Capital francesa é menor que a Macrozona 4, onde estão o Centro histórico o expandido de Campinas
Vista de Campinas, com o maciço verde do Bosque dos Jequitibás: modelo "predador" de território está ultrapassado, dizem especialistas (Cedoc/ RAC)
Se o mapa da cidade de Paris for colocado em cima de Campinas, o resultado vai surpreender. A capital francesa é menor que a Macrozona 4, a área onde estão o Centro histórico de Campinas e o Centro expandido, delimitado externamente pelo anel rodoviário constituído pelas rodovias dos Bandeirantes e D. Pedro I. Nessa macrozona, a mais verticalizada e adensada da cidade, vivem 600 mil pessoas. Em Paris, a mais adensada da Europa, 2,5 milhões. Há quatro vezes mais pessoas vivendo por metro quadrado na capital francesa do que na região central de Campinas. E quem não gostaria de viver em uma cidade como Paris?
O exercício de sobreposição de mapas foi feito na última terça-feira, na 5 Conferência da Cidade, pelo presidente nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Sérgio Magalhães, colocando o mapa da capital francesa sobre São Paulo e Rio de Janeiro. O Correio fez o exercício para Campinas. O objetivo do arquiteto foi mostrar que o modelo de cidades brasileiras, que se baseia na baixa densidade e na implantação de bairros cada vez mais distantes, está falido.
Para ele, as cidades precisam ser redesenhadas para serem mais compactas e mais densas, e privilegiarem o transporte público de alto rendimento. Cada vez mais, afirmou, vão precisar construir habitações e é a oportunidade de renovar o parque imobiliário e construir onde já há cidade, para melhorar a oferta de bens e serviços públicos.
“As cidades precisam suspender o modelo predador de território que vigora no Brasil. Ele não tem sustentação possível no campo democrático. Temos que reduzir a expansão indesejada e trazer para dimensões compatíveis com as capacidades de energia e cívica, e reconhecer que precisamos urbanizar as cidades brasileiras para que as pessoas tenham mobilidade adequada ao século 21 e que os espaços públicos sejam compatíveis à qualidade de vida”, afirmou.
Democratização
Para ele, a democratização das cidades passa pelo enfrentamento do passivo socioambiental, pela universalização dos serviços, pela recuperação da noção de projeto e pelo desenho da cidade. “As favelas surgem pelo desejo das pessoas se inserirem na cidade, de fazerem parte da vida urbana”, afirmou.
“Quem não se admira com Paris? Quem não gostaria de viver lá? Paris é toda verticalizada, com um prédio encostado no outro, tem espaços de convívio, grandes áreas verdes e a vida gira 24 horas”, disse. O arquiteto afirmou que, quando defende o adensamento das metrópoles, principalmente, não está falando de construir enormes espigões nas cidades. “Pode-se adensar com a ocupação dos espaços vazios, com prédios de quatro, cinco andares”, afirmou.
Municípios onde se compra em um lugar, se mora em outro e se trabalha em um terceiro seguem o modelo da cidade do modernismo, que, segundo o presidente do IAB, já está ultrapassado. “Nós demos as costas para as cidades e elas, generosas, continuam à espera de nossa reflexão para construir um espaço melhor e sermos felizes”, disse.
Para o diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade de São Paulo (USP), Luís Antônio Jorge, a cidade é a expressão de uma cultura, entendida aqui como memória, hábitos, desenvolvimento econômico, social e político.
“Ela é o principal bem de uma sociedade e os espaços públicos são responsáveis por esse sentimento de pertencimento”, afirmou. Ele lembrou o caso de Barcelona, município de alta densidade, com edifícios de baixo gabarito e onde o espaço da sala não é generoso. “Lá o que integra as pessoas é a rua”, afirmou.
O presidente do Conselho Municipal do Meio Ambiente, Rafael Moya, destacou que, apesar dos vários debates sobre a questão e, em geral, a concordância de que é necessário compactar as cidades e priorizar o transporte coletivo, as cidades continuam se espraiando. “Isso ocorre porque o poder públicos não ouve os anseios da população”, afirmou.