INCLUSÃO

Sobram vagas para deficientes no CPAT

Apesar da procura, restrições do mercado deixam cargos ociosos

Jose Eduardo Mansur
jose.mansur@rac.com.br
23/09/2017 às 19:15.
Atualizado em 22/04/2022 às 18:11

Jovens em reunião do programa de inclusão da Fundação Síndrome de Down, em Campinas: preparação para o acesso ao mercado formal (Leandro Ferreira/AAN)

Oportunidades para todos. É o que prega a legislação brasileira, em consonância com os mandamentos dos organismos internacionais quando o assunto é a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Mas não bastam somente as leis, é preciso achar soluções que facilitem a inserção desses trabalhadores. No Brasil, a maioria das vagas disponíveis para pessoas com deficiência (PCDs) permanece em aberto, embora exista procura para esse preenchimento. Enquanto as empresas alegam falta de qualificação para não contratar, setores da sociedade tentam buscar soluções para preencher os cargos disponíveis. Neste segundo semestre, das 459 vagas para PCDs cadastradas no Centro Público de Apoio ao Trabalhador (CPAT) de Campinas, apenas 106 foram preenchidas. Desde 2012, das 14,5 mil vagas colocadas à disposição, somente 590 seguem ocupadas. Para a coordenadora do Sistema Nacional de Emprego (SINE) do CPAT de Campinas, Sílvia Garcia, o problema nem sempre está na qualificação. “A gente encaminha o perfil desejado. O nosso sistema faz a filtragem dos critérios exigidos pela empresa, como o tempo de experiência e outras características, mas os motivos para a recusa desses trabalhadores são subjetivos, na maioria das vezes. As justificativas para a não contratação costumam ser evasivas”, revela. Discutir essa situação é um dos objetivos do Fórum Pessoas com Deficiência - Além da Lei de Cotas, que acontece amanhã, a partir das 8h30, em Campinas, no auditório do Sesi Amoreiras. Especialistas em recursos humanos, representantes de empresas e profissionais que atuam em programas de apoio à inclusão vão debater os entraves e apresentar experiências positivas — iniciativas que podem gerar retorno para as empresas também transformam a vida de pessoas com deficiência. Em breve, os sonhos de Luís Gustavo Vicentim de Toledo podem se realizar. “Eu sempre quis ser fotógrafo e também gosto de ver a preparação dos pratos”, diz o jovem de 20 anos, que acompanha de perto as receitas do tio no food truck da família. Fã de pão de queijo, pizza e bruschetta, ele tem o desejo de trabalhar com fotografia e gastronomia, suas vocações. Atualmente, Luís está em processo de formação e faz parte de uma turma de nove aspirantes ao mercado de trabalho. O jovem integra o programa de inclusão da Fundação Síndrome de Down, em Campinas. “Atuamos na preparação desses jovens adultos para o preenchimento de uma vaga formal. São questões relacionadas a comportamento, postura e processo seletivo. Eles também participam de uma vivência da prática profissional, o equivalente a um estágio”, explica Ana Carolina de Freitas, coordenadora da instituição sem fins lucrativos que apoia pessoas com deficiência intelectual e mantém serviços de assistência também às famílias. Desde 1999, a entidade permitiu cerca de cem inserções de pessoas com síndrome de down no mercado de trabalho. A fundação monitora e dá assistência a 60 desses trabalhadores que continuam empregados, atuantes em 30 organizações de todos os portes e de diferentes segmentos na região. “Esses jovens saem dos vínculos mais próximos para a expansão de mundo. Significa a passagem para a vida adulta, a construção de uma autonomia”, diz Ana Carolina, destacando que as empresas passam pela revisão do processo de trabalho para receber o novo funcionário. “É uma mudança comportamenta”, aponta a coordenadora, lembrando que as equipes aprendem a lidar com o colegas especiais. Na opinião da diretora da regional Campinas da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-SP), os benefícios para as firmas que contratam PCDs são imensuráveis. “O maior ganho é do time de trabalho que acolhe o deficiente. As diferenças ensinam o tempo todo, pois buscamos alternativas para lidar com essas questões e ainda há uma repercussão no âmbito familiar desses funcionários”, assegura Fabíola Lencastre, uma das palestrantes do evento promovido pela ABRH-SP Campinas sobre a inserção de deficientes no mundo profissional. Fórum O Fórum Pessoas com Deficiência - Além da Lei de Cotas debate os temas ligados ao assunto usando exemplos bem-sucedidos de inclusão. O conteúdo vai trazer ações positivas de gigantes como Rhodia, Eaton e Cummins Brasil, que propuseram modelos eficientes, não apenas se adequando à Lei Brasileira de Inclusão (2015) e à Lei de Cotas para deficientes. O dispositivo foi sancionado em 1991 e prevê que entre 2% e 5% das vagas de organizações com mais de 100 empregados sejam preenchidas por pessoas com algum tipo de deficiência. O empresário que não se adequa está sujeito à multa mínima de R$ 2.284,05 por vaga não ocupada. “Quando a lei tornou isso obrigatório, as empresas colocavam as pessoas pra dentro com o objetivo de não levar multa. Hoje, há um processo voltado para o engajamento, onde os contratados devem ser aderentes aos valores da empresa”, destaca Lencastre, citando que há sobra de vagas para PCDs na região de Campinas. “A falta de qualificação gera dificuldade para o preenchimento dos cargos. É grande a busca de candidatos alinhados. Os realmente capacitados são preciosidades”, afirma a especialista em gestão de pessoas.

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