DESFECHO

Sumaré terá que indenizar mãe de garota que morreu

Justiça deu ganho de causa para camareira que perdeu filha de 17 anos, atendida em UPA com suspeita de dengue

Alenita Ramirez/AAN
alenita.jesus@rac.com.br
20/02/2018 às 08:47.
Atualizado em 22/04/2022 às 13:55

Unidade por onde Daiana passou: a mãe disse que rumores no meio hospitalar eram de erro na medicação (Leandro Ferreira/AAN)

A Justiça condenou a Prefeitura de Sumaré a indenizar em R$ 100 mil a camareira e salgadeira Narjara Leal Moura, de 41 anos, pela morte de sua filha, Daiana Ingrid Najara Bastos, em abril de 2014, por negligência médica da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Jardim Macarenko. A decisão, proferida em 31 de janeiro deste ano pelo juiz da 1ª Vara Cível, Gilberto Vasconcelos Pereira Neto, é em primeira instância e a administração pública pode recorrer. Além do montante, o município também terá que pagar uma pensão vitalícia de meio salário mínimo, além de uma pensão com valor a ser definido, correspondente ao período que a adolescente moraria com os pais, entre 18 e 25 anos. “Na verdade, não é só a indenização que busquei com esse processo. Não vai ser o dinheiro que vai me trazer minha filha de volta ou tirar minha dor. Mas vai aliviar minha alma. O que eu queria era uma investigação criminal. Vivemos em um país corrupto. Todo dia tem boletim de ocorrência contra a UPA ou algum outro serviço público. Quero justiça, quero saber o que realmente aconteceu com minha filha. Até hoje não sei”, disse Narjara. Daiana morreu na época em que houve epidemia de dengue na cidade e região. Segundo relatos da camareira, a adolescente, então com 17 anos, fazia o magistério na Escola Estadual José de Anchieta e estágio em quatro escolinhas. Na época, a garota sentiu dores no corpo e após sair de uma das escolas passou na UPA em busca de atendimento. Foi medicada e orientada a voltar no dia seguinte para passar com uma médica que tinha sido designada exclusivamente para o atendimento, em uma sala especial. “Minha filha já estava muito mal. Eu fiquei na porta da sala esperando por ela enquanto a médica a atendia. Mandou aplicar duas injeções, uma cor de leite e outra transparente (Dramin e Dipirona). Ela ficou paralisada e gelada após tomar as injeções. Ela tinha medo, mas foi muito estranho como ela ficou”, contou Narjara. Era final de tarde. Depois, mãe e filha foram para casa e a adolescente teria “apagado”. A menina dormiu no sofá e a camareira acordou na madrugada com a filha convulsionando. A garota foi levada para a UPA, que funciona 24h, mas o local estava com os portões fechados. Segundo a camareira foi necessário muita negociação para conseguir entrar no local. “Uma enfermeira e duas médicas disseram que eu tinha que esperar amanhecer o dia. Fiquei revoltada. Um vizinho estava comigo e viu tudo. Foi humilhante”, disse. Daiana foi levada para a sala de emergência, mas a camareira disse que não recebeu o atendimento necessário e que descobriu que a filha ficou “largada” no local até que na manhã daquele dia ela conseguiu uma médica que encaminhou a estudante para o Hospital Estadual de Sumaré, mas o estado de saúde já estava gravíssimo. “Ela ficou muito estranha. A aparência se transformou. Até hoje não esqueço a cena que a vi na sala de emergência da UPA. Até hoje não consigo entender o que fizeram com ela. São muitas as dúvidas que gostaria de ter respostas” , falou. A adolescente morreu três dias depois de ser levada para o HES. Na época o atestado de óbito foi de morte sem causa determinada. Mas a camareira exigiu laudo, que apontou dengue. No entanto, ela disse que ouviu nos hospitais que a causa da morte na verdade seria por erro na medicação. “Abafaram a causa da morte da minha filha. Isso é muito doloroso. Foi dengue mesmo? Não dá pra aceitar essa resposta. Não dá pra aceitar que um local que foi feito pra atender doentes, caso da UPA, não cumpre o seu papel. Eu sei que muita coisa mudou por lá, mas ainda existem falhas”, disse. Narjara tem mais dois filhos, um rapaz de 26 anos e uma adolescente de 16. Segundo ela, Daiana sonhava em passar em um concurso para o Banco do Brasil ou Caixa Econômica, para comprar uma casa para a família, que vive de aluguel. “Foi uma decisão justa. O sofrido povo brasileiro paga seus impostos e espera ter a contrapartida do poder público. No momento em que mais precisaram, essa mãe e sua filha foram simplesmente menosprezadas pela UPA Macarenko. Família alguma merece passar por isso. Embora o valor da condenação não traga a filha de volta, ao menos a mãe poderá colocar a cabeça em seu travesseiro e saber que lutou com todas suas forças para fazer justiça. E a justiça foi feita”, disse o advogado da família, Heitor Carvalho Silva. Em nota, a Prefeitura disse que recorrerá da decisão. “Porém, ainda que condenada em última instância pela Justiça, a responsabilidade pelo atendimento era da OS que geria a UPA Macarenko na época. Desde o ocorrido, aconteceram algumas mudanças de gestão. A princípio, o governo do prefeito Luiz Dalben, assim que assumiu a Prefeitura, passou a gerir a UPA por meio de uma intervenção, garantindo de forma emergencial o atendimento para toda a população”, frisou em nota, citando que atualmente, quem gere a unidade, assim como o PA Matão, é a OS ISSRV (Instituto Social Saúde Resgate à Vida). Apesar de a posição da Prefeitura, Silva está confiante que a decisão será mantida. Ele também estuda a possibilidade de aumentar o valor. 

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