policiais militares do 8º Batalhão de Policiamento do Interior (BPM/I) foram acionados por volta das 10h, a partir do acionamento realizado pelo gerente da Caixa Econômica Federal (CEF), localizada na Benjamin Constant, pelo 190 da PM.
A caixa estava encostada na grade do prédio onde funcionava o antigo restaurante Lellis Tratoria, em frente à agência bancária. Câmeras de vigilância da rua mostraram que, por volta das 9h, um homem a pé subiu caminhando pela via no sentido Centro, com a caixa na mão direita, e repentinamente parou diante do imóvel e colocou a caixa com cuidado no chão. Depois, seguiu caminhando.
“O gerente chegou para trabalhar e viu a caixa, de cerca de 30 centímetros, e estranhou. Como medida de segurança, acionou a PM”, contou a tenente da base Cambuí, Mayla Luigi Anjos.
O trecho entre as ruas Coronel Quirino e São Pedro foram bloqueadas pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) a pedido da PM, como medida de segurança, e apenas os moradores podiam circular - mas, com cautela e em casos de urgência. A agência da CEF ficou fechada e apenas a do Santander, na esquina com a Coronel Quirino funcionou.
O Gate e o Corpo de Bombeiros chegaram ao local por volta das 11h50 e iniciou-se toda tratativa para diagnosticar a situação da caixa. Uma unidade de Resgate, um caminhão-tanque do Bombeiros e um capitão da PM médico do CPI 2 formaram a rede de apoio. “A equipe de resgate é necessária neste caso para eventual socorro de qualquer policial ferido”, comentou o comandante do Comando de Policiamento do Interior-2 (CPI-2), tenente-coronel Rodrigo Arena.
Todo o esquema de segurança e o Gate foram acionados devido aos indícios de suspeição, ou seja, a forma como a caixa foi deixada levantou a suspeita sobre o objeto, fazendo com que a PM inicia-se os passos do protocolo de segurança. “A caixa não caiu, não foi jogada ou esquecida. Ela foi colocada intecionalmente no local”, explicou o tenente-coronel.
O policial militar que manipulou a caixa usou um traje antifragmentação de origem canadense, adquirido recentemente pela corporação. Além da veste, o agente ainda utilizou um robô, um scanner e braço manipulador, conjunto avaliado em US$ 103 mil. O agente é chefe da equipe do Gate e especialista, com cursos de explosivista na Argentina e Estados Unidos.
O primeiro passo para desarmar a suposta bomba foi levar o robô até a caixa, onde equipamento usou o scanner para fazer um raio-x do objeto e verificar a possibilidade de haver no interior dele fios, baterias e componentes eletrônicos.
Após a análise, com a caixa ainda encostada na grade do imóvel, o policial usou um braço manipulador para retirá-la do local e colocá-la “deitada” na calçada para uma segunda análise. Com esse movimento os policiais constataram que dentro da caixa havia uma mola. Com o diagnóstico conclusivo de que não se tratava de uma bomba, a caixa foi levada para o meio da rua, a fim de ser detonada com segurança.
“Tivemos que seguir todos os padrões internacionais. Não foi detectado fios, baterias e componentes eletrônicos, os quais são indicativos fortes de que seria explosivo. Como não havia esses componentes, eles (Gate) preferiram fazer a detonação do pacote suspeito para tirar qualquer dúvida”, explicou o tenente-coronel, que foi o responsável pela comunicação com a imprensa.
O processo de análise da suposta bomba começou por volta das 12h20 e a caixa foi detonada por volta das 13h10. Antes e durante a operação, policiais civis e do setor de inteligência da PM buscaram por informações sobre a pessoa que teria deixado a caixa ali. As imagens mostraram que o homem estava bem trajado.
Para que a polícia garantisse a segurança do local, a Emdec fechou o acesso para a Avenida Benjamin Constant. Os motoristas com destino à região central da cidade foram direcionados à Rua General Osório até o Centro de Convivência.
O trabalho da polícia no local atraiu dezenas de pedestres e moradores da região do Cambuí, que acompanharam a ação inusitada e rara.
A aposentada Margarida Silvério, de 79 anos, mora a quatro quadras do local onde estava a falsa bomba e precisava ir ao supermercado nas proximidades do Centro de Convivência. Soube que poderia haver uma bomba no local e resolveu esperar. No entanto, não resistiu a curiosidade de ver o que estava acontecendo de perto. “Assusta muito a possibilidade de ser um explosivo, mas não aguentei. Fiquei apreensiva de esperar em casa. Vim para ver de perto e espero que não seja nada”, comentou a idosa que ficou no local por alguns minutos e depois seguiu para o mercado. O carpinteiro Raiulson Barbosa Nogueira, de 30 anos, trabalhava em uma obra na Rua Sampainho, a poucos metros do local, quando um colega chegou com a notícia da existência da suposta bomba. “Deu muito medo... Vai que ela explodisse? Trabalhamos, mas deu o horário do almoço e corremos para constatar que não havia risco”, disse. Durante a espera para ver o fim do mistério da caixa, surgiram diversas suposições. Uma delas, que foi confirmada depois, era a de que a caixa faria parte de um enfeite de árvore natalina de uma doceria na Rua Sampainho, a poucos metros do local. A gerente da loja, Madame Formiga, Janaína Bonesso, confirmou e disse que a caixa integrava um grupo de oito delas, que foram colocadas na parte externa da frente da loja, abaixo de duas janelas e acima da árvore natalina, que ficava na parte interna da loja. “Ontem (quinta-feira), retiramos três ou quatro delas e colocamos na caçamba de lixo. Hoje, iriamos retirar as demais. Elas foram feitas pela proprietária da doceria, com base na sugestão de um decorador amigo dela. Dentro da caixas nada foi colocado. Por fora, apenas papel laminado para resistir a chuva. Nunca imaginamos que uma das nossas caixas fosse criar toda essa situação. Somente soubemos que ela era daqui pela TV, mas aí a polícia já estava no local”, contou Janaína. Ela acredita que a caixa tenha sido pega por algum morador em situação de rua que pensou ter algo dentro, mas que talvez tenha desistido do objeto ao perceber que poderia estar vazia.