Sobrapar, uma missão de família

Recepção lotada, muitas crianças, adultos, famílias inteiras que momentaneamente estão despedaçadas por algum problema de saúde de seus integrantes, principalmente, deformidades craniofaciais. O espaço do Hospital Sobrapar, em Campinas, não está cheio apenas de pessoas, está repleto de sonhos, planos para o futuro e desejos de uma vida melhor. Justamente pensando nessas pessoas e em suas necessidades que, 40 anos atrás, nasceu o Sobrapar — referência no tratamento de anomalias craniofaciais congênitas ou adquiridas, resultantes de traumas, tumores e queimaduras. A história da instituição começou com Cassio Raposo do Amaral. Em 1968, ele concluiu o curso de Medicina na primeira turma da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Fez residência em Cirurgia Geral na Universidade Federal do Rio de Janeiro e em Cirurgia Plástica na Universidade de São Paulo. Em seguida, foi aos Estados Unidos, onde trabalhou com os mais importantes especialistas na área de cirurgia plástica. Em 1973, ele concluiu, em Paris, sua especialidade em Cirurgia Plástica Craniofacial com o professor Paul Tessier, pioneiro e um dos mais importantes cirurgiões do mundo nessa área. Na época, ele já sonhava em criar no Brasil um hospital especializado no tratamento e reabilitação de pacientes com deformidades craniofaciais, com um conceito de interdisciplinaridade. Com o apoio da esposa, a psicóloga Vera Raposo do Amaral, fundou, em 1º de março de 1979, a Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação Craniofacial (Sobrapar). O sonho começava a se tornar realidade. Início Assim que foi fundada, a instituição funcionava nas dependências do Hospital Álvaro Ribeiro, que atendia a população infantil carente de Campinas e região. De 1982 a 1990, a sede ficava no Centro, na Cruzada das Senhoras Católicas. Na ocasião, já tinha uma abordagem multidisciplinar, com ambulatórios, salas de curativo, de documentação fotográfica, arquivos e os setores de cirurgia plástica, fonoaudiologia, psicologia, serviço social, ortodontia e fisioterapia. Vera, uma das psicólogas pioneiras na área de psicologia da saúde e psicologia hospitalar, implantou o serviço de psicologia desde o início. Hospital O Hospital Sobrapar Crânio e Face foi inaugurado em fevereiro de 1990. Sua construção aconteceu graças à doação de uma área ampla e próxima ao complexo hospitalar da Unicamp, por Abraham Kasinski, então presidente da Companhia Fabricadora de Autopeças (Cofap); de recursos da organização alemã Lateinamerika Zentrum; de bancos e de um grupo de empresários para garantir a contrapartida de recursos necessários à construção. Amaral foi presidente da instituição até 2 de setembro de 2005, quando faleceu em decorrência de fibrose pulmonar, às vésperas de completar 62 anos. Contudo, se alguém pensou que a história acabaria por aí, se enganou. Vera, que é mestre e doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo, tem especialização em Psicologia na Universite de Paris V (Sorbonne) e foi professora de pós-graduação por 33 anos, assumiu a presidência. "O que poderia ter sido uma ruína, se tornou a minha salvação. Me ergueu, salvou minha vida e me faz acordar toda segunda-feira de manhã com vontade de fazer mais", revela. A missão da família foi mais adiante. Os dois filhos do casal, Cassio Eduardo Raposo do Amaral, 43 anos, e Cesar Augusto Adami Raposo do Amaral, 39, se formaram em cirurgia plástica, inspirados pelo pai, e continuaram o legado. Desde 2007 eles atuam no hospital. Ambos consolidaram o hospital no cenário internacional a um patamar talvez nunca imaginado pelo pai. Atendimento O Hospital Sobrapar atende pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), em situação de vulnerabilidade social. É referência de interdisciplinaridade e humanização hospitalar. Os pacientes são encaminhados por unidades do SUS e devem agendar consulta pelo fone (19) 3749-9700. As crianças são a maioria dos atendidos. Em 2018, 51% dos pacientes tinham de zero a seis anos de idade. Do total de casos atendidos, as fissuras lábio palatinas correspondem a mais de 30%. De cada grupo de 650 bebês nascidos vivos no Brasil, um tem fissura lábio palatina, deformidade que pode provocar sequelas graves, como perda da audição, problemas de fala e déficit nutricional, além do sofrimento com o preconceito. A total reabilitação do paciente com fissura é possível e quanto mais cedo a intervenção, melhor. O tratamento é longo, do nascimento até a fase adulta — chega a quase 20 anos de duração. O hospital atende ainda portadores de síndromes, como Apert e Crouzon, sendo referência no tratamento das anomalias, além de pacientes com tumores e vítimas de traumas e queimaduras. Legado Cassio Eduardo, o filho mais velho, é doutor e pós-doutor pela Universidade de São Paulo e atual presidente da Associação Brasileira de Cirurgia Crânio-Maxilo-Facial. Tem mais de 150 publicações científicas e um livro em inglês publicado em 2018 que muda paradigmas no tratamento das deformidades craniofaciais congênitas. Neste ano, será professor visitante do Texas Children Hospital, maior hospital pediátrico dos Estados Unidos. Para ele, continuar o trabalho do pai é um privilégio. "Me sinto honrado, motivado a cada dia me tornar uma pessoa melhor, um cirurgião melhor para poder oferecer para essas crianças o que elas precisam", diz. "Meu pai já tinha aquela paixão pela especialidade, eu fui engatado a isso por conta dele, ele morreu tem quase 15 anos e a gente continua com o amor pela área e pelas pessoas", garante. Cesar também sente o mesmo orgulho. "É um legado que nosso pai deixou, nossa mãe continua e a gente tem que dar o sangue e continuar o trabalho para tratar esses pacientes que têm essas deformidades craniofaciais, que às vezes são um pouco esquecidas. A gente tenta fazer nossa parte", conta. CURIOSIDADES No ano passado foram realizados cerca de 40 mil atendimentos ambulatoriais e quase 1,2 mil cirurgias. A Sobrapar completou 40 anos em 2019 O SUS representa apenas 34% dos recursos da instituição. A maioria das verbas é obtida por meio de doações de pessoas físicas e jurídicas, eventos e com as vendas do Bazar Sobrapar, que hoje representa 15% da receita da instituição. O Bazar oferece artigos variados, como roupas, eletrodomésticos e muitos móveis, entre outros. O hospital também cumpre objetivos educacionais e formou em seus programas de Residência Médica, de 1985 até os dias de hoje, cerca de 70 cirurgiões plásticos. A instituição é ainda um importante celeiro de trabalhos científicos premiados, congressos, eventos e recebe visitas de médicos e especialistas do Brasil e Exterior. COMO DOAR Há várias maneiras para contribuir com a Sobrapar. A mais nova é por meio de um aplicativo que pode ser baixado pelo celular ou pelo site sobrapar.doarfacil.com.br. A cada R$ 5 o doador ganha um ponto. Os pontos acumulados podem ser trocados por produtos, serviços ou descontos em lojas e restaurantes. Além disso, há as opções abaixo: DEPÓSITO BANCÁRIO: SOBRAPAR - Sociedade Brasileira de Pesquisa e Assistência para Reabilitação Craniofacial CNPJ: 50.101.286/0001-70 Banco Santander (033) Agência: 3910 - Unicamp Conta corrente: 13000163-7 Doações de produtos usados ou novos que podem ser comercializados no bazar permanente: (19) 3749-9700 Ramal 240 ou 3289-4465 - [email protected]. PROJETO ADOTE UMA CIRURGIA: Doação de recursos para cirurgia de média complexidade: R$ 3.5 mil ou cirurgia de alta complexidade: R$ 23 mil — Informações com Márcia França - [email protected] ou (19) 3749-9700 ramal 262 Doação do IR - Pessoa Jurídica ou Pessoa Física podem destinar parte do seu Imposto de Renda devido para uma entidade assistencial, via FMDCA - Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Programa Nota Fiscal Paulista - Informações (19) 3749-9700 - Ramal 284 - [email protected] / [email protected]