POR UNANIMIDADE

Sócios do Clube Cultura aprovam venda da sede social para a Prefeitura

Parte do valor estipulado em R$ 12 milhões compensará divídas tributárias da entidade com a Prefeitura; destinação do imóvel será definida após reunião entre secretarias municipais

Luiz Felipe Leite/[email protected]
25/09/2024 às 07:23.
Atualizado em 25/09/2024 às 09:35
Localizada no cruzamento entre as ruas Irmã Serafina e César Bierrembach, sede social parou de ser utilizada pelo clube por causa da dificuldade de estacionar na região do Centro e pelo barulho das atividades, que incomodavam os moradores do entorno: “Por essas razões passamos a fazer todas as atividades em Sousas”, contou o presidente Claudinei Cremonesi (Kamá Ribeiro)

Localizada no cruzamento entre as ruas Irmã Serafina e César Bierrembach, sede social parou de ser utilizada pelo clube por causa da dificuldade de estacionar na região do Centro e pelo barulho das atividades, que incomodavam os moradores do entorno: “Por essas razões passamos a fazer todas as atividades em Sousas”, contou o presidente Claudinei Cremonesi (Kamá Ribeiro)

Os sócios titulares do Clube Semanal de Cultura Artística de Campinas autorizaram na noite de anteontem, dia 23, por unanimidade, a venda da sede social da agremiação para a Prefeitura de Campinas. A transação do prédio localizado na Rua Irmã Serafina, no valor de R$ 12 milhões em débitos tributários e em créditos para futuras dívidas que o clube pode vir a adquirir, foi avaliada em uma Assembleia Geral Extraordinária realizada na sede de campo, no Distrito de Sousas. O encontro para apreciar a proposta foi convocado pela Diretoria Executiva e pelo Conselho Deliberativo do Clube.

Segundo a Administração Municipal e a direção do clube, o próximo passo será a entrega formal da ata da reunião para a Prefeitura. Na sequência serão resolvidos os tramites burocráticos necessários para as alterações necessárias na escritura do imóvel, que está na região central de Campinas.

O presidente do Clube Semanal de Cultura Artística de Campinas, Claudinei Cremonesi, afirmou que os sócios titulares entenderam que a proposta da Prefeitura foi positiva para o futuro da agremiação. “Nós paramos de usar essa sede social por alguns motivos. Com o passar dos anos foi ficando mais difícil estacionar na região do Centro, principalmente em dias de shows realizados aqui. Fora a questão do barulho, pois as legislações mais recentes começaram a restringir a emissão de sons mais altos a partir de determinados horários. Tivemos muitas reclamações dos moradores dos arredores da sede social. Em paralelo, a parte esportiva, realizada na sede de campo, estava se desenvolvendo mais. Por essas razões passamos a fazer todas as atividades em Sousas”, comentou.

Ainda de acordo com Cremonesi, a questão estrutural do prédio da sede social nunca esteve em discussão durante as tratativas com a Prefeitura de Campinas.

“Estruturalmente o prédio é muito bem construído. Ele está inteiro em termos estruturais. O que está deteriorado hoje se deve mais por conta das invasões ao prédio, que resultaram no furto de cabeamento elétrico, de partes dos encanamentos etc. O estrago, vamos dizer assim, é mais na parte não-estrutural. Com a venda da sede social, vamos ter condições de alocar mais recursos na sede de campo. São melhorias que devemos fazer para os associados.”

Na avaliação do secretário de Finanças de Campinas, Aurílio Caiado, as negociações foram conduzidas de forma profissional entre as partes, com as primeiras conversas formais realizadas por volta de março deste ano. “Existe um conjunto de dívidas tributárias do clube que somam um valor considerável. Em paralelo, existia a intenção da agremiação de ocupar a sede social com algo que fosse rentável para eles, como um aluguel. Após o insucesso da tentativa anterior da diretoria do clube em alugar a sede social, no final do ano passado, houve as primeiras conversas entre a direção e a Prefeitura. Uma análise do prédio foi realizada pela área de avaliação da Administração Municipal, que chegou ao valor de R$ 12 milhões para o imóvel. Parte desse montante será para compensar as dívidas tributárias e o restante ficará como saldo para abater débitos de outros tributos que o clube poderá ter”, detalhou.

O responsável pela Pasta avaliou que o acordo foi positivo para ambas as partes, com a Prefeitura adquirindo um espaço que será utilizado em prol da cidade, ao mesmo tempo em que conseguirá manter um prédio com valor histórico para o município de Campinas. “Com a quitação dos débitos, o Clube Cultura ficará apto a obter algumas facilidades tributárias, como prestar serviços para a comunidade e pagar menos Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), por exemplo. Acredito que o acordo tenha sido bom para todos os envolvidos.” 

A secretária de Urbanismo de Campinas, Carolina Baracat, opinou que o local é estratégico para aliar a revitalização do Centro com a ampliação do acesso da população aos serviços públicos. "É um espaço amplo, em frente à Praça Carlos Gomes, que tem trazido muitas pessoas ao Centro em seus eventos. Teremos mais um espaço com a presença do poder público, que vai valorizar o patrimônio arquitetônico, promover acesso fácil da população a serviços e marcar as ações da revitalização do Centro. A escolha do que exatamente será feito no Clube Cultura vai acontecer após discussões internas em uma reunião de secretariado."

Baracat comentou sobre as características arquitetônicas da fachada do prédio e como elas destacam o imóvel do ponto de vista histórico. Atualmente, a sede do Clube Semanal de Cultura Artística passa por estudo de tombamento, de acordo com decisão do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc). “Existem os pilares redondos da fachada, além dela como um todo. Existe ainda uma permeabilidade visual por meio do gradil, com as curvas existentes ali. A fachada da sede social do Clube Cultura simboliza um período histórico muito importante, não somente dentro da arquitetura moderna, mas de um crescimento de Campinas na vigência daquela época, que estava no início do seu desenvolvimento. Isso tudo vai ser preservado pela Prefeitura de Campinas, com certeza.”

REQUALIFICAÇÃO DO CENTRO

Trata-se de mais uma medida para requalificar o Centro da cidade, assim como a tentativa de transferir a Câmara de Campinas para o Palácio da Justiça, a restauração do Pátio dos Leões pela PUCCampinas e a desapropriação do Edifício Santana (considerado o primeiro arranhacéu da cidade) para a criação de uma nova policlínica municipal.

O edifício da sede social do Clube Semanal de Cultura Artística de Campinas, construído entre o final da década de 1950 e o início dos anos 1960, está desocupado desde 2016, após o fechamento de uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) que funcionava no local. O encerramento das atividades ocorreu por determinação do Departamento de Vigilância em Saúde (Devisa). Até o ano passado, havia um projeto para transformar o imóvel no "Boulevard Masserani", um espaço que combinaria atrações culturais, como um piano-bar, e lojas. No entanto, o responsável pela locação desistiu da iniciativa em dezembro de 2023, depois de o local ter sido invadido três vezes em duas semanas.

A Prefeitura de Campinas informou que, além da compra da sede social do Clube Cultura, estão em andamento outras aquisições e intervenções que contemplam o projeto de revitalização do Centro. A Administração Municipal comprou recentemente o prédio do antigo Opala Hotel na esquina das ruas Barão de Jaguara e César Bierrenbach para implantar o CEEM (Centro de Exames e Especialidades Médicas). O local vai oferecer à população atendimentos de oftalmologia, otorrinolaringologia, reumatologia, pneumologia e alergologia e outros tipos de exames.

Entre as obras em andamento, estão o restauro do teatro do Centro de Convivência, no bairro Cambuí e a reforma do Mercado Municipal de Campinas. Outras ações incluem a Lei do Retrofit, que oferece benefícios para reforma e novas construções no Centro, e o Procentro, que oferece descontos no Imposto Sobre Serviço (ISS) para comércios na região.

HISTÓRIA

O Clube Semanal de Cultura Artística foi fundado em 16 de julho de 1857, considerado pela própria agremiação como o mais antigo clube social e esportivo do Brasil ainda em funcionamento. A sede da Rua Irmã Serafina foi inaugurada no dia 12 de novembro de 1959, permanecendo por lá até julho de 1988. Depois, ele foi alugado em algumas oportunidades.

O Clube Cultura conta atualmente com a sede de campo, localizada em Sousas, com 138 mil metros quadrados de área de lazer. No local são oferecidas várias atividades, como um parque aquático com quatro piscinas, dentre elas uma olímpica e uma infantil. Além disso, existem quadras poliesportivas, quatro campos de futebol, nove quadras de tênis em área com deck e lanchonete, além de 18 quadras de Beach Tênis com vestiários, lanchonete em um espaço de lazer e muitas outras atividades.

  

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