INSPIRAÇÃO FERROVIÁRIA

Sindicato conclui novo projeto arquitetônico do shopping popular

Entidade que representa os camelôs de Campinas espera que a proposta seja analisada e aprovada pelo Condepacc no final deste mês

Edimarcio A. Monteiro/ [email protected]
04/08/2023 às 09:01.
Atualizado em 04/08/2023 às 09:01
O novo projeto arquitetônico do shopping popular prevê que o galpão onde funcionava a antiga garagem de carros, tombado pelo Condepacc em 2014, será preservado e integrado ao empreendimento (Rodrigo Zanotto)

O novo projeto arquitetônico do shopping popular prevê que o galpão onde funcionava a antiga garagem de carros, tombado pelo Condepacc em 2014, será preservado e integrado ao empreendimento (Rodrigo Zanotto)

O shopping popular ganhou um novo projeto arquitetônico integrado ao Trem Intercidades (TIC) São Paulo-Campinas, que terá chegada e partida na Estação Cultura, antiga Fepasa, no Centro. A revelação foi feita pelo vereador e vice-presidente do Sindicato dos Empreendedores Individuais de Ponto Fixo Público e Móvel de Campinas (Sindipeic), José Carlos dos Santos, o Carlinhos Camelô (PSB), que espera a avaliação da proposta na reunião no final deste mês do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (Condepacc).

O novo projeto prevê uma faixa de distância da linha férrea para permitir a circulação do TIC, que já teve a licitação pública lançada pelo governo do Estado. As propostas serão abertas no dia 28 de novembro para a definição do vencedor. O desenho arquitetônico do shopping dos camelôs também foi totalmente refeito e agora é inspirado em um trem, conforme revelou Carlinhos Camelô.

A proposta anterior foi vetada pelo Condepacc, em junho do ano passado, por prever a demolição ou transferência para outro local da antiga garagem de carros, prédio tombado em 2014. O desenho agora incorpora essa estrutura e também o armazém de exportação. "Esperamos que agora o projeto seja aprovado e as obras tenham início até o final do ano", disse o vice-presidente do Sindipeic.

De acordo com ele, o novo projeto, durante seu desenvolvimento, foi discutido com especialistas da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo para se adequar à legislação de preservação do patrimônio histórico. Será a primeira vez que a proposta do shopping popular será avaliada pelos novos membros do Condepacc, que tomaram posse em abril passado.

O conselho é um órgão deliberativo, criado em 1979, que tem como finalidade definir a política de defesa e proteção do patrimônio histórico, cultural e ambiental de Campinas. O órgão é formado por 54 membros, divididos igualmente entre titulares e suplentes, indicados pelo poder público municipal e sociedade civil, O mandato é de dois anos. Entre os participantes estão universidades, o Conselho Municipal de Política Cultural, Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Campinas (AEAC) e o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP).

NOVO PROJETO

De acordo com o vereador Carlinhos Camelô, o novo projeto será um pouco menor, terá o custo reduzido, mas manterá o número de boxes. Ele evitou, porém, dar detalhes, argumentando que aguardará a aprovação pelo Condepacc. Segundo ele, o valor da obra está em fase de orçamento pela construtora contratada. A proposta anterior previa que o centro de compras teria 51 mil metros de área construída, 1.688 boxes e um investimento de R$ 115 milhões.

A construção do shopping popular faz parte do projeto da Prefeitura para revitalização da área central. Serão transferidos para o empreendimento os camelôs hoje espalhados por seis pontos do Centro, entre eles as ruas Álvares Machado, Benedito Carvalho Pinto e Terminal Central. Uma animação da nova proposta apresentada pelo vice-presidente do Sindipeic mostra o desenho arquitetônico inspirado em um trem, com o espaço ocupado pelos boxes sendo os vagões e uma parte a ser construída remetendo a uma locomotiva.

Ela mostra ainda que o shopping ocupará o vão existente da antiga garagem de carros, ponto de discórdia que levou ao veto do projeto anterior. O desenho atual mostra uma construção alta que preserva o esqueleto do galpão, inclusive a parte de ferro da armação da cobertura, que passa a ter a função de um pergolado para a área de alimentação.

A coordenadora de Extensão Cultural da Prefeitura, Fabíola Rodrigues, destacou que o galpão de carros da Companhia Mogiana, que depois foi incorporado pela Fepasa, foi tombado pelo Condepacc em 2014, o que impede a sua demolição. Ela explica que, apesar de suas linhas arquitetônicas simples, o prédio tem uma grande importância histórica por ter feito parte de processo de industrialização da cidade.

O futuro shopping popular deverá abrigar os camelôs que hoje estão instalados em seis diferentes pontos da área central de Campinas (Rodrigo Zanotto)

O futuro shopping popular deverá abrigar os camelôs que hoje estão instalados em seis diferentes pontos da área central de Campinas (Rodrigo Zanotto)

"Nesse galpão foram construídos os carros [vagões para transporte de passageiros] usados na única linha férrea que se dirigia a Brasília em sua inauguração e que partia de Campinas. Abrir mão dele é jogar a história no lixo", afirmou o historiador Henrique Anunziata, da Coordenadoria Departamental de Patrimônio Cultural (CDPC), órgão da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Ele destacou ainda que o prédio, executado entre 1954 e 1955, usou técnicas de construção consideradas inovadoras para a época.

Até então, o padrão era o uso de tijolo, cimento e pedra. Já o galpão foi erguido com estrutura de ferro presa com parafusos, o quer permitiu ter pé direito alto e um grande vão para a produção dos carros. O galpão está hoje tomado por lixo; muitas telhas de amianto, que não são as originais da construção, estão quebradas e as paredes estão pichadas. Os cobertores espalhados e as marcas negras de fumaça nas paredes indicam que o espaço é usado por moradores em situação de rua para se protegerem do frio.

A presidente do Condepacc e secretária municipal de Cultura e Turismo, Adriana Caprioli, já admitiu a possibilidade de demolição apenas de edículas que ficam voltadas para a Rua Luiz Donizetti Rovaris, em frente ao Terminal Metropolitano Prefeito Magalhães Teixeira, por não terem valor histórico. O vereador Carlinhos Camelô disse que aguarda apenas a aprovação do projeto pelo Condepacc para dar entrada na planta na Prefeitura.

Porém, especialistas em patrimônio histórico já alertaram que a proposta também precisa ser avaliada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat), subordinado à Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, que também tombou a estação ferroviária, hoje conhecida como Estação Cultura. Isso porque os prédios históricos a serem ocupados pelo shopping dos camelôs ficam dentro da chamada área envoltória de preservação, representada por um raio de 300 metros ao redor da estação.

VISITA

O vice-presidente do Sindipeic publicou na quinta-feira (3) em suas redes sociais um vídeo em que visita a área onde está prevista a construção do shopping popular. Ele está acompanhado pelo vice-prefeito Wanderley de Almeida, o Wandão (PSB), e pela secretária de Cultura, além de representantes da pasta de Serviços Públicos e da empresa que tem a concessão para o transporte de cargas pela linha férrea.

Durante a visita, Carlinhos Camelô reivindica a demolição das edículas voltadas para a Rua Luiz Donizetti Rovaris. "Vou fazer uma indicação para que a gente derrube aquele espaço ocioso para que melhore a segurança do pessoal lá", afirmou o vereador. "Faça a indicação, a gente vai submeter à análise do Condepacc, da Cultura e tendo autorização, vamos demolir aquele trecho e limpar para a frente do terminal ter vida e poder garantir a segurança de quem passa por ali", disse Wandão.

De acordo com a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU), cerca de 60 mil passageiros passam diariamente pelo Terminal Metropolitano. O número é equivalente a quatro vezes a toda população da cidade de Holambra, que é de 15,1 mil habitantes, de acordo com o Censo 2022.

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