sequestro

Sniper põe fim a três horas de agonia

O desfecho do mega-assalto ao Aeroporto de Viracopos ocorreu cerca de quatro horas depois de iniciada a perseguição aos bandidos

Francisco Lima Neto
18/10/2019 às 07:44.
Atualizado em 30/03/2022 às 10:48

O desfecho do mega-assalto ao Aeroporto de Viracopos ocorreu cerca de quatro horas depois de iniciada a perseguição aos bandidos. Um "sniper" — atirador de elite do Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) —, atirou em um dos sequestradores após três horas de negociação. Segundo a polícia, ele ficou agressivo e apontou a arma para a cabeça da refém, que estava com a filha no colo. A advogada do sequestrador acusa a polícia de "execução a sangue frio". Durante a fuga do Aeroporto de Viracopos, os bandidos, na região do bairro Vida Nova, roubaram um caminhão de lixo para fugir sem levantar suspeitas. Contudo, o grupo foi surpreendido por uma viatura da Guarda Municipal (GM). Eram 12 homens que estavam no caminhão e começaram a sair pelo teto. "Com essa abordagem da Guarda Municipal, eles atiraram contra a viatura. Os guardas conseguiram se proteger", explicou o Major do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) André Luiz Pacheco Pereira. Entre três e quatro suspeitos tomaram a viatura da GM e fugiram, até chegar à Rua Sócrates, no Residencial Campina Verde. "A viatura passou a ser acompanhada pelo pessoal do Baep nessa rua. Eles deixaram o veículo porque estavam baleados", detalhou. Dois deles entraram em uma casa que estava sem portão. Um pedreiro e um grupo de quatro serralheiros trabalhavam no imóvel. Eles fizeram reféns, mas logo a equipe do Baep chegou e interveio na situação. Segundo as informações, houve troca de tiros e os dois morreram. "Eu tava trabalhando, a minha esposa ligou porque o serralheiro ligou para ela dizendo que os bandidos tinham invadido a casa e levado um funcionário dele. Dois bandidos ficaram dentro da minha casa e outro invadiu a casa da vizinha da frente", contou o metalúrgico Kleverson Constantino Sanches, dono da primeira casa invadida. "Chegou uma viatura da GM, mas eram os bandidos, eles colidiram com a caçamba de entulho. Assim que eles invadiram a casa, a polícia chegou. Dois bandidos fugiram com o caminhão da serralheria levando o motorista de refém", contou Sanches. O refém foi encontrado depois. "Eu não consegui entrar em casa, mas meu irmão, que era o pedreiro, disse que um morreu no quarto e outro na sala. Está tudo sujo de sangue", comentou o metalúrgico, que iria dormir com a esposa e filhos na casa da sogra. O terceiro sequestrador entrou na casa da vizinha da frente, onde estava uma mulher de 37 anos com a filha de apenas 10 meses de vida. Uma equipe do Gate negociou com ele por quase três horas, enquanto as moradoras eram mantidas sob sua mira. "As negociações caminhavam muito bem até que ele colocou a arma na cabeça da refém, que tinha a filha no colo. Ele se aproximou da porta e aumentou a agressividade. O sniper estava posicionado do outro lado da rua. Efetuou um disparo, um tiro de comprometimento, e a equipe tática fez a invasão. Estão salvas as duas vítimas. A criança saiu no colo, bem, e a mãe com um ferimento leve", explicou Luis Augusto Pacheco Ambar, coronel comandante do Gate. A mãe levou um tirou na região lombar, passou por cirurgia no Hospital Puc Campinas e está fora de risco. "Após o tiro do sniper a equipe entrou e efetuou alguns disparos para ter certeza de que poderíamos socorrer as duas vítimas. O criminoso morreu com tiro no rosto." A movimentação chamou muito a atenção dos moradores da região, que nunca viveram nada parecido. Muitos curiosos se aglomeraram nas imediações para saber o que estava acontecendo. A manicure Célia de Souza, de 33 anos, estava saindo de casa quando foi pega de surpresa pela confusão. "Eu tava aqui na hora, inclusive eu ia até sair, ia comprar pão pra tomar café. Aí eu ouvi tiros, falei meu Deus. Muito tiro, muito tiro mesmo. Eu tenho três crianças, fiquei morrendo de medo. Tava cheio de polícia aqui na frente de casa, apontando arma para cima, aquele barulhão. Meu coração quase saiu pela boca", relatou. Ela conhece a vizinha que foi feita refém e ficou com medo. "Eu conheço a mulher de vista, de ver passar aqui na rua. É um perigo. Meus filhos gostam de brincar aqui na frente e sempre deixam o portão aberto, se no caso fossem eles brincando e o portão aberto, teria sido nós (as vítimas), com certeza", falou. Caminhão No caminhão de lixo usado pelo grupo durante a fuga, a polícia encontrou dois malotes com dinheiro, armas de grosso calibre e muita munição. "Temos fuzis recuperados, dinheiro recuperado, uma arma de grosso calibre, vasta quantidade de munição. É uma ocorrência muito complexa. Existe aqui Polícia Militar, Baep atuando, Guarda Municipal, tudo isso vai ser concentrado na Polícia Federal. Tem local onde abandonaram dois fuzis, tá muito complicado. A cada momento a gente vai para uma diligência e aparecem fatos novos", destacou o Major André Luiz. Advogada fala em 'execução a sangue frio' A advogada Alessandra Girardi acusou a polícia de executar seu cliente, que mantinha mãe e filha reféns, a sangue frio. Ela afirmou que ele era pai de família e empresário. Segundo ela, o nome dele era Luciano. "Luciano nos ligou, nós somos advogados de São Paulo. Ele disse 'pelo amor de Deus vem pra cá que eles vão me matar. Vou me entregar, mas vou esperar a senhora chegar'. Eu tava com o sequestrador na linha, de dentro da casa me ligando", relatou ela. "Não esperaram o advogado chegar para negociar a entrega. Ele ia se entregar. Foi execução a sangue frio. A intenção era sair daqui e ele ir sim preso, pagar pelo crime que ele cometeu, se ele roubou, e seqüestrou. Mas tirar a vida de uma pessoa? A polícia militar não esperou a nossa chegada", reclamou. De acordo com ela, o cliente, temia pela vida. "Ele só queria resguardar a vida dele. Ele sabia que ia ser preso. Ele é réu primário, nunca foi preso na vida. Ele ia pagar pelo crime que cometeu, mas não foi dada essa oportunidade. Três pessoas foram assassinadas hoje pela polícia", denunciou.

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