Duas gestantes campineiras denunciaram na Polícia Civil procedimentos feitos no Caism, e que resultaram na morte de um bebê e na necessidade de interrupção de outra gestação
A direção do Hospital da Mulher vai investigar dois supostos erros médicos cometidos contra duas gestantes ( Cedoc/RAC)
A direção do Hospital da Mulher “Dr. José Aristodemo Pinotti”, o Caism, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), abriu nesta quarta-feira (22) uma sindicância para apurar dois supostos erros médicos. Duas gestantes campineiras denunciaram na Polícia Civil procedimentos feitos no Caism, e que resultaram na morte de um bebê e na necessidade de interrupção de outra gestação. Os dois boletins de ocorrência foram registrados no 4º Distrito Policial. A primeira jovem, com nove meses de gestação e às vésperas do parto, começou a sentir fortes dores abdominais no dia 15, e foi levada às pressas pelo namorado ao Caism. Lá, ela passou por uma consulta com a plantonista e foi informada que o mal-estar é normal no final da gravidez. Ela alega que foi medicada contra a cólica e liberada para voltar para casa, apesar de estar com a pressão alterada. No dia seguinte, no entanto, ela afirma que “parou de sentir” o bebê. Correu para o Caism, foi examinada e informada que tinha perdido a criança. “Eu deveria ter sido internada na hora. A médica foi irresponsável ao me mandar para casa”, afirmou a paciente. A outra jovem, com apenas 19 anos de idade, foi levada ao Caism depois que médicos do Hospital Mário Covas, em Hortolândia, descobriram que ela tinha pólipos no útero. Como os nódulos ameaçavam a gravidez, ela foi orientada a fazer o pré-natal na Unicamp. Dia 6, ela passou pela primeira consulta. Dia 14, em nova consulta, a equipe que a atendeu decidiu fazer uma pequena intervenção cirúrgica e remover os nódulos. No entanto, o médico admitiu ter cometido um erro durante o procedimento, que provocou o rompimento da bolsa. A jovem está no quinto mês de gravidez, mora com o companheiro há dois anos, e conta que passou a ser pressionada no Caism a autorizar um aborto induzido, com a alegação que mãe e bebê correm risco de morte. Para a mãe da jovem, ouvida ontem pela reportagem, o rompimento da bolsa foi provocado pelos médicos, e é nítida a falta de empenho da equipe em salvar a criança. A gestante passou por ultrassom recente, o bebê está bem, ganhando peso, e nada justifica um aborto.InvestigaçãoA direção do Hospital da Mulher informou ontem, em nota, que a paciente com nove meses de gestação foi atendida no dia 15 de julho no pronto atendimento do Caism queixando-se de dores abdominais e cefaleia. Foram realizados os exames necessários naquele momento. A paciente foi medicada e dispensada. No dia seguinte, ela retornou e, após a realização de novos exames, foi constatado o óbito do feto. Diante desse quadro, a paciente foi internada para a realização de indução do parto. A outra jovem grávida, com cinco meses de gestação, deu entrada no hospital no dia 14 de julho para consulta pré-natal. Ao ser examinada, constatou-se lesões no colo do útero, que foram submetidas a biópsia. Durante o procedimento ocorreu a ruptura da bolsa. Diante desse quadro, a paciente foi internada, medicada e segue em observação. Estão sendo realizados exames para avaliar o estado clínico da mãe. Constatado o risco para a saúde da gestante, será necessária a interrupção da gravidez, mediante autorização prévia da família. A direção do Caism lamentou profundamente o ocorrido e determinou a instauração de sindicância para apurar os dois casos e tomar as medidas cabíveis.