NATAL INTERROMPIDO

Sumaré enterra família que morreu afogada no Rio Tietê

Um ano após a tragédia de Capitólio, cidade volta a ser palco de muita tristeza

Henrique Oliveira/ [email protected]
27/12/2022 às 09:11.
Atualizado em 27/12/2022 às 09:11
Amigos e familiares acompanham o enterro de quatro das cinco pessoas de uma mesma família que morreram afogadas no Rio Tietê na véspera do Natal, no interior de São Paulo (Rodrigo Zanotto)

Amigos e familiares acompanham o enterro de quatro das cinco pessoas de uma mesma família que morreram afogadas no Rio Tietê na véspera do Natal, no interior de São Paulo (Rodrigo Zanotto)

Quase um ano após a tragédia de Capitólio, no sul do Estado de Minas Gerais, Sumaré volta a ser o epicentro de mais uma história de comoção, dor e sofrimento, culminando com o velório coletivo de membros de uma mesma família no verão. Desta vez, as vítimas morreram afogadas em um trecho traiçoeiro do Rio Tietê, na cidade de Mineiros do Tietê, no interior de São Paulo, na véspera de Natal. Os corpos das quatro primeiras pessoas encontradas pelos bombeiros foram velados na quadra de uma escola e sepultados no Cemitério Municipal no final da manhã de segunda-feira (26). O pai - a quinta vítima dessa tragédia - só foi localizado pelos bombeiros na tarde de domingo e, por essa razão, o seu corpo não foi entregue a tempo de ser velado junto com os demais familiares.

O velório teve início ainda na noite de domingo com os corpos das primeiras quatro vítimas do afogamento: Cynthia Silva dos Santos, de 25 anos; Nicolly Luize Dias da Silva, 9 anos; Emily Camile Dias da Silva, 3 anos; e Denise Aparecida Dias da Silva, de 51 anos. Cynthia era a mãe das crianças Emily e Nicolly e nora de Denise. Pela manhã, momentos antes do sepultamento, o clima era de consternação e de tentar entender o que aconteceu com a família.

Os caixões, com os corpos das vítimas, foram posicionados lado a lado na quadra da escola esportiva da Escola Municipal Neusa de Souza Campos, em Sumaré, adornados por inúmeras coroas de flores. Um ato religioso foi realizado no local. Por volta do meio dia, as duas crianças e os dois adultos foram sepultados no Cemitério Municipal de Sumaré, onde residiam, cada um em uma sepultura diferente.

A quinta vítima, o pai das crianças Kervellin Wallace da Silva, de 29 anos, foi encontrado pelos bombeiros na tarde de domingo, sendo encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Jaú (SP). O corpo de Kervellin não foi entregue aos familiares a tempo do velório junto com os demais entes. A previsão é que o corpo do pai seja velado e sepultado hoje em Sumaré.

O que aconteceu?

Familiares e frequentadores desta região do rio Tietê dizem que a tragédia aconteceu de maneira muito rápida. Testemunhas dizem que o local não possui salva-vidas e que a cidade mais próxima, Santa Maria da Serra (SP), é muito afastada do trecho em que se formou uma espécie de 'prainha', muito procurada na época do verão.

Adenailson Valentim, pai de Cynthia, esteve no velório e, muito emocionado, falou à imprensa sobre o episódio. Ele contou que recebeu a notícia pela manhã do dia de Natal. "Ligaram pra mim e eu estava na comemoração de Natal, mas eu não atendi. Mas pela manhã recebi esta triste notícia". Sobre o momento da tragédia, Adenailson disse que a família estava em um trecho do rio Tietê e que os adultos estavam com a água na altura da cintura. Ele diz que, de repente, "abriu um buraco, desbarrancou alguma coisa nos pés deles e sumiu todo mundo", relata Adenailson, que não estava no local, mas ouviu o relato de testemunhas.

Outra testemunha da tragédia, a aposentada Lucinda Inácio do Nascimento disse que seu irmão foi procurado por um familiar das vítimas pedindo socorro. A testemunha relata que seu irmão possui um barco e que foi ao local tentar socorrer a família. Ao chegar ao local, ele já pôde ver os corpos das mulheres e das crianças boiando. "O meu genro e o avô das crianças já estavam tirando (os corpos), e meu irmão e outras pessoas tentaram fazer massagem (para reanimação), mas não conseguiram. Muito triste", disse.

A testemunha disse ainda que os banhistas que costumam frequentar o local sabem que aquele trecho possui poços, que com a cheia do Tietê, ficam submersos. "Como o rio está muito cheio, por conta das chuvas, arrancou a placa. Ali tem um poço, um abismo, mas pelo rio estar cheio, não tinha a placa", diz Lucinda alegando que a família - vítima do afogamento - estava no local pela segunda vez.

O empresário de Sumaré, Geraldo Medeiros, é proprietário de um rancho nas proximidades. Ele disse que neste período do ano é comum as pessoas se banhar nas águas do Rio Tietê. Medeiros alerta que o local não possui nenhum tipo de salva-vidas. "E já presenciei vários acidentes naquela represa e, agora, mais um que veio a acontecer com uma família de Sumaré", diz Medeiros.

Geraldo disse que conhece muito bem a região e que não existe nenhuma sinalização alertando a existência de poços ou barrancos no leito do rio. "Nem salva-vidas, nem sinalização, nada. Ali, pessoas de todas as regiões do Estado de São Paulo ficam à mercê da própria segurança", diz o empresário.

Segunda tragédia

No início de 2022, em 9 de janeiro, quatro pessoas de Sumaré morreram no desabamento de uma grande pedra de um cânion na cidade de Capitólio, sul do estado de Minas Gerais. Moradores da região do bairro Matão, Maycon Douglas da Osti, de 24 anos, a sua namorada Camila Silva Machado, de 18 anos, Carmem Pinheiro da Silva, de 43 anos (mãe de Camila) e Geovany Teixeira da Silva, de 18 anos - namorado de Carmem - morreram naquele episódio onde 10 pessoas perderam a vida.

Eles estavam a bordo da lancha "Jesus", uma das mais atingidas pelo deslizamento de pedras na represa de Furnas, local muito procurado para turismo na região sul de Minas Gerais. Na época, 32 pessoas estavam entre feridos e mortos. Deste número, a maioria apresentou ferimentos leves e 10 morreram.

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