Estrutura ruim, aliada a imprudência de motoristas, eleva risco na via entre Campinas e Monte Mor
Em um ano e meio, a Rodovia Jornalista Francisco Aguirre Proença (SP-101), que liga Campinas a Monte Mor, registrou pelo menos 40 mortes em mais de 1,3 mil acidentes e atropelamentos nos seus 71 quilômetros de extensão, segundo dados da Concessionária Rodovias do Tietê. São 2,2 mortes por mês. O último acidente com vítima fatal foi na última terça-feira, quando um casal de namorados morreu após o condutor perder o controle do veículo. Os números, considerados muito altos por especialistas, são uma soma de problemas estruturais da rodovia com cara de avenida e da imprudência de motoristas e pedestres.
Só no ano passado aconteceram 910 acidentes na rodovia, que resultaram em 25 mortes. Desde janeiro até o dia 9 de julho deste ano, 11 pessoas já morreram na estrada. De acordo com a concessionária, dos 416 acidentes registrados no primeiro semestre deste ano, 209 pessoas ficaram feridas. O número de mortos não inclui aquelas vítimas que foram socorridas com vida ao hospital, mas morreram horas ou dias depois em decorrência dos ferimentos. A maior parte das colisões ocorrem no trecho de Campinas, início da rodovia, até Monte Mor, onde o fluxo de veículos é maior e a estrada está cercada por bairros e, consequentemente, tem intenso trânsito de pedestres.
O último acidente com vítima fatal foi registrado no feriado de 9 de julho, quando a técnica em contabilidade Natanaina Ferreira Santos, de 20 anos, e o técnico em informática Matheus Martins de Carvalho, 22 anos, sofreram um acidente na altura do Km 6 da rodovia. Natanaina dirigia um Honda Civic e perdeu o controle da direção. O carro caiu na ribanceira, arrancou um poste de ferro, bateu de lado em outro poste de concreto, capotou e parou com os pneus para cima, sobre os tilhos do trem. Os dois morreram no local do acidente.
Atropelamentos
Dados da concessionária também dão conta dos atropelamentos. Só no primeiro semestre de 2012, nove pessoas foram atropeladas e duas morreram. Este ano, os números quase dobraram no mesmo período. Foram registrados 16 atropelamentos, que também resultaram em duas mortes. “Faltam mais sinalização, passarelas bem feitas e uma infraestrutura melhor para as pessoas que moram nos bairros ao lado da rodovia e precisam atravessá-la constantemente. Essas melhorias precisam ser feitas com urgência para que mais vidas não se percam”, afirmou Maria Vigarani, que perdeu o pai há dois meses em um atropelamento na SP-101.
Problemas estruturais
De acordo com José Almeida Sobrinho, especialista em trânsito e presidente do Instituto Brasileiro de Ciência do Trânsito, a rodovia tem problemas específicos, como trechos de pista única e alta densidade populacional nas proximidades da estrada. “Precisa ser reformulada completamente. A empresa tem que investir muito para deixar aquela rodovia segura. É estreita, passa por muita área urbanizada, há muita área de residências ao lado da pista. É uma via de preocupação”, comentou Sobrinho. Ele ressaltou ainda a intensidade do volume de veículos no trecho entre Hortolândia e Campinas. A concessionária não informou o número de veículos por trecho, mas por dia, em toda a extensão da rodovia — 71 quilômetros — passam em média 11 mil veículos.
De acordo com o policiamento rodoviário, além da rodovia estar cercada por áreas urbanas, ter apenas um trecho duplicado e ser usada praticamente como avenida, há o problema da imprudência de motoristas e pedestres. A alta velocidade, as ultrapassagens proibidas e embriaguez ao volante são algumas das principais infrações cometidas pelos motoristas. Muitos pedestres também colocam a vida em risco, mesmo dispondo de uma passarela, optam por atravessar em meio aos carros.
Duplicação
Em maio de 2013, foram entregues 3,24 quilômetros de duplicação entre os quilômetros 11,4 e 14,64 — trecho do município de Hortolândia —, com implantação de um dispositivo em desnível no Km 13,5 e de duas passarelas de pedestres. A concessionária informou que em 2014 será entregue a duplicação entre os quilômetros 14,640 e 25,7 — altura de Monte Mor —, totalizando mais 14,3 quilômetros de pistas duplas.
Para Sobrinho, a duplicação tende a diminuir o número de acidentes. Ele afirmou ainda que a concessionária precisa encontrar formas de isolar a rodovia para evitar a travessia de pedestres. “É preciso colocar proteção metálica, passarelas, porque as pessoas que descem do ônibus e têm que atravessar vão fazer de imediato, principalmente se não encontram alternativas seguras de travessia. Enquanto não realizarem as obras previstas e necessárias, os problemas vão continuar”, afirmou.
Questionado sobre o desenho da rodovia, cheio de curvas e declives, o especialista afirmou que ela seguiu um padrão antigo. “Aproveitou-se a estrada antiga e isso tornou o trajeto um pouco acidentado. Mas isso em si não seria o maior problema da acidentalidade. Com o tempo esses ajustes no desenho podem ser feitos, pretender isso da concessionária de imediato é muita coisa.” A Polícia Rodoviária informou que a via não tem problema com sinalização.