POLÊMICA

Sindicato vê problemas no Cury para os articulados

Entidade que representa motoristas contesta acusação de excesso de velocidade e vê erro em laudo

Luciana Félix
luciana.felix@rac.com.br
31/08/2013 às 06:30.
Atualizado em 25/04/2022 às 03:51

O sindicato também questiona a segurança da estrutura do Viaduto Cury ( Carlos Sousa Ramos/AAN)

O Sindicato dos Rodoviários de Campinas e Região vai à Justiça contestar o laudo do Instituto de Criminalística (IC) que apontou o excesso de velocidade como causador do acidente com o ônibus que desabou do Viaduto Miguel Vicente Cury, na região central, no mês passado. Segundo o presidente da entidade, Matusalém de Lima, uma inclinação na estrutura do elevado teria sido a real causa do acidente. Segundo ele, essa falha estrutural, aliada à pista molhada e à chuva, teria jogado o veículo para fora da via.O sindicato também questiona a segurança da estrutura, que considera “ultrapassada e sem condições para suportar o tráfego intenso de veículos de grande porte que existe atualmente na via”. Segundo Lima, são comuns as reclamações de motoristas, principalmente dos ônibus articulados, sobre a falta de segurança para tráfego no trecho.Na última terça-feira (27) a Polícia Civil divulgou o laudo do IC que apontou o excesso de velocidade como causador do acidente. De acordo com o parecer que analisou dados do tacógrafo (espécie de caixa preta do ônibus, que registra velocidade, tempo e distância percorridos), o motorista E.G., de 35 anos, trafegava a 75 km/h no trecho final do corredor de ônibus da Avenida João Jorge (onde o limite de velocidade para ônibus é de 30 km/h) e, ao bater na mureta de proteção do viaduto, o ônibus estava a 56 km/h. No trecho, o limite é de 40 km/h.Um passageiro morreu e outras 24 pessoas ficaram feridas. O motorista foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, além de lesão corporal culposa. Os dois crimes terão agravantes pela função de ser motorista profissional.Além dos problemas apontados no Viaduto Cury, o sindicato pedirá um novo laudo do tacógrafo do coletivo. O presidente afirmou que o aparelho do veículo acidentado estava com problemas e adiantando a marcação entre 12 e 13 quilômetros no trecho. Ou seja, as duas últimas velocidades registradas pelo aparelho seriam referentes a um trecho anterior ao corredor da Avenida João Jorge e também ao viaduto.“Não é só esse ônibus que tem o medidor adiantado. Nós entraremos na Justiça contra esse laudo. Esse número apresentado não é real nos pontos afirmados”, disse Lima, que afirmou ter levado a questão ao departamento jurídico do sindicato. “Sem falar que acho impossível um motorista profissional querer dirigir aquele veículo grande e pesado, numa curva, naquela velocidade. É impossível.”O sindicalista afirmou que o corredor de ônibus da João Jorge tem uma sequência de lombadas que impossibilitaria o tráfego de um veículo articulado em alta velocidade. “Como o motorista poderia passar ali a quase 80 km/h sem prejudicar os passageiros? Não tem como. Este laudo está errado, pelo registro que não condiz com as condições da via. O motorista acusado está em choque. Ele nega a velocidade, ainda mais porque estava chovendo”, disse.O presidente adiantou que estuda a contratação de uma nova perícia, particular, para um novo laudo e também para analisar as condições do viaduto. “O viaduto foi construído há 50 anos. Naquela época não havia veículos pesados e articulados como hoje. É necessário acertar a inclinação atual, ela é inviável. Já caíram dois carros de lá, além do ônibus.” ICO diretor do IC, Nelson Patrocínio da Silva, informou que o laudo feito por uma das peritas da equipe técnica provou, por meio do aparelho, o excesso de velocidade. “Agora, a informação de que existe um adiantamento no aparelho não nos foi passada. Se tem como provar, é preciso mandar um documento para a polícia ou para a Promotoria pública questionando esses fatos. Não dá para discutir um laudo feito com o aparelho”, afirmou.A reportagem procurou a VB Transporte, responsável pelo ônibus acidentado, e a empresa informou por meio de assessoria de imprensa que só vai se manifestar oficialmente sobre o assunto quando receber os laudos da perícia técnica.O motorista indiciado foi procurado pela reportagem, mas não quis dar entrevista.Secretário afirma que via atende a padrõesO secretário de Serviços Públicos, Ernesto Paulela, rebateu as acusações do sindicato quanto à estrutura ruim do viaduto que teria causado o acidente com o ônibus. Ele afirmou que o elevado está dentro dos padrões de engenharia necessária para a construção. “Na última reforma, anterior ao acidente, foi feita uma fresagem do pavimento velho para regularizar. Nesse trabalho tiramos as ondulações e imperfeições e foi feito um novo recapeamento, dentro dos padrões de engenharia preconizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas.”O secretário afirmou que a inclinação que existe segue as normas técnicas para fazer a água da chuva escoar para a lateral. “Se não houver essa inclinação, a água vai parar na pista e pode provocar acidentes. A própria norma diz que tem que ter uma leve inclinação dentro do padrão da engenharia. Não foi o viaduto que causou o acidente, a perícia feita na estrutura apontou isso.”O secretário disse que o viaduto tem pequenos problemas estruturais, que estão sendo avaliados pela secretaria de Infraestrura. “Esses problemas não têm nenhuma relação com a pavimentação ou sistema viário. São apontamentos na estrutura como ferragens aparentes nos apoios das pilastras. São questões sem implicação com o pavimento.”O especialista em transportes e professor de engenharia civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Creso de Franco Peixoto acredita que é preciso fazer uma análise mais minuciosa no viaduto e também da velocidade possível na estrutura com um ônibus articulado para saber o que aconteceu. “Tem que analisar muitos dados, desde raio de curvatura horizontal e inclinação transversal no piso, chamado de superelevação, o coexistente de atrito. Com esses dados é possível ter ideia da velocidade mínima, média e máxima. Só batendo o olho é impossível ver e saber. Veículos articulados têm risco maior de derrapar”.

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